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Linn da Quebrada sobre Brasil atual: 'Não tenho direto de ficar assustada'

Linn da Quebrada, já levou sua resistência e sua luta para as letras das canções e apresentações pelo Brasil.

Lina Pereira, a Linn da Quebrada, já levou sua resistência e sua luta para as letras das canções e apresentações pelo Brasil. Agora, uma das grandes referências da comunidade trans na música estreará como atriz na Globo. Ela é um dos destaques de Segunda Chamada, série que a emissora prevê estrear em outubro.

A cantora, que começou no teatro e já havia feito participação no cinema no longa “Corpo Elétrico” (2017), conta que estava com uma turnê marcada no exterior quando recebeu a proposta da diretora do seriado, Joana Jobace, e precisou escolher.

“Fazer a série nesse momento e estar no Brasil nesse momento foi a melhor coisa que eu poderia ter feito”, diz ela em um intervalo das gravações da série, em São Paulo.

Linn se refere à onda conservadora no país, com um consequente aumento dos ataques à comunidade LGBTQ+. Na cultura, recentemente, um edital da Ancine (Agência Nacional de Cinema) de séries sobre diversidade de gênero e sexualidade para serem exibidas nas TVs públicas foi suspenso pelo presidente Jair Bolsonaro.Em Segunda Chamada, Linn vive Natasha, uma mulher que ela descreve como corajosa e determinada a estudar. A série se passa na fictícia Escola Carolina Maria de Jesus e é focada no ensino noturno, onde jovens e adultos que não tiveram oportunidade se dedicam a terminar os estudos.

Segundo a cantora, sua personagem é bem diferente dela, mas ela encontra conflitos similares.

“O que é colocado é disputa de território. Não temos direito a estudar, a ocupar o espaço de trabalho, não podemos ocupar o espaço da igreja, muitas vezes, inclusive, não podemos viver dentro das nossas próprias casas. Que lugares são receptivos à nossa experiência, à nossa vivência? Acho que a Natasha traz essa inquietude nela, que é o que posso compartilhar com ela”, relata.

A atriz também conta que ajudou a direção e as autoras, Carla Faour e Julia Spadaccini, na composição da personagem, compartilhando suas experiências como mulher trans da periferia e ressalta que cada pessoa tem uma vivência muito distinta, mesmo em situações similares.

“É impossível que eu represente a classe TLGB como um todo. Nós somos múltiplas e variáveis, assim como a experiência heterossexual é muito diversa também. Há muitas formas e é justamente isso que tem que ser posto em xeque, narrativas repetitivas”, observa.

“A televisão, assim como as artes no geral, não são apenas a reprodução da sociedade tal qual ela é, muito pelo contrário, elas são responsáveis pela produção de narrativas. Então quanto mais diversas, nos alimenta para que as pessoas possam ver e pensar: ‘Nossa, então pode ser diferente'”.

Ela relembra de sua própria experiência na escola: “Eu tive uma experiência levemente traumática. Passei por violências, principalmente por ser uma criança afeminada de alguma forma. Sempre fui uma boa aluna. Ganhei bolsa no colegial para estudar em um colégio particular, mas a pressão foi tanta que, por não sentir a escola como um espaço acolhedor, eu fugi”.

Ela ainda não havia iniciado seu processo de transição de gênero no colégio, mas já começou a refletir sobre uma série de questões.

“Acho que uma certa forma sempre estivesse em transição, mas não nessa transição onde as pessoas me detectavam como travesti. Foi nessa época que comecei a experimentar a minha estética. E naquela época nascia a Lara, que era uma outra persona. Eu já fui muitas, costumo dizer que sou uma legião”.

Linn se mostra alerta com o atual contexto, mas diz que não ter direito de recuar.

“Eu não tenho direto de ficar assustada. Ficar com medo é um luxo que, inclusive, a maioria de nós não tem. Posso ter receio, mas acho que isso tudo que está acontecendo me serve ainda mais como um motor para continuar fazendo o que já faço”, afirma.

“Nada disso me soa como novo necessariamente. Eu sinto que as dificuldades já estavam aí há muito tempo, principalmente para uma classe que já está à margem e já é marginalizada há séculos”.

Linn também vê a situação como consequência da maior visibilidade e força que a comunidade LGBTQ+ vem conquistando. Na própria Globo, atualmente, duas atrizes trans podem ser vistas no ar em novelas: Glamour Garcia na pele da Britney em A Dona do Pedaço e Gabrielle Joie como Michelly em Bom Sucesso.

“Sinto que isso tudo tem está acontecendo justamente porque nós temos tido avanços. Com isso eu percebo que quem está com medo não somos nós. Quem está com medo é uma classe conservadora que se vê perdendo território. Nós estamos ocupando os espaços. Eu também sentiria se estivesse na pele deles”.

Em Segunda Chamada, Linn vive Natasha, uma mulher que ela descreve como corajosa e determinada a estudar. A série se passa na fictícia Escola Carolina Maria de Jesus e é focada no ensino noturno, onde jovens e adultos que não tiveram oportunidade se dedicam a terminar os estudos.

Segundo a cantora, sua personagem é bem diferente dela, mas ela encontra conflitos similares.

“O que é colocado é disputa de território. Não temos direito a estudar, a ocupar o espaço de trabalho, não podemos ocupar o espaço da igreja, muitas vezes, inclusive, não podemos viver dentro das nossas próprias casas. Que lugares são receptivos à nossa experiência, à nossa vivência? Acho que a Natasha traz essa inquietude nela, que é o que posso compartilhar com ela”, relata.

A atriz também conta que ajudou a direção e as autoras, Carla Faour e Julia Spadaccini, na composição da personagem, compartilhando suas experiências como mulher trans da periferia e ressalta que cada pessoa tem uma vivência muito distinta, mesmo em situações similares.

“É impossível que eu represente a classe TLGB como um todo. Nós somos múltiplas e variáveis, assim como a experiência heterossexual é muito diversa também. Há muitas formas e é justamente isso que tem que ser posto em xeque, narrativas repetitivas”, observa.

“A televisão, assim como as artes no geral, não são apenas a reprodução da sociedade tal qual ela é, muito pelo contrário, elas são responsáveis pela produção de narrativas. Então quanto mais diversas, nos alimenta para que as pessoas possam ver e pensar: ‘Nossa, então pode ser diferente'”.

Ela relembra de sua própria experiência na escola: “Eu tive uma experiência levemente traumática. Passei por violências, principalmente por ser uma criança afeminada de alguma forma. Sempre fui uma boa aluna. Ganhei bolsa no colegial para estudar em um colégio particular, mas a pressão foi tanta que, por não sentir a escola como um espaço acolhedor, eu fugi”.

Ela ainda não havia iniciado seu processo de transição de gênero no colégio, mas já começou a refletir sobre uma série de questões.

“Acho que uma certa forma sempre estivesse em transição, mas não nessa transição onde as pessoas me detectavam como travesti. Foi nessa época que comecei a experimentar a minha estética. E naquela época nascia a Lara, que era uma outra persona. Eu já fui muitas, costumo dizer que sou uma legião”.

Fonte: UOL
Créditos: UOL