1º disco solo

'Relacionamentos mudam com o tempo', diz Corey Taylor sobre Slipknot

Em entrevista ao G1, vocalista da banda de mascarados e do Stone Sour, explica por que levou mais de 20 anos para lançar projeto próprio: 'Eu tinha outras coisas acontecendo, sabe...'

Mesmo entre a divulgação de seu primeiro disco solo e o trabalho como vocalista de duas das bandas mais populares do metal dos últimos anos, Slipknot e Stone Sour, Corey Taylor encontra um tempo para atender a uma ligação de sua filha de 6 anos.

“Ela deveria estar na aula virtual. Eu não sei o que está rolando por lá”, diz o músico, enquanto ri e se desculpa pela interrupção na entrevista dada ao G1 por chamada de vídeo.

Sem problemas. Afinal, a vida de um cantor conhecido como “um dos caras mais ocupados do metal” não deve mesmo ter muitos intervalos.

Apesar do desvio de alguns minutos na conversa – ela tinha ganhado US$ 6 dólares de aniversário da avó e pensava em comprar “um boneco super gigantesco” ou “um unicórnio super gigantesco” –, ele se lembra rapidamente de que falava sobre “CMFT”, lançado nesta sexta-feira (2).

“Obviamente, tem uma parte dos fãs do Stone Sour que vai curtir, mas eu também acho que vai ter gente que cresceu ouvindo Slipknot e que agora está mais velha, e seus gostos amadureceram, e exploraram mais música.”

O disco, batizado com a abreviação de “Corey MotherFucking Taylor”, é o primeiro de uma carreira de mais de 25 anos, sem a companhia dos colegas de Stone Sour e de Slipknot.

“Eu tinha outras coisas acontecendo, sabe… (risos) Mas é, é algo que às vezes me vinha à mente, mas eu pensava: ‘eu estou ocupado com outras duas bandas’. Não é como se eu não tivesse fazendo coisas.”

Amizade e negócios no Slipknot

Para ele, o segredo para equilibrar tantos projetos ao mesmo tempo – além do Stone Sour, que fundou em 1992, ele participa ativamente de gravações de bandas de amigos, como Steel Panther e Anthrax – é manter o foco e o profissionalismo no que está fazendo.

Com a gravação de “CMFT”, Taylor buscava também mudar de ares. Em entrevistas recentes, tinha falado francamente sobre como não se divertia mais tanto com os companheiros de Slipknot, banda para a qual entrou em 1997.
“É difícil, e, claro, relacionamentos mudam com o tempo. Mas ao mesmo tempo também tem tanto carinho e apreciação pelos caras com quem você passou mais de 20 anos construindo”, afirma o vocalista.

“Mesmo que se torne um negócio na maior parte, você ainda tem aquela conexão quando sobe no palco. Então é legal ter os dois.”

Leia abaixo a entrevista completa:

G1 – Você é conhecido como um dos caras mais ocupados do metal. Fazer esse disco durante a pandemia foi uma maneira de honrar essa fama?

Corey Taylor – Nós íamos gravar isso em janeiro de 2021, depois de toda a turnê do Slipknot. Então tínhamos esse plano, mas daí obviamente aconteceu a Covid-19, e minha banda solo e eu tínhamos acabado de fazer uma rodada de gravações de demos e essas coisas.
Eu estava sentado em casa, tentando entender o que fazer, e então pensei: “E se eu gravasse o álbum agora?”. Obviamente fizemos tudo de uma maneira inteligente e correta. Tentamos fazer tudo seguindo as regras.
Não queríamos colocar ninguém em perigo, arriscar um ambiente infeccioso, mas também estávamos tão animados em gravar. Só fazia sentido correr e fazer da forma mais rápida e incrível possível, sabe?

G1 – Mas e as músicas do disco? Elas são novas ou foram escritas ao longo dos anos?

Corey Taylor – É um pouco de ambos, porque eu estou sempre escrevendo. Estou sempre trabalhando em algo. Com isso, essas canções vieram de uma pilha de músicas que eu escrevi ao longo dos anos.
Eram músicas que não funcionavam com nenhuma das bandas. Eram apenas músicas que eu tinha escrito para mim. Era uma questão de não estar concentrado em um projeto ou outro para realmente definir o que essas músicas eram.
Era apenas eu meio: “eu tenho uma ideia para uma canção”. Você escreve, olha pra ela e fala: “Não sei bem onde isso vai”. Então ela apenas vai pra pilha.

Quando eu comecei a pensar sério nesse projeto solo, eu não queria fazer uma nova versão de Slipknot nem do Stone Sour. Queria algo que parecesse novo, uma razão para fazer algo solo.

