VEJA VÍDEO: Há filmes que parecem viagens e viagens que se assemelham a filmes. A nossa, à Paraíba, tem todos os ingredientes cinematográficos

 

Paraíba é capa em revista internacional de turismo

Mirante do Castelo da Princesa, municipio do Conde, Joao Pessoa Julho de 2015 fotografia: Marisa Cardoso
Mirante do Castelo da Princesa, municipio do Conde, Joao Pessoa
Julho de 2015
fotografia: Marisa Cardoso

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localidade de Areia Julho de 2015 fotografia: Marisa Cardoso
localidade de Areia
Julho de 2015
fotografia: Marisa Cardoso

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capa

 

A revista de bordo UP Magazine elegeu a Paraíba como a capa do mês de outubro, é a primeira vez que o estado da Paraíba estampa a capa da publicação que tem mais de 1 milhão de exemplares a cada tiragem.

 

Confira o texto que fala um pouco das beleza naturais do estado e sobre a nossa cultura:

Paraíba
Há filmes que parecem viagens e viagens que se assemelham a filmes. A nossa, à Paraíba, tem todos os ingredientes cinematográficos. Paisagens de cortar a respiração, mar de um tom entre o verde e o azul difícil de explicar, romances de cordel, cenários reais que já serviram de set a várias longas-metragens brasileiras, forró e um São João que arrasta multidões em Campina Grande. O catering foi fornecido pela descomplexada gastronomia nordestina, acompanhada da tradicional cachaça de engenho do Brejo. Como um filme ao ralenti, os dias ali passam devagar, o coração desacelera e a alma mergulha na serenidade.

1 – NO RASTO DA HISTÓRIA

Estamos na estação das chuvas, mas como o sol queima, enganamos o roteiro. Em vez de pelo centro histórico, começamos pela praia de Cabo Branco. No caminho aprendemos que, quando os portugueses aqui chegaram, encontraram uma terra de fronteira entre os índios tabajares e potiguares. Mas isso foi em 1585, quando a cidade despontou nas margens do rio Sanhauá, afluente do Paraíba. Com o nome de Nossa Senhora das Neves, nasceu logo como cidade, sendo considerada a terceira mais antiga do Brasil. Durante o reinado de D. Filipe I foi Filipeia de Nossa Senhora das Neves e durante a invasão holandesa respondeu pelo nome de Frederikstad durante 20 anos. Com a saída dos holandeses passou a chamar-se Paraíba do Norte. Só na década de 30 recebeu o nome que tem hoje, João Pessoa, depois do assassinato do governador homónimo que combateu o caciquismo local.

Mas o dia é de sol e de mar cristalino e dirigimo-nos à principal atração turística da cidade: a praia do Cabo Branco, com uma vista singular para a Ponta do Seixas e respetiva praia, o extremo mais oriental das Américas. A banda sonora que o “camelô” nos propõe é o instrumental de “Manhã de Carnaval”, do filme Orpheu Negro, de Marcel Camus. Ali está situado o farol cuja forma lembra um pé de sisal.

Na sorveteria Paraíbana, Célia Bezerra garante que o sol nasce primeiro neste lugar e que aqui se vende o coco mais oriental das Américas. Refrescamo-nos do calor com os típicos sorvetes de caipirinha e mandioca.

 

2 – CAPITAL ADENTRO

Estreamo-nos no centro de João Pessoa na avenida Epitácio Pessoa. Epitácio era tio do político que dá nome à cidade. Também ele político, foi Presidente da República do Brasil entre 1919 e 1922. Segundo João Wharles, o nosso guia, “terá sido ele que mostrou ao mundo que o Brasil não era só o país do café, mas um país gerador de cultura e de artistas como Alfredo Volpi, Cândido Portinari ou Tarsila do Amaral. Nascida nos anos 30, esta que era a Avenida dos Casarões hoje conta apenas com meia dúzia deles para amostra. Para compensar são muito bonitos e majestosos. A propósito de coisas bonitas, desaguamos na Casa do Artista Popular. A funcionar desde 2006, este museu conta com 6 mil artistas a integrar o projeto Paraíba nas Mãos, que promove o desenvolvimento do artesanato paraibano. O casarão, na Praça da Independência, representa as tradições culturais da região. Lá encontramos mandalas com bruxinhas de pano de unhas pintadas, o gibão de couro usado pelo vaqueiro e os animais de Lucinha dos Bichos. Feitos em cerâmica, os animais fazem parte do quotidiano da artesã.

