sem calcinha

'Fui julgada sem direito a defesa', diz Lilian Ramos, 25 anos após polêmica

"Acidente." É assim que Lilian classifica o episódio que, segundo ela, prejudicou a carreira de modelo iniciada oito anos antes em sua terra natal, Fortaleza, e a fez querer sumir literalmente do mapa

Lilian Ramos amava o Carnaval. Durante muitos anos, quando chegava o mês de fevereiro, ela só queria saber de curtir os bailes, pular nos blocos, marcar presença nas tradicionais feijoadas, nos ensaios e nos desfiles das escolas de samba. Mas há 25 anos a ex-modelo virou figura central de uma das maiores polêmicas da Sapucaí e acabou saindo completamente de cena. Abandonou a folia e se refugiou em outro país depois de ser flagrada ao lado do então presidente Itamar Franco em um dos camarotes sem calcinha.

“Acidente.” É assim que Lilian classifica o episódio que, segundo ela, prejudicou a carreira de modelo iniciada oito anos antes em sua terra natal, Fortaleza, e a fez querer sumir literalmente do mapa.

“Me criticaram demais, e eu me senti traída, me senti muito injustiçada por uma situação que não foi deliberada. Foi um acidente que virou um escândalo e me deixou mal. Eu já vinha trabalhando como modelo, correndo atrás como atriz desde 1986, estava sendo reconhecida pelo esforço, pelo talento, pela dedicação e, de repente, tudo isso acabou. Fui julgada sem direito a defesa”, relembra Lilian em entrevista ao UOL.

Há dois meses visitando a família no Ceará, ela faz questão de contar com detalhes o que realmente aconteceu naquela noite do Carnaval de 1994. Lilian desfilava havia anos nas escolas de samba do Rio e aprendeu com as passistas um truque, que era usar um tipo de meia calça inteira e collant juntos. Isso deixava o corpo mais firme e menos exposto. Era uma peça da cor da pele, usada por baixo da fantasia.

“Eu era destaque de um dos carros da Viradouro a convite do Joãozinho 30 e usava um biquíni de metal que me machucou na parte lateral do quadril. Cheguei na Apoteose, tirei a fantasia, coloquei uma camiseta bem comprida e já me preparava para ir embora quando um amigo, que era deputado federal, me chamou para passar no camarote do presidente da Liga das Escolas de Samba. Lá estava o presidente da República Itamar Franco e ele queria me conhecer. Eu não queria ir, porque estava mal vestida, suada e cansada, mas insistiram tanto que eu fui. E deu no que deu.”

“Nunca mais deixei de usar calcinha”

Lilian jura que a intenção era ficar 20 minutos, mas ficou mais de duas horas. Encantada com a educação e a atenção de Itamar Franco, passou a maioria do tempo ao lado do presidente e esqueceu completamente que estava sem a parte de baixo do biquíni. “Até hoje eu não sei como fizeram aquela foto. Aquela varanda não era tão alta e mesmo sem parte da fantasia, eu estava com um camisão na altura do joelho!”, exclama a ex-musa dos anos 1980, que ficou traumatizada. “Depois daquele dia, nunca mais deixei de usar calcinha.”

No dia seguinte, Lilian tinha virado notícia. A repercussão negativa a tirou do Desfile das Campeãs -ela foi substituída por um componente da Viradouro- e causou um mal-estar no governo federal. “Eu fiquei muito envergonhada e cheguei a pedir desculpas em uma das ligações que o Itamar fez para mim. Ele disse que eu não tinha feito nada e que aquele episódio tinha sido explorado com a intenção de derrubá-lo. Fiquei arrasada e me isolei. Passei um tempo na casa dos meus pais em Fortaleza e depois fui embora de vez para Itália.”

Roma foi a cidade que ela escolheu para se “refugiar” e, mesmo a contragosto, começou a trabalhar na mídia italiana com a fama da “mulher sem calcinha do presidente Itamar”. Fez várias capas de revistas, participou de editoriais e foi contratada para trabalhar em programas humorísticos nas principais emissoras.

A saudade da família aumentava, mas mesmo com proposta de escrever uma autobiografia e até um convite para se filiar a um partido e se candidatar a deputada federal em 1998, ela não quis voltar. “Resolvi ficar e graças a Deus deu tudo certo. Estudei, ganhei cidadania italiana e sempre tenho proposta de trabalho. Estou feliz lá.”

Morando perto do Centro Histórico romano, ela diz que volta e meia é conhecida por brasileiros e italianos. “Eles me param nas ruas e, claro, falam da confusão com o Itamar, mas muitos lembram das minhas capas nas revistas masculinas e das minhas participações em ‘Os Trapalhões’, ‘Bronco’ e ‘Viva o Gordo’. Sou atriz, mas sempre fiz mais papéis cômicos”, pontua Lilian, que chegou a estudar jornalismo. “Na verdade, eu sempre quis ser atriz, modelo e apresentadora”, completa.

Com passagem de volta marcada para a segunda quinzena de março, Lilian decidiu há poucos dias passar o Carnaval no Rio, onde ela tinha jurado não mais voltar (veja a ordem dos desfiles no Rio). “Todos os anos, eu venho passar Natal e Réveillon com a minha família e sempre voltava antes de a folia começar. Em 2014, eu resolvi esticar um pouco mais as férias e fui para o Rio curtir um pouco. Fui ao Baile do Copa e dei uma passadinha no Camarote da Grande Rio um dia só dos desfiles. Neste ano, fiquei animada com o convite de uma amiga e vou novamente. Não tenho nada programado, mas quero ir à Sapucaí. Não tenho mais vontade de desfilar, mas um camarote é sempre bom, né?”

 

Fonte: UOL
Créditos: UOL