Por sorte eu tinha todas essas músicas. Algumas delas que são lá de trás, como “Kansas” e “Samantha’s Gone”, têm uns 10, 15 anos. Mas daí tem coisas como “Silver fish” e “Black eyes blues”, que eu escrevi nos últimos 3, 4 anos.
E outras como “Meine Lux”, que eu escrevi há seis meses, durante a turnê com o Slipknot. Parece um mundo de distância.
Então é um pouco disso, coisas que eu escrevi ao longo dos anos, que de repente pareceu o material correto para compartilhar com o público.

G1 – Ouvindo o disco é difícil de estabelecer um tema em comum, uma sonoridade. Isso foi proposital?

Corey Taylor – Esse é o tema. Não apenas a diversidade, mas meu foco principal era nas músicas. Apenas me certificar de que elas eram fortes.
Você pode colocar uma boa performance em qualquer coisa, mas se a música não chega lá, vai ser muito efêmera. Ela vai chegar e já ir embora, bem desse jeito.
Para mim, era mais importante me concentrar nas músicas, e basicamente dar o tom de que, bem quando você acha que sabe como será a próxima canção, não é desse jeito. Ela te leva em um passeio.

Para mim, essa é uma forma da velha guarda de fazer discos. Se você olhar para os anos 1970, 1980 e o começo dos 1990, esses álbuns te levavam a uma jornada musical.
Você nunca sabia onde o Led Zeppelin ia. Aonde o Aerosmith, Beatles, The Clash iam te levar. E isso era o que eu queria fazer. Queria que tivesse esse reflexo de um disco da velha guarda, que te leva a todas as direções possíveis que ele possa aguentar, e mesmo assim ainda pareça conectado, por causa das pessoas tocando, da produção, dos sons, das performances. Queria que fosse uma jornada diversa, que parecesse familiar e animadora.

G1 – Mas se estavam escritas há tempos e você já tinha a vontade, por que demorou tanto para lançar um disco solo?
Corey Taylor – Eu tinha outras coisas acontecendo, sabe… (risos) Mas é, é algo que às vezes me vinha à mente, mas

eu pensava: “eu estou ocupado com outras duas bandas”. Não é como se eu não tivesse fazendo coisas.
Foi algo que eu brincava de vez em quando, mas na maior parte do tempo eu ficava ok em fazer apenas Slipknot e Stone Sour, sabe. Mas, honestamente, quanto mais as pessoas me perguntavam a respeito, mais intrigante ficava e mais eu pensava que realmente devia.
“Eu tenho todas essas músicas que poderia usar, que não se encaixam em nenhuma das bandas, que não parecem com nada que eu já fiz antes. Talvez esse seja o caminho a seguir.” Por isso fui pra esse lado.

G1 – Você parece mesmo ter se divertido com esse disco. E os fãs? Qual dos seus grupos de fãs você acha que vai curtir mais?

Corey Taylor – É isso. Me deixar feliz primeiro, e então compartilhar com o público. É assim que eu levei minha carreira inteira. Se eu não estou feliz com algo, então o público não ouve.

Você deve sempre fazer música para si mesmo primeiro, e depois torcer para que o público se sinta da mesma maneira. No segundo em que você começa a atender os desejos de um público é o momento em que a sua música começa a se tornar algo que não é você.
Para mim, acho que a única coisa que posso realmente dizer é que o disco vai agradar a quem viu meus shows solo. As apresentações acústicas, as muitas participações que fiz com outras pessoas, porque eu tenho a tendência a variar muito nessas coisas.
Obviamente, tem uma parte dos fãs do Stone Sour que vai curtir, mas eu também acho que vai ter gente que cresceu ouvindo Slipknot e que agora está mais velha, e seus gostos amadureceram, e exploraram mais música.
Vamos dizer assim, eu fiz esse disco para… Espere um pouco. Acho que é minha filha ligando.
(Fala com a filha.)
Ela deveria estar na aula virtual. Eu não sei o que está rolando por lá. (risos)

G1 – Quantos anos ela tem?

Corey Taylor – Completou seis anos esse mês (em setembro). Mas do que estávamos falando?
Ah é. Sobre para quem esse disco foi feito. Vamos dizer que fiz esse disco para as pessoas da minha idade, sabe? Para ser honesto.
Porque sinto que as pessoas da minha idade, que cresceram com a música de uma certa forma, até nos acostumamos a tipos diferentes de música moderna, mas também podemos apreciar as músicas das antigas.

G1 – O que você anda ouvindo, então? Em uma entrevista disse que as pessoas não iam acreditar no que você ouve. Outro dia você gravou um cover muito bom de Elvis Costello, então imagino que ele esteja na lista.

Corey Taylor – Obviamente, são coisas com as quais eu cresci. Eu ouço muito Elvis Costello, muitas coisas que eu cresci ouvindo. Eu não ouço muito de coisa moderna, para ser honesto.

Ouço muito Steve Earle, do começo da carreira, mas também Slade e Van Halen. Eu tenho voltado muito e ouvido essas coisas como inspiração de muito do que eu ando escrevendo.
G1 – Com todos esse projetos, trabalhando com tantas pessoas diferentes, como fica o equilíbrio entre a diversão e o profissionalismo?

Corey Taylor – É difícil, sabe. No fim tem a ver com foco, prioridade. Quando você está fazendo uma coisa, é isso que você faz.
Tem que colocar prioridades. E cuidar para que o que estiver fazendo naquele momento tenha sua total atenção. É isso que eu tento fazer. Não me dividir demais. Me certifico de que o que eu estiver sentindo no momento é o que eu faço.
É difícil, e, claro, relacionamentos mudam com o tempo. Mas ao mesmo tempo também tem tanto carinho e apreciação pelos caras que você passou mais de 20 anos construindo, sabe.
Mesmo que se torne um negócio na maior parte, você ainda tem aquela conexão quando sobe no palco. Então é legal ter os dois.

G1 – Pergunto isso, porque outro dia você falou abertamente que não se diverte mais tanto com o Slipknot, mas não é como se tivesse algum problema com eles, me parece. Tanto que participou do podcast do Shawn (Crahan, conhecido no Slipknot como Clown, um dos percussionistas e fundadores da banda) para falar sobre o disco.

Corey Taylor – Essa é a base de tudo, sabe. Ainda somos todos muito próximos. Eu e Clown somos muito amigos. Não somos apenas irmãos na banda, somos grandes amigos.
Toda vez que nós estamos juntos ou conversamos. Ele é uma das minhas pessoas favoritas para conversar, porque nunca vai ser uma conversa sem graça.
Ele não é uma pessoa que acredita em tédio. Não é um cara que acredita em seguir o padrão. A mente dele é tão criativa e louca, que eu sei que vai rolar algo diferente, não importa o que seja, eu sei que vai rolar algo engraçado e inteligente e artístico e curtir com ele é muito massa, sabe? E isso nunca mudou.
Nos 23 anos que eu estou na banda, e até no tempo em que eu o conhecia antes disso, eu apenas sabia que esse era um cara com quem eu poderia falar pelo resto da minha vida. Ele é legal assim, um grande amigo.

G1 – Você ainda vai levar um tempo sem conseguir apresentar esse álbum ao vivo por causa da pandemia. Quando conseguir, qual Corey os fãs podem esperar no palco? O do Slipknot, do Stone Sour ou uma mistura?

Corey Taylor – Isso é interessante. Tem um pouco de mim com o Stone Sour ali, obviamente.
Mas, para mim, é muito mais sobre dar o tom de uma festa, do que qualquer outra coisa. Tentar canalizar aquela energia da velha guarda de shows do passado. Uma grande produção, mas real.
Não é um monte de caras no palco tocando com gravações, é um bando de caras no palco realmente tocando seus instrumentos e dando 110%.
Então para mim é a animação de novamente mostrar um outro lado meu. Talvez o lado que quem viu meus shows solo pode entender, que viu meus shows de cover, Corey Taylor and Friends, essa é a energia.

Subir no palco com esse sorriso meio irônico de deixar as pessoas participarem de um segredo que eu talvez nunca tenha compartilhado. Deixar pessoas entrarem em um mundo que eu não tive bem a chance de compartilhar. E agora é a hora.

G1 – Já faz um tempo de que você esteve no Brasil. Tem algum plano de voltar, seja com o disco ou com uma das bandas?

Corey Taylor – Estávamos planejando voltar, mas daí a Covid aconteceu. Eu estive aí com o Stone Sour há alguns anos.

G1 – Acho que a última vez foi com o Slipknot, em 2015.

Corey Taylor – Você talvez esteja certo. Eu podia jurar que fomos para algo. Às vezes é difícil. Muitas pessoas acham que a gente pode apenas marcar um show e ir para aí. Tem tantas engrenagens que devem se encaixar para a gente conseguir fazer um show aí.
Tem que ter o promotor certo, a disponibilidade do lugar, a disponibilidade do nosso ciclo de turnê. Porque, confie em mim, se pudéssemos iríamos para aí o tempo todo. Mas é quase como tentar acertar um alvo minúsculo com um dardo gigantesco.
Tem que ser o momento certo com as pessoas certas. Tem tanta coisa envolvida em turnês, as pessoas não entendem. Mas, como eu disse, se pudéssemos iríamos sempre. Os fãs são malucos. São tão incríveis, e nunca nos decepcionam.

Fonte: G1
Créditos: G1