Casa do Artista Popular \\\ www.casadoartistapopular.pb.gov.br

I – Traço do Arquiteto

Na Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura e Artes, sentamo-nos à frente do Painel “No Reinado do Sol”, de Flávio Tavares, onde se vê pintada a história da fundação de João Pessoa e a conquista da Paraíba. Neste quadro tropical, encontramos paraibanos ilustres como Adriano Suassuna, autor da peça O Auto da Compadecida, José Lins do Rego, escritor que nos mostrou como era a vida de Menino do Engenho, Augusto dos Anjos, cuja morte prematura deixou apenas que escrevesse Eu e as Minhas Poesias, mas também a cidade dos cabarets, porque os senhores do engenho mandavam vir meninas de Paris para os distrair na Paraíba. Ao fundo está o mar onde chegaram as caravelas portuguesas. Projetada por Oscar Niemeyer, a Estação, inaugurada em 2008, tem o propósito de trazer ciência, cultura e artes grátis à população. Pela sua estética é um dos postais da cidade.

http://joaopessoa.pb.gov.br/estacaocb

II – Mega-espaço cultural

Há quem lhe chame o Centro Georges Pompidou da Paraíba. E, de facto, o Espaço Cultural José Lins do Rego, do arquiteto Sérgio Bernardes, “contempla todas as linguagens artísticas do Brasil”. Desde a Praça do Povo, que recebe livremente grupos de capoeira, até ao Museu. O espaço dispõe ainda de vários teatros, planetário, auditórios e escolas de música e tem orquestra sinfónica própria, entre outros equipamentos. Veja a programação em

www.facebook.com/funescgovpb

III – Expoente barroco

Antes que a tarde caia visitamos o Centro Cultural de São Francisco, cujo complexo inclui o antigo convento de Santo António e a Igreja de São Francisco. Dizem que é dos mais belos exemplares da arquitetura barroca no Brasil e, de facto, a energia do lugar deixa-nos a flutuar como anjinhos barrocos. Com “a” vista para o rio Sanhauá, o complexo inclui ainda o Convento de Santo António, construído em 1589. Os holandeses usaram-no como fortim, e depois da sua expulsão do Brasil o edifício foi ampliado pelos franciscanos, já no século XVIII. A capela dourada, a casa de oração, o claustro e os azulejos da nave e altar-mor são desse período. Durante 300 anos funcionou como convento franciscano, mas a partir de 1894 passou a diocese. Foi seminário, escola pública e hospital militar. Desde 1990 que é um centro cultural onde se realizam de exposições a casamentos.

www.igrejadesaofranciscopb.org

IV – Casa da Pólvora

Incluída na rota da Cidade Alta, a Casa da Pólvora foi mandada construir por D. João V. Concluído em 1710, este marco da história colonial é palco de exposições e recebeu este ano o Pólvora Jazz Festival.

V – Ainda no Centro Histórico

No bairro do Varadouro admire o colorido dos sobrados art déco da Praça Antenor Navarro. Siga para a praça vizinha, São Frei Pedro Gonçalves, onde fica a igreja homónima cujas ruínas devem ser visitadas, e o casario à volta que nos remete para épocas remotas. Destaque para o Hotel Globo, que foi o primeiro da cidade. Para ver mais casario colonial é percorrer a Rua Duque de Caxias, que desagua na Praça João Pessoa. Nesta praça ficam situados o Palácio do Governo e a Assembleia Legislativa. Ao lado, na Praça Venâncio Neiva, fica o Pavilhão do Chá, mandado erguer pelo governador João Pessoa para servir o chá das cinco.

VI – Um bolero para a Paraíba…

O pôr do sol é na praia fluvial do Jacaré. À tarde, quando o sol dá os últimos suspiros, o saxofonista Jurandy do Sax toca oBolero de Ravel nas águas do rio Paraíba. O espetáculo fica completo com a Avé Maria de Schubert. O momento tem o seu encanto. Há todo um negócio de catamarãs que a esta hora se enchem de turistas. Cá fora fica uma rua improvisada de barraquinhas de artesanato onde figuram chapéu de cangaceiros iguais ao de Lampião, espanta-espíritos e uma série de artefactos de algodão colorido, matéria-prima nascida em Campina Grande. Perdemo-nos de amores pelo Art Container, onde, além de esculturas locais, encontrámos t-shirts xilogravadas.

www.facebook.com/pages/Artcontainer-Artesanatos-Regional

VII – “A Paraíba em Suas Mãos”

Tire uma manhã só para ver artesanato. No bairro de Tambaú visitámos o Mercado do Artesanato Paraibano e fizemos uma espécie de jogo: tentar encontrar ali peças que tínhamos visto na Casa do Artista Popular. Achámos as bonecas de Nené Cavalcanti, peças de algodão colorido e as rendas da Paraíba. Mas nem sinal dos totens coloridos de Guariguazi. Pedimos então para ir conhecer o seu ateliê. Em João Pessoa toda a gente se conhece, e o guia conseguiu-nos um encontro de última hora. A fotógrafa não resistiu e atravessou o Atlântico com uma escultura do artista paraibano.

VIII – Picãozinho e Areia Vermelha

Mergulhar em piscinas naturais formadas por recifes de corais que se mostram nas marés vazias é a grande atração dos dois passeios. Deverá fazê-los em dias de lua cheia ou lua nova, porque nesse período as águas ficam mais transparentes. Para lá chegar é preciso apanhar um barco durante a maré baixa. Para Picãozinho, o catamarã sai da praia de Tambaú. Para Areia Vermelha, os barcos partem da Praia de Camboinha, em Cabedelo (no litoral sul).

 

3 – TANTO MAR

A sul de João Pessoa, as praias do Município do Conde parecem ter sido pintadas pelo impressionista Paul Gauguin. Encontramo-nos com Rodrigo Egito na loja familiar Doces Tambaba. “Mulher é que nem formiga, adora doces”, lembra o inspirado guia local. Na venda de Luísa, Nevinha e Luciana, há doces de muitas frutas tropicais. Da goiaba à banana com rapadura.

Seguimos agora por estradas cor de tijolo. A viagem começa na Praia Bela e tem direito a várias bandas sonoras de clássicos do cinema. De 007 a Indiana Jones, passando por Rei Leão. Na 4×4 batizada como Penélope Charmosa passamos revista às praias do Conde, vistas do alto da falésia. As incríveis formações rochosas destes canyons receberam nomes efabulados como Mirante do Castelo da Princesa ou Dedo de Deus. Fé e imaginação é o que não falta por estas bandas. Depois da Praia de Coqueirinho segue-se a visita à Praia de Tambaba, que além da sua beleza natural é a primeira praia naturista do Nordeste brasileiro. Para lá entrar é preciso ir como se veio ao mundo. À tarde conhecemos a Praia do Amor. Os apaixonados cumprem o costume indígena de passar por baixo de uma pedra em forma de coração para terem um final feliz.

www.costadocondepb.com.br

I – O que fazer

As praias da Costa do Conde conservam aquele ar de paraíso perdido, ladeadas por coqueiros onde apetece passar o resto da vida no dolce far niente. Há, contudo, um sem fim de programas que se podem fazer na região: trilhos ecológicos, passeios de cavalo ou de caiaque.

O mar é generoso para o surf e kite surf. A 27 de Novembro – noite de lua cheia – é esperado um luau na praia de Tabatinga, onde os protagonistas são os frutos do mar e a roda de coco.

