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Juliano Cazarré encarna Jesus Cristo e celebra: ‘Feliz de fazer as pazes com a fé'

Foi se preparando para sentir na pele as chagas de Jesus em “A Paixão de Cristo”, que começou este fim de semana em Nova Jerusalém, em Pernambuco, que o ator redescobriu sua ligação com o divino.

Aos 38 anos, Juliano Cazarré não está apenas interpretando o personagem mais conhecido da humanidade. Foi se preparando para sentir na pele as chagas de Jesus em “A Paixão de Cristo”, que começou este fim de semana em Nova Jerusalém, em Pernambuco, que o ator redescobriu sua ligação com o divino.

Católico, criado na doutrina de Kardec, leitor de autores ateus, Cazarré podia ser a representação do que acontece em muitos lares brasileiros, que têm essa mistura quase ecumênica de buscar por algo que faça sentido. Ele encontrou. “Estou muito feliz de fazer as pazes com a minha fé”, diz ele, pai de Vicente, Inácio e Gaspar. Uma trindade com nomes de santo, a quem ele devota todos os seus dias no propósito de fazer deste um mundo melhor para quem vier depois: “Os filhos são uma oportunidade incrível de ver o quanto de coisa maravilhosa existe por aí”.

Como tem sido esta experiência?

Do ponto de vista do ator é muito interessante e desafiador. É um espetáculo de quase duas horas. É muito espaçoso e muito distante um palco do outro, muita coisa para aprender. Tem um esforço físico absurdo. No terceiro dia de ensaio, acordei com o corpo bem cansado. Mas está tudo bem, nada do além. É um cansaço gostoso. Eu estava esperando várias semanas para vir pra cá, preparado. Está sendo divertido. Estou muito feliz. Me divertindo em cena.

Dá para se divertir? É o maior spoiler da humanidade, os últimos dias de Cristo, um sofrimento enorme…

Eu não consigo entrar na ilusão, nem por um segundo, que eu sou Cristo. Sei que sou um ator fazendo Cristo. Sei que pode parecer óbvio. Mas não é. Eu estou fazendo com o maior respeito, o processo de vir pra cá, desde o ano passado, também tem sido um processo espiritual meu. De rezar muito, de pedir a Deus e Jesus que me orientem, de ler a Bíblia, de me entregar para que eles me ajudem a fazer, é algo muito grande, preciso da inspiração deles. Quando estou falando com os apóstolos, estou atuando. É minha profissão. Estou feliz de estar contando a história do herói dos heróis. O brasileiro costuma renegar seus heróis. Tem uma descrença, uma amrgura contemporânea. É sempre o desvalido, o que se ferrou. Nas novelas, os homens são cada vez mais preguiçosos ou maus, ou traem suas parceiras. Não é toda hora que a gente pode interpretar alguém que seja essencialmente virtuoso. Então, é bacana interpretar o bem e a pureza encarnados.

É um espetáculo que mexe com o emocional das pessoas. E com o seu?

E mexe com a fé das pessoas. Elas vêm pra cá para ver o filho de Deus em seus últimos dias na Terra. Acho que tudo isso só aumenta a força para quem está fazendo. É o objeto da fé que é muito enraizada no Brasil, espalhada. Tento fazer um Jesus que concilia todos, que seja respeitoso com todo mundo, em especial o Jesus que encontro na Bíblia.

Qual era a sua ligação com a espiritualidade antes?

Eu sou católico, fiz Primeira Comunhão. E me reaproximei do catolicismo durante essa jornada, voltei a frequentar a missa, procurei a igreja num dia de semana para me confessar, voltei a participar da Eucaristia, estou muito feliz de fazer as pazes com a minha fé. Cansei de viver sem o transcendente, sem o divino, sabe? A gente vai ficando com um cinismo… E as pessoas te dizem que Deus morreu. Estudei muito Filsofia, o ateísmo, os autores. E tem gente que fala que você não precisa de um Deus. Mas eu percebi que, por mais que eu tenha me afastado de Deus, eu nunca consegui abandoná-lo. Sempre rezava, acredito que tem algo maior e aquilo esteve comigo o tempo todo. E eu estou me sentindo muito bem de ter feito as pazes com Deus, me sentindo bem em todos os dias estar rezando, em contar a Bíblia pros meus filhos, ensiná-los a Ave-Maria e o Pai Nosso de noite, na hora de dormir. A vida ganha um sentido maior. Não é abandonar a vida terrena com tudo o que a gente tem que fazer. Mas é um olho aqui e outro no paraíso. Esta é uma maneira que encontrei de dar significado para a vida.

Você já tinha falado em entrevistas que queria viver Jesus. Foi coincidência?

Eu tenho amigos de diferentes religiões que me dizem que conversam com Deus, que ouvem uma voz. Eu sempre fui um cara fechado, não escuto vozes ou Deus soprar no meu ouvido “faz isso ou aquilo”. Nunca senti um arrepio no meio da tarde que tenha mudado minha vida. Um dia, do nada, eu nunca tinha visto o espetáculo, tá? E veio a vontade. Pensei: ‘Cara é isso!’. E comecei a dar entrevistas na esperança de que um dia fosse rolar. E me chamaram primeiro para fazer Herodes, mas Herodes não. E deixei pra lá. Me ligaram um tempo depois e perguntaram: “Estamos precisando de Jesus. Tá dentro?”. Fiz as contas, seria pertinho do nascimento do meu terceiro filho, eu não queria deixar a Leticia (Cazarré, mulher do ator), sozinha, queria acompanhar o parto. Já tinha perdido o do Inácio por causa de “Avenida Brasil”. Tive que dizer não. Letícia deu o aval. E topei. E o moleque não nascia. E a gente querendo parto natural, deu 40 semanas e nada. O guri não nascia, a data chegando… Daí optamos pela cesariana, consegui conhecer. Eu já estava abrindo mão de ver o parto. Então, deu tudo certo. Eu hoje em dia acho que foi o tal do sopro no ouvido, sabe?

O nome Gaspar, de um dos três Reis Magos, também teve a ver com esse momento?

Se teve a ver ainda não sei. Eu nem lembrava que era o nome de um dos reis. E meus filhos têm nomes de santo. A Letícia escolheu Vicente. Inácio eu escolhi. E Gaspar foi assim: a gente não tem hábito de dormir depois do almoço. Acabamos caindo cada um num sofá. Acordei antes dela e pensei, vou fazer uma listinha com nomes de menino. Quando estava indo pegar o computador veio Gaspar na cabeça. Quando a Leticia acordou eu falei: Gaspar e ela: “Para, não é possível. Acabei de sonhar com esse nome!”. E significa: o portador de tesouros.

Fonte: Extra
Créditos: Extra