REFERÊNCIA: Americanos vem estudar o Zika e a microcefalia na Paraíba

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Um acordo de cooperação internacional entre o Ministério da Saúde, Governo da Paraíba e o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (CDC) foi firmado para investigar a relação do vírus da zika com a microcefalia. Até o fim do mês, técnicos do CDC norte-americano devem chegar ao estado para trabalharem com pesquisadores locais no estudo.

Uma reunião entre representantes do Ministério da Saúde e da Embaixada dos Estados Unidos com o governador Ricardo Coutinho e gestores da Saúde estadual, foi realizada na tarde desta quinta-feira (11) no Palácio da Redenção em João Pessoa, sede oficial do Governo da Paraíba. O Governo do Estado e o CDC norte-americano irão trabalhar juntos para identificar casos e fatores associados entre o vírus da zika e a microcefalia.

“Uma criança que nasce em uma cidade do interior da Paraíba e que tem uma suspeita, uma confirmação caso de microcefalia, ele vem para uma das maternidades que integram essa rede, hoje são 21 maternidades que integram. Na maternidade, a equipe local da maternidade avalia a criança com o apoio de médicos especialistas, que ajudam na condução deste caso através de telemedicina. Esse trabalho é único no momento dentro do Brasil, inclusive está sendo avaliado pelo Ministério da Saúde e por alguns parceiros internacionais para ver se esse modelo seria um modelo interessante para ser expandido daqui da Paraíba para outros estados”, disse Sandra Matos, coordenadora da pesquisa na Paraíba.

Conforme a Secretaria de Estado da Saúde, Roberta Abath, a Paraíba vai utilizar a estrutura existente no estado e foi escolhido porque tem 95% de cobertura da natalidade e os primeiros casos relacionando o vírus da zika à microcefalia foram diagnosticados no estado.

Além disso, conforme ela, a Paraíba já vem desenvolvendo uma pesquisa de cardiopatia que será ampliada para neurologia relacionada à Zika. Roberta Abath informou que a pesquisa foi publicada, inclusive, no site da Organização Mundial da Saúde, chamando atenção de países como Austrália, Japão e Estados Unidos.

A pesquisa citada pela secretaria pode ser conferida no site da Organização Mundial de Saúde.
O ministro da Saúde, Marcelo Castro,anunciou nesta quinta-feira (11) uma parceria firmada entre o Instituto Evandro Chagas, sediado em Belém, e a Universidade do Texas, nos Estados Unidos, para desenvolver uma vacina contra o vírus da zika.

Segundo ele, a experiência das instituições pode encurtar o prazo de formulação do produto em laboratório para um ano. Depois, a vacina deve ser testada em animais e humanos por mais dois anos, antes de o imunizante ser aplicado em grande escala, de acordo com o ministro.

“O acordo que assinamos hoje é um passo importante para o desenvolvimento de uma vacina para o vírus Zika. A previsão inicial é que os pesquisadores brasileiros e americanos concluam o imunizante nos próximos dois anos. A Universidade do Texas Medical Branch foi escolhida por ser um dos principais centros mundiais de pesquisas de arbovírus, e um dos mais especializados no desenvolvimento de vacinas. Assim como o Instituto Evandro Chagas, que também é referência mundial como centro de excelência em pesquisas científicas”, afirmou o ministro da Saúde, Marcelo Castro.

REFERÊNCIA:

Médica paraibana tomou a iniciativa para confirmar relação entre o zika vírus e a microcefalia (Foto: Gustavo Xavier / G1)
O ano de 2016 pode ser “caótico” no Brasil por causa da proliferação do zika vírus . Essa é a previsão da médica paraibana Adriana Melo, especialista em medicina fetal e responsável pela iniciativa que acabou confirmando a associação entre o aumento no número de casos de microcefalia com a zika, inédita na medicina no Brasil. Segundo ela, não combater o mosquito vai acarretar problemas que vão além da malformação que vem afetando os fetos.

“De acordo com as pesquisas e os prognósticos feitos por nós, entre fevereiro e março do ano que vem todos os mosquitos Aedes aegypt poderão ter o vírus da zika. Atualmente, nem todo mosquito porta o vírus, mas com o passar do tempo vai ter a proliferação, caso não sejam tomada medidas drásticas. Parece que a população ainda não se deu conta da gravidade da situação”, afirmou a especialista.
Nesta sexta-feira (11) completa um mês que o governo federal declarou estado de emergência por conta do crescimento no número de casos de microcefalia no país. Desde então, o número de notificações na Paraíba cresceu de nove casos no dia 12 de novembro para 316 notificações até segunda-feira (5), sendo que em 40 deles a microcefalia foi descartada. Em todo o país, já são 1.761 casos em 13 estados e no Distrito Federal. Também são investigadas 19 mortes de crianças em oito estados. No último dia 4, a Paraíba também decretou emergência por causa da quantidade de casos de malformação notificados.

Adriana Melo, que atua na maternidade do Instituto Elpídio de Almeida (Isea), em Campina Grande, foi quem tomou a iniciativa de coletar o líquido amniótico de duas gestantes e enviar para ser analisado no Rio de Janeiro, no Laboratório de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). A médica diz que começou a suspeitar da relação entre o vírus e a microcefalia após conversas com profissionais de Pernambuco, estado com mais notificações da malformação no Brasil.

As duas grávidas, naturais de Juazeirinho, na região da Borborema da Paraíba, ainda foram levadas pela médica, com o apoio da Prefeitura de Campina Grande, para a Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem (IDI) em São Paulo, onde passaram por uma bateria de exames. A partir daí, houve a confirmação da relação nos dois casos, fato inédito na medicina.
Apesar disto, a pesquisadora afirma que o zika vírus está em mutação constante e que a confirmação não pode fazer com que as pesquisas parem. “Há vários padrões de microcefalia e isso dificulta as investigações. Mas continuo batendo na tecla que, antes de resolver as consequências, devemos combater o mosquito”.

Fiocruz rebate previsão
Em relação à previsão da médica, no entanto, os especialistas em Aedes aegypti do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) indicam que não é possível prever que “todos os mosquitos” terão o vírus zika em curto prazo. “Primeiramente, porque somente as fêmeas dos mosquitos Aedes aegypti é que têm a possibilidade de transmitir o vírus zika, pois somente as fêmeas picam o ser humano. A fêmea do Aedes precisa de sangue para amadurecer e colocar os ovos”, explica o órgão em nota.

Segundo os especialistas, para que haja transmissão, a saliva do mosquito tem que estar com partículas de vírus e para que isso aconteça é necessário que ele tenha picado uma pessoa infectada e o vírus primeiro fica alojado em seu estômago. O caminho entre o estômago e a saliva do mosquito faz um ciclo que dura em torno de dez dias, ainda de acordo com a Fiocruz. “Em outras palavras, nem todo mosquito que vemos está infectado com vírus. Um número menor ainda está infectivo, ou seja, com o vírus na saliva e, portanto, capaz de infectar uma pessoa”, diz a nota.

Já a transmissão vertical, de uma fêmea para seus ovos, a Fiocruz explica que até agora só há relatos científicos de que ela aconteça com a dengue. “No entanto, a porcentagem de mosquitos que já nascem infectados é muito baixa. Quase a totalidade dos mosquitos nasce sem o vírus e só ficarão infectados se picarem alguém infectado”, diz o órgão.

Evolução do vírus
Ainda de acordo com Adriana Melo, o zika vírus sempre foi conhecido por ser algo mais brando e que muitas vezes não recebia a atenção necessária. “Normalmente era apenas uma coceira e manchas vermelhas. Em poucos dias era tratado e esquecido”, lembra.

Ela ainda afirma que os pesquisadores já sabem de onde veio essa evolução. Segundo Adriana, durante a Copa do Mundo de 2014 o vírus chegou com mais força com os asiáticos que visitaram o país. “É por isso que o Nordeste está sendo mais afetado. Equipes asiáticas jogaram em Pernambuco e Rio Grande do Norte e isso atraiu turistas. Em todo o mundo tem asiáticos, mas a proliferação só se deu aqui porque no Brasil tem muito mosquito. Nossa região e as condições climáticas influem também”, explica.

Microcefalia
A microcefalia é uma condição rara em que o bebê nasce com o crânio do tamanho menor do que o normal. Inicialmente, o Ministério da Saúde considerava que bebês com circunferência da cabeça igual ou menor que 33 cm tinham a malformação. Entretanto, no último dia 4, um novo parâmetro passou a apontar microcefalia em crianças com cabeça medindo 32 cm ou menos de circunferência.

Fonte: Do G1 PB
Créditos: Do G1 PB