II – Resgatar o passado

Visita obrigatória é a da Comunidade Quilombola, onde, numa casa de taipa, mora também o Museu Quilombola do Ipiranga. Lá dentro, damos de caras com a atmosfera que se vivia nos quilombos (locais de refúgio de escravos africanos). A terra foi concedida pelo Imperador D. Pedro I a sete famílias negras, há mais de 150 anos. Hoje é a morada de 122 famílias que vivem da agricultura de subsistência, da pesca e do artesanato. As netas de Lina Rodrigues, a primeira professora da Comunidade mantêm viva esta e outras memórias. No último sábado do mês realiza-se ali a dança do Coco de Roda. As letras das músicas falam da luta dos negros. Nesse dia cabe às crianças do quilombo fazerem visitas guiadas ao museu.

4 – FOMOS PRO BREJO

A nossa incursão pelo Brejo Paraibano inclui paisagens muito verdes numa terra fértil onde se cultiva sobretudo cana de açúcar, mas também mandioca e banana. Conhecida pelos engenhos de cachaça, outra atração desta região serrana é a Rota Cultural dos Caminhos do Frio, que se realiza entre os meses de julho e agosto, quando os termómetros atingem os 12 ºC. Ora, sentir frio no Brasil é quase uma sensação exótica! Nesta época, pelas cidades de Bananeiras, Areia, Serraria, Pilões, Alagoa Nova e Alagoa Grande acontecem vários eventos culturais com enfoque na gastronomia, artesanato, ecoturismo e desporto. Mas a região deve ser visitada em qualquer altura do ano. Dos engenhos de cachaça aos casarões, passando pelas cachoeiras e caminhos pedestres, esta é uma viagem no tempo para saborear devagar.

I – Bananeiras

Bananeiras tem aquele encanto de cidade do interior. Ajuda a coleção de casarões – como o Casarão das Meninas –, cujas fachadas parecem pertencer a um filme de época, uma vez que o município chegou, em meados do século XIX, a ser um dos maiores produtores de café do nordeste. A Igreja de Nossa Senhora do Livramento merece visita, assim como o que resta da antiga Ferrovia, que inclui o túnel da Serra da Viração. Hoje, a estação é um restaurante onde se pode comer, ou levar para casa, todo o seu conteúdo. Outra atração de Bananeira é a tapioca do Serginho, que fica ao lado da Choperia Esquina de Casa.

II – Engenho Goiamunduba

A oito quilómetros de Bananeira fica a nascente da cachaça Rainha Paraibana. Neste engenho produz-se cachaça artesanal desde 1877. O engarrafamento é feito manualmente, por mãos femininas, assim como a lavagem, colocação de rótulos, lacre e selo de autenticação. Segundo a legislação brasileira, a Rainha Paraibana, por ter uma graduação alcoólica de 50% não pode ser chamada de cachaça mas sim de aguardente de cana. Mas isso é apenas um pormenor. O gerente, Hélio da Silva, assegura que “Rainha ninguém toma no silêncio. Toma-se para dar coragem, pedir moça em casamento, dançar forró ou fazer as pazes com a mulher”.

www.facebook.com/CachacaRainha

III – Areia

Foi Pedro Américo, o grande ilustre da terra, o autor da pintura Independência ou Morte (comummente conhecido como “Grito do Ipiranga”). Areia orgulha-se do seu filho, e transformou a casa onde este nasceu num pequeno museu, a Casa Pedro Américo, onde ficamos a saber um pouco mais sobre este pintor, naturalista, escritor e político, entre outros predicados.

Em tempos foi tida como a terra da cultura e recebeu o primeiro teatro – Theatro Minerva – inaugurado na Paraíba. As ruas e respetivos sobrados coloridos convidam ao passeio. Nelas encontram-se relíquias do passado, como a loja de Seu Américo. Ao balcão, Beatriz Berazzo recebe-nos com simpatia e conta-nos histórias remotas da cidade. Afinal são 94 anos de vida.

IV – Destilaria Triunfo

Quando Augusto anunciou a Maria Júlia que iria ter a melhor cachaça de Areia, ela decidiu casar-se com ele. Já lá vão mais de 20 anos. Em 2001, a cachaça Triunfo era colocada no mercado. A matéria-prima é comprada a produtores da região para incentivar a economia local. Depois de moída, fermentada e destilada, a cachaça descansa no mínimo seis meses e no máximo um ano e meio. Foi Júlia Baracho que batizou a cachaça de Triunfo. Porquê? Por ser um nome de sucesso. A empresa produz 250 mil garrafas por mês e exporta cachaça para o mundo inteiro.

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5 – NO CARIRI

O Cariri já cheira um bocadinho a Sertão. Também pode dar-se o caso de sermos nós a desejar que a paisagem corresponda à sede do nosso imaginário. Mas a terra árida, povoada por pequenas matas chamadas caatinga, com grupos de cabras a roer o chão, transporta-nos para os tempos de cangaço ou, quanto mais não seja, para clássicos do cinema brasileiro como O Auto da Compadecida, de Guel Arraes. Descobrimos personagens reais como Pai Mateus, cuja vida foi passada num lugar ermo, hoje palco de aventuras, trilhos pedestres, percursos de BTT e escalada.

I – Cabaceiras, a Roliúde Nordestina

Maria Sandrely Soares espera-nos na praça central desta cidade cenário. A guia local mostra-nos orgulhosa o casario histórico com mais de 100 anos, cujas fachadas preservadas nos lembram imediatamente as aventuras de João Grilo e Chicó em O Auto da Compadecida. O autor da peça de teatro, Adriano Suassuna, ter-se-á inspirado “na cidade de Taperoá, mas Cabaceiras foi escolhida por ser a cidade onde menos chove no Brasil e também por ser a mais preservada”.

Passamos pela Igreja de Nossa Senhora da Conceição e São Bento, outro dos sets desta trama, e também pela casa de caridade do Padre Ibiapina, onde eram recolhidas as meninas que eram abandonadas pelos desvalidos da seca. Talvez por causa do sol abrasador, a ficção e a realidade confundem-se por estas paragens. Detemo-nos um pouco no Memorial Cinematográfico de Cabaceiras, um fiel arquivo de artigos de jornal e cartazes dos mais emblemáticos filmes realizados aqui. Desde o mais antigo, A Ferração de Bodes – de 1924 –, de Walfredo Rodrigues, a Canta Maria, de Francisco Ramalho Júnior. No Museu Histórico do Cariri Paraibano, situado na antiga casa do prefeito, encontramos artefactos, relíquias e até a réplica de uma cozinha local. O encontro mais inusitado da manhã é com Seu Zé de Cila, que mal nos alcança segreda: “O padre sou eu. Ser duplo de Rogério Cardoso em O Auto da Compadecida foi uma coisa maravilhosa que Deus me deu”. A sua loja do Bode Rei vende tudo, da cachaça ao chapéu de cangaceiro, mas, segundo o próprio, é ele a atração principal. “O brasileiro de ponta a ponta me procura aqui.” A Festa do Bode Rei, no último fim de semana do mês, é a outra grande atração do lugar.

II – O Lajedo do Pai Mateus

“O” cenário é o Lajedo do Pai Mateus. As cenas do cangaceiro Severino, no filme mais acarinhado pelos cabaceirenses, foram ali filmadas, entre outras muitas fitas da Roliúde nordestina. Mas seria redutor resumir o lugar a um setcinematográfico. O lajedo é uma elevação rochosa de 1,5 km2, cuja forma parece um prato de sopa invertido e sobre a qual estão espalhados mais de 100 blocos de granito que compõem uma paisagem absolutamente lunar e invulgar. Dizem que ao pôr do sol o lajedo fica alaranjado, e há quem tenha tido experiências místicas no lugar. Romero Farias, o guia que nos ajuda no reconhecimento de terreno, não tem dúvidas que esta é a “primeira maravilha ecológica da Paraíba, formações geológicas como esta só existem na Namíbia e na Austrália”.

III – A lenda

Segundo a tradição oral, o Pai Mateus foi um curandeiro que habitou no lajedo em meados do século XVIII. Conta a lenda que morava numa espécie de gruta. Nela, ainda hoje se encontram vestígios de impressões humanas. Há quem defenda que são inscrições rupestres feitas por índios que habitaram a região há 3 mil anos.

IV – Saca de Lã

A fotogénica Saca de Lã foi batizada com este nome por se assemelhar aos pacotes de algodão empilhados de Campina Grande. Olhando para a formação destas pedras gigantes, encaixadas de forma irrepreensível, o guia brinca que “as pirâmides do Egito se inspiraram neste lugar”

 

6 – CAMPINA GRANDE

A 120 quilómetros da capital fica Campina Grande. É a segunda maior cidade da Paraíba, sendo considerada um dos grandes polos tecnológicos, universitários e industriais do Brasil. Nos últimos anos tem-se afirmado também no empreendedorismo. Mas não será por isso que gosta menos de festa ou de organizar grandes eventos. Não é à toa que reclama ter o palco do maior São João do mundo. Durante os 30 dias de junho há festa rija na terra. Espetáculos, danças e quadrilhas. Tivemos a sorte de conhecer a Moleka 100 Vergonha, que foi considerada a melhor quadrilha junina do Brasil.

Em 1697, Teodósio de Oliveira Lêdo povoou estas verdes campinas com a tribo dos índios Ariús. Cerca de um século mais tarde foi elevada a vila com o nome de Vila Nova da Rainha, em homenagem a D. Maria I, mas a população continuou a chamar-lhe Campina Grande. A vila cresceu à conta dos tropeiros que abasteciam os impérios do Nordeste e que paravam as mulas no açude velho para descanso. A chegada do caminho de ferro, em 1907, impulsionou a exportação de algodão. Nos anos 40 era a segunda maior do mundo. Conheça estas e outras histórias no Museu de História e Tecnologia do Algodão, situado na antiga estação.

I – Museu de Arte popular da Paraíba

Apesar do nome oficial, é conhecido como Museu dos Três Pandeiros por causa do desenho e tem a particularidade de ser a última obra de Oscar Niemeyer. O projeto, inspirado nas formas do pandeiro, está dividido em três partes: a sala do cordel, dedicada ao romance de cordel e aos cordelistas e repentistas; a sala da música, que conta a história do forró (destaque para Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga e Maria Inês); e o núcleo do artesanato, que apresenta produtos autóctones como algodão colorido, cerâmica e couro.

Rua Dr. Severino Cruz, Campina Grande \\\ +55 83 3310-9738

 

7 – MESA FARTA

“De Sergipe ao Ceará há uma tradição gastronómica comum”, defende o guia. O facto de haver uma culinária semelhante – com as suas particularidades – tem na base razões históricas. No período colonial, a capitania de Pernambuco integrava também os estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas e uma parte ocidental da Bahia. Como no resto do Nordeste, a culinária típica resulta da mistura das culturas que povoaram estas terras desde a sua fundação. A mandioca é herança dos índios, já com os escravos veio a cana de açúcar e o uso de peixes e outros “frutos” do mar.

Na costa, os soberanos são os pratos de peixe, camarão, caranguejo e muito molho de coco, caldinhos e ensopados. Mal nos adentramos pelo estado, a carne de sol ganha terreno, assim como a carne de bode e a galinha de cabidela. A buchada de bode é um petisco verdadeiramente paraibano. Outra delícia é o queijo coalho assado na chapa ou dentro da tapioca ao pequeno-almoço. Fica excelente com mel ou com doce. Receitas com milho também são muito comuns na região, tal como o cuscuz, a canjica ou a pamonha. Esta vem acompanhada com manteiga da terra. A rapadura, a paçoca e a cocada fazem parte da doçaria da região. As frutas da região também fazem parte do cardápio quase o ano inteiro. Destaque para o abacaxi, a acerola, a cajá, o caju, o coco verde, a manga e a mangaba.

I – Canoa dos Camarões

Ao leme está o paulistano José Lira. Perante um menu com mais de 60 pratos, decidimos investir num “simples” rodízio de camarão, onde o provamos de 1001 maneiras. A lagosta grelhada, a moqueca mista e a pescada amarela com camarão são os pratos mais procurados.

Av. João Maurício 121, João Pessoa \\\ www.canoadoscamaroes.com.br

II – Casa Roccia

A cozinha contemporânea de Onildo Rocha é deliciosa. O menu da noite inclui ceviche de carne de sol, bolinho de feijão verde e cappuccino de cogumelos, só para entrar. Seguimos com vieiras com puré de beterraba e arroz vermelho com lagosta. É difícil arranjar estômago para o confit de pato. Saímos com bolo de macaxeira e caramelo de rapadura. A revistaPrazeres da Mesa tem-no como um dos cinco melhores do Nordeste.

Av. Capitão João Freire, 1080, João Pessoa \\\ www.casaroccia.com.br

III – Mangai

“Mangai é uma expressão popular usada nas cidades do interior para designar uma feira.” A mãe de D. Leneide não a criou para ser feirante, mas se há alguma feira aqui é a do palato. São mais de 200 receitas servidas em buffet e pesadas ao quilo. Provámos a buchada de bode, a pamonha com manteiga da terra e a cartola, feita com banana, queijo e canela.

Av. Edson Ramalho, 696, João Pessoa \\\ www.mangai.com.br

IV – Tasca da Esquina

Ao Jornal da Paraíba, o chefe português Vítor Sobral disse que, em João Pessoa, ao ver o mar, pensou: “Acho que é um bom lugar para fazer uma tasca”. Passado mais de um ano sobre a inauguração do seu restaurante, a sala está cheia e os comensais com um ar satisfeito. O seu sócio, Pedro Graça, diz que a ementa aproveita produtos dali, como o peixe da Paraíba. Mas o caldo verde e o arroz de pato transportaram-nos de volta à nossa terra. Já o pudim abade de Priscos com molho de maracujá devolveu-nos ao Brasil.

Av. Pombal, 255, João Pessoa \\\ www.tascadaesquina.com

V – Degustar

Uma espécie de bistrô onde a cozinha francesa e italiana andam de mãos dadas, sem esquecer o toque tropical. A carta de vinhos é completíssima e as paredes da casa não nos deixam mentir.

Av. Sapé \\\ João Pessoa \\\ http://restaurantedegustar.com.br

VI – Marítimos

O convite é que embarquemos no melhor da gastronomia. E os pratos do mar são mais que muitos. Só de camarão há 14, mas os mais queridos são a paelha, a lagosta Thermidor e o bacalhau navegante.

Av. Antônio Líra, 786 \\\ www.maritimosrestaurante.com.br

VII – Canyon de Coqueirinho

“Saiba que a especialidade do paraíso são os frutos do mar”, assim afiança a bem-disposta Ana Luísa Mendonça. As moquecas vão deixar saudades. Aprendemos, contudo, que o siri mole frito é dos pratos que tem que se comer antes de morrer. Missão cumprida. Peça para o provar com o piripíri da casa.

Praia de Coqueirinho, Conde \\\ www.restaurantecanyon.com

VIII – Tropicália

Com olhos postos no oceano, experimente o caldo de peixe deste restaurante especializado em frutos do mar. A caldeirada de Pérola Negra e o manjar de coco com calda de morango foram uma agradável surpresa.

Praia de Coqueirinho, Conde \\\ www.facebook.com/tropicaliacoqueirinho

IX – Flor do Mangará

Neste self-service virado para a cozinha regional surpreende-nos o tempero franco da rabada de boi de D. Verónica Lucena. À hora da sobremesa as surpresas continuam com a peteca, um bolo cujo ingrediente principal é banana.

Rua Coronel Antônio Pessoa, 396, Bananeiras \\\ +55 83 9179 7027

X – Manoel da Carne de Sol

O segredo de saber apresentar a carne de sol no ponto reside aqui. Não admira que nos seus 54 anos de vida tenha visto Caetano, Gil e Luiz Gonzaga deliciados. Temperada com cominhos, a linguiça caseira é de comer e chorar por mais.

Rua Félix Araújo, 263, Campina Grande \\\ +55 83 3321 2877

texto Maria João Veloso fotos Marisa Cardoso