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Jô Soares tinha origem paraibana e exaltou força política do estado em autobiografia

O humorista Jô Soares faleceu nesta sexta-feira (5), data em que se comemora o aniversário de 437 anos de João Pessoa. Sua relação com a capital paraibana, no entanto, vai além da fatalidade. José Eugênio Soares, 84 anos, tem um história emotiva que se reporta à origem da sua família paraibana, com capítulos expostos em sua “autobiografia desautorizada”.

O humorista Jô Soares faleceu nesta sexta-feira (5), data em que se comemora o aniversário de 437 anos de João Pessoa. Sua relação com a capital paraibana, no entanto, vai além da fatalidade. José Eugênio Soares, 84 anos, tem um história emotiva que se reporta à origem da sua família paraibana, com capítulos expostos em sua “autobiografia desautorizada”.

Na obra, ele fala das relações de seus antepassados na Paraíba com personagens fundamentais da política nacional e estadual e comenta sobre a oportunidade de poder destacar a importância que o estado teve neste contexto, sobretudo na presença cultural e política da Paraíba na vida nacional da primeira metade do século XX.

Fico feliz em poder retomar essas histórias nesta minha autobiografia desautorizada, porque isso me dá a oportunidade não só de prestar homenagens tardias a minha família e a pessoas a quem devo muito, mas também de resgatar a importante presença cultural e política da Paraíba na vida nacional da primeira metade do século XX, hoje injustamente esquecida. Por ter, ao lado de Minas Gerais, apoiado o Rio Grande do Sul na chamada Aliança Liberal, a Paraíba e seus filhos ganharam um papel de peso na Capital da República após a Revolução de 1930, conta Jô Soares, em sua autobiografia.

Jô Soares era filho do empresário paraibano Orlando Heitor Soares, e sobrinho-bisneto do ex-governador da Paraíba Francisco Camilo de Hollanda.

Camilo de Hollanda

Dentre os relatos mais antigos há o da sua bisavó Amazile Meira de Hollanda Soares, irmã de Camilo de Holanda, que governou a Paraíba entre os anos de 1916-20. Ele foi personagem de um dos casos mais notáveis dos oligarcas
do Nordeste na República Velha, ao criar inimizade com o governador Antônio Pessoa, irmão Epitácio Pessoa, que mais tarde se tornaria presidente da República.

Epitácio preferiu apoio Holanda ao invés do parente que se isolou numa fazenda e meses depois morreu. Ao saber da morte, Camilo de Hollanda teria dito que ele foi para o inferno. Antônio Pessoa Filho, em protesto, deixou o cargo de prefeito da capital, aumentando ainda mais a crise política. A viúva foi ao Rio se queixar a Epitácio, que acabou rompendo e não apoiando a sua reeleição.

Segundo Jô, a história foi contada a ele por Ariano Suassuna, filho do ex-governador João Suassuna.

Em outra passagem, ele lembra dos tios avôs, Orris e Oscar Soares, que fundaram o jornal O Norte, em 7 de maio de 1908, em João Pessoa. O periódico se tornou “epitacista”, isto é, defensor de Epitácio Pessoa, o qual assumiria a Presidência do Brasil em 1919. Oscar foi deputado pela Paraíba de 1918 até a Revolução de 1930.

Chatô

Na década de 1950, O Norte, que passou a pertencer a outros proprietários, foi vendido ao paraibano magnata da comunicação, Assis Chateaubriand, para ser usado na sua extemporânea campanha de senador. Conforme destaca Jô Soares, em seu obra, o titular e o suplente da Paraíba no Senado renunciaram para que Chatô pudesse lançar sua candidatura fora do calendário eleitoral.

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Ao falar de Chatô, Jô Soares lembra que o pai era um dos que foram contrários à mudança do nome da capital paraibana para João Pessoa, na década de 1930.

Meu pai fazia uma brincadeira dizendo que iam construir um busto em homenagem a Assis Chateaubriand na Paraíba (ele se referia à capital e não ao estado; como muita gente de lá, nunca aceitou que o nome da sua cidade natal tivesse sido mudado para João Pessoa), com a seguinte frase gravada em placa de bronze no pedestal: A CHATÔ A PARAÍBA”, narra.

Epitacinho

Jô conta na obra que era amigo do neto de João Pessoa era da sua idade e chamado de Epitacinho na intimidade. “João Pessoa, neto, ou Joãozinho, tinha também o apelido de Epitacinho, porque seu pai, ex-senador, chamava-se
Epitácio em homenagem ao tio-avô, Epitácio Pessoa, que foi presidente da República.

“As histórias em torno de Epitacinho ou Joãozinho eram inúmeras: mimadíssimo, o afilhado muito querido de Getúlio Vargas possuía, mesmo sem ter a idade legal, carteira de motorista e porte de arma. Ele cresceu embalado por uma sequência de tragédias: além de o avô ter sido assassinado, ao chegar ao Lycée Jaccard já não tinha pai: Epitácio Pessoa Cavalcanti de Albuquerque foi encontrado morto, aos quarenta anos, na sua mansão do Alto da Gávea — onde Getúlio, eleito presidente, ficara hospedado, aguardando a posse e montando seu gabinete”, descreve.

Jô Soares

O apresentador, escritor, humorista e ator Jô Soares morreu na madrugada desta sexta-feira (5), aos 84 anos. Jô Soares estava internado desde 28 de julho no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde tratava um quadro de pneumonia.

Jô Soares, nos últimos 25 anos, ficou conhecido por ser o apresentador do talk-show “Programa do Jô”, exibido de 2000 a 2016, na TV Globo. Pioneiro do estilo de comédia stand-up, Jô também se destacou com programas como “A família Trapo” (1966), “Planeta dos homens” (1977) e “Viva o Gordo” (1981).

Fonte: Jornal da Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba