praia naturista

'Sem roupa, com menos vergonha e com novos amigos pelados' : um olhar diferenciado de Tambaba- VEJA VÍDEO

 

Estar em uma praia naturista, nome hipster para praia de nudismo, é esquisito. E não sou só eu quem acha, não. Os funcionários do quiosque demonstram que acham esquisito quando falam comigo olhando fixamente para os meus olhos sem piscar. É quase como
um aviso: “veja, eu só estou olhando para os seus olhos, só para os seus olhos, Ok? Olhos. Somente olhos!”

É esquisito para os homens, parece. Sempre que eles se cruzam, se cumprimentam -coisa que em meus 24 anos de praia nunca vi acontecer quando os dois protagonistas do diálogo estão de sunga. O cumprimento me parece um pedido de autorização para medir
o falo alheio, coisa que é impossível não fazer em uma praia de gente pelada. “Opa, tudo bem, olhei para o seu pênis mas não foi a intenção, beleza, mano?”.

Isso acontece porque todo mundo que conheci durante os cinco dias em que fiquei hospedada em Tambaba (a 30 km de João Pessoa, na Paraíba) era curioso, e não naturista de carteirinha — me incluo na estatística.

Não tinha um que não parecia constrangido. Mas, como todo baile a ser seguido, permanecemos balangando nossos membros balangáveis pela esplêndida paisagem, mesmo não tão confortáveis. E que paisagem!

A praia, pequena, tem mar verde, agitado e morno, cheio de algas que grudam nas pernas. As pedras que se dispõem na costa formam pequenas piscinas, nas quais os naturistas tomam banho tranquilamente

Em Tambaba há uma única pousada pé na areia, que leva o nome da praia: Pousada Tambaba Naturista. Maria, a dona, vive nela há dez anos. E garante: “Se alguém vem adernar, eu boto pra correr”. Maria é divertidamente brava e doce: bateu na porta do  meu quarto, um dia, às nove da manhã, gritando que eu iria perder o café da manhã.

“Você veio pra cá pra hibernar, é?”. Um pouco, Maria. Numa manhã, um casal se aproximou de mim e do meu marido, que líamos nossos livros sem roupa, deu bom dia e perguntou de onde éramos. “São Paulo”, respondi e, rapidamente, voltei o olhar para o livro. “Nós somos de pertinho, Rondônia”. Risos constrangidos de todos os lados.

O resumo de uma praia naturista é uma série de cumprimentos e papos de elevador tentando quebrar o gelo que é ficar pelado na frente de um monte de gente. Logo na entrada da praia de Tambaba, tem uma placa que deixa muito claro: proibido uso de qualquer peça de roupa. Confesso que burlei a lei naturista algumas vezes porque 1) eu sinto frio e 2) eu não consigo tratar de assuntos sérios com funcionários da pousada com os peitos de fora. Me julguem, sou nada modernete.

Quando decidi tentar, depois de repetir algumas vezes pra mim mesma que o cara vê tetas todos os dias, vivenciei uma cena típica de comédia pastelão: da praia, é só subir uma escadinha pra chegar à pousada, coisa que decidi fazer logo depois de trombar um funcionário e pedir uma água de coco. De frente para a escada, estávamos nós dois. Ele me ofereceu passagem. Depois, percebeu que não seria boa ideia eu subir a escada pelada na frente dele. Tentou passar na minha frente. Trombamos. A trilha sonora desse momento era como um carburador engasopado. skiiiiiii, skuuuuu, skaaaaa. Desculpenão, digo, pode passar, digo… Fui na frente

A praia naturista de Tambaba é visitada por pessoas diversas: famílias — pai e mãe jovens e duas criancinhas jogando frescobol –, casais hétero, casais gays, grupos de amigos e idosos. Ah, e uma garota manauara de uns vinte e poucos, sozinha. Achei omáximo, um dia vou ser que nem ela. Seu nome é Camila e ela foi a única pessoa que não se constrangeu ao ficar sem roupa por ali. A mulher é demais, mesmo.

Quem nos apresentou foi Maria. Ela achou que a hóspede pudesse estar se sentindo sozinha e, olha só que boa ideia, decidiu que eu seria, para ela, uma boa companhia.

Mais um cumprimento à peladês, esse com beijinho e abraço, pra fechar com chave de ouro minha estadia em Tambaba: sem roupa, com menos vergonha e com novos amigos pelados.

Ou não: naquela noite, avistei, do quarto, pessoas se esfregando na praia. Não tenho muita certeza se era sexo, mas, se não era, era quase. Na mesma tarde, cruzei com umhomem que se masturbava em um cantinho. Entendi, ali, que o ser humano não sabe muito o que fazer com essa tal liberdade. Praia naturista não é balbúrdia.

Muitos entenderam. Poucos, não. De todo modo, a coisa é quase sempre legal: pra curtir, o lance é desencanar e passar
muito protetor na pepeca, dica de ouro que eu gostaria de ter recebido antes de vir pra cá. Restou-me o creme pós-sol.

Fonte: uol
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