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Em meio a epidemias, hemocentros do Nordeste sofrem com falta de sangue

sangue

O aumento no número de casos de zika, dengue e chikungunya derrubou a quantidade de doações de sangue nos hemocentros do Nordeste. Alagoas, Bahia, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte sofrem com falta de sangue. Os hemocentros estão realizando campanhas e apelam por novos doadores.

Desde dezembro, os bancos de sangue do país estão recusando doações de pacientes que tiveram sintomas de zika ou foram diagnosticados com o vírus nos últimos 30 dias. Isso pelo potencial risco de transmissão da zika por transfusão sanguínea.

Recentemente, uma nota técnica da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular recomendou ainda a recusa de sangue de qualquer pessoa que teve relações sexuais no mês anterior à doação com homem com suspeita de infecção por zika nos últimos três meses.

Em Pernambuco, o hemocentro afirma que, entre os meses de janeiro e fevereiro, houve uma queda por conta da tríplice virose que ocasionou deficit de cerca de mil bolsas de sangue. Rotineiramente, a média desses dois meses é de oito mil doações, mas apenas sete mil foram feitas nesse período.

Muitos dos nossos doadores regulares não estão comparecendo por estarem doentes ou cuidando de familiares. Sabemos que estamos vivendo um período de epidemias e é necessário que a população se mobilize

Yeda Maia, diretora do hemocentro de Pernambuco

Na Bahia, o estoque de sangue –que sempre trabalha em baixa nos dois primeiros meses do ano– não teve a esperada recuperação no mês de março, como historicamente ocorria. O hemocentro local estima que as doações tenham caído 30%.

O órgão diz que não um fator aparente além da tríplice virose que explique a queda, porém não confirma que esse seja o único motivo.

No Ceará, o hemocentro diz que a redução no número de doadores acontece justamente quando há “um aumento de até 30% na demanda em função de viroses e problemas respiratórios.” Segundo o órgão, em fevereiro foram 8.432 doadores, 14% menos que os 9.815 do mesmo mês de 2015.

O Rio Grande do Norte também confirmou queda, mas não soube estimar o percentual.

Já o hemocentro de Alagoas informou que, durante o mês de janeiro, houve uma “queda drástica” no estoque de sangue, mas por conta das férias. “Não há uma relação da baixa do estoque com os casos do zika vírus, dengue e febre do chikungunya”, informou.

Paraíba, Piauí e Maranhão informaram que mantêm os estoques de sangue em nível regular. Sergipe foi o único Estado do Nordeste que não respondeu aos questionamentos do UOL.

MG, RJ e ES têm queda, mas não informam motivo

Na região Sudeste, os hemocentros de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo estão com estoques abaixo do normal, segundo as secretarias estaduais –apenas em São Paulo o estoque está normalizado. Os órgãos, porém, não confirmam o motivo da queda.

No Rio, o hemocentro informou que o número de doações está 10% abaixo da média em relação ao mesmo período no ano passado. Porém, diz que “ainda não há indicadores que comprovem que esta queda é decorrente do aumento de casos de dengue, chinkugunya ou zika.” O Hemorio afirma que adotou medidas preventivas, como a triagem clínica de doadores.

O hemocentro do Espírito Santo também disse que os estoques de sangue estão abaixo do ideal. “Não é possível associar a redução nas doações somente à existência destas doenças, mas como o procedimento, seguindo o Ministério da Saúde, é inaptar os doadores por 30 dias – no caso destas doenças –, a incidência no Estado pode ter afetado as doações.”

Minas disse que o estoque está 30% menor, mas “este fator não está relacionado aos casos de dengue, zika e chikungunya.” O hemocentro, porém, não informou qual seria o motivo da queda.

SP adota “quarentena”

O Estado de São Paulo não registrou queda no estoque. Para evitar a transmissão de zika por transfusão sanguínea, os candidatos a doaçãoque viajaram ao Nordeste nos últimos 30 dias estão sendo recusados na triagem da Fundação Pró-Sangue Hemocentro de São Paulo, mesmo sem apresentar sintomas de arboviroses.

O tempo de espera para poder doar é o mesmo de quem chega com sintomas de uma das três doenças. Já o candidato que teve dengue hemorrágica deve esperar 180 dias para ser avaliado e doar sangue.

Segundo a Pró-Sangue, a recusa ocorre pela grande incidência de dengue, zika e chikungunya na região, e é possível existir casos em que não haja manifestação de sintomas. A recusa de quem viajou ao Nordeste aumentou entre 2% e 3% o número de candidatos barