eleições 2020

MÚSICA X ELEIÇÃO: Artistas emplacam 1° hit com pisadinha política; VEJA VÍDEO

O ritmo da pisadinha, variação do forró que se espalhou pelo Brasil, gruda nos ouvidos, e embora o sujeito seja oculto, você sabe que "ele" é querido pelo povo e vai ganhar.

Quando a pandemia chegou, tudo parou no Nordeste. Shows, vaquejadas, paredões e festas populares: tudo que fazia aquecer a economia de muitos municípios do interior, em especial o mercado musical da região, desapareceu.

O efeito foi desastroso. Empresário de bandas de forró há 16 anos, o paraibano José Patrício demitiu uma equipe de mais de 20 profissionais, fechou as portas de sua casa de show no Recife (PE) e ficou como todo mundo ficou. “Esperamos abril, esperamos julho e nada, mas pensei que tinha um evento que não deixaria de acontecer. É ano de eleição”, conta.

Se você já pisou na rua, especialmente na região, é possível que tenha ouvido uma música sobre um candidato “querido, atencioso e trouxe a liberdade paro o nosso povo”, e que nas pesquisas “disparou, disparou, disparou”. São versos de “O Homem Disparou”, de Karkara e Vilões do Forró, que se tornou febre entre os candidatos e apoiadores e já se espalha pelo Brasil.

Há cidades onde os dois principais candidatos usam a mesma música em suas campanhas — e isso só é possível porque a letra não cita nome, partido ou legenda. Para os autores, “O Homem Disparou” é, antes de tudo, uma música de carreira, mas não deixa de ter no DNA as qualidades de um jingle de sucesso. O ritmo da pisadinha, variação do forró que se espalhou pelo Brasil, gruda nos ouvidos, e embora o sujeito seja oculto, você sabe que “ele” é querido pelo povo e vai ganhar. E tudo bem se for uma candidata, o grupo já gravou “A Mulher Disparou”. “É um vírus, como o corona”, brinca Patrício. Pelo menos, 200 candidatos já usam a música como jingle oficial, isto é, citando nome e legenda dos políticos. Mas a “pandemia” é difícil de mensurar. Nas contas do empresário, 5 mil cidades usam a música como ela está no YouTube.

Uma das vozes da música, ao lado do piauense César Araújo, o cearense Karkará observa que a falta de um sujeito específico fez a música viralizar com mais facilidade. “A diferença é que a gente assina com nossos nomes e vamos cantar nos shows”, explica. “Sem as apresentações, a gente queria utilizar um evento que já fosse acontecer, e que depois isso nos ajudasse também a entrar nos eventos.”

Ouro para os políticos

A lógica do Karkará reflete muito o peso que a política tem nesse mercado musical, que se abastece de uma produção caseira e se desenvolve localmente, em shows e apresentações por todo o Nordeste — não à toa, os personagens dessas histórias são de diferentes estados, mas todos eles dizem que o peso dos eventos municipais corresponde à metade do trabalho na estrada.

Para uma banda ser economicamente rentável, ela precisa viajar toda a região fazendo shows — e as festas populares e eventos públicos bancados pelas prefeituras são fundamentais: reúnem público grande e garantem um cachê fechado, independentemente da bilheteria. Quando é ano eleitoral, os jingles nos ritmos populares, como a pisadeira, o arrocha ou o brega funk são ouro para qualquer candidato de qualquer parte do país.

Com vozeirão que se destaca nas vaquejadas, Karkará tem composições cantadas por Mano Walter e Wesley Safadão, mas sempre é chamado para fazer jingles. Patrício observa que o estilo rimador de seu artista traz uma visão profunda das raízes da região. “Ele agrada a muito políticos, advogados e médicos que costumam frequentar os eventos”, diz.

https://youtu.be/0tcsg4TWw08

Fonte: UOL
Créditos: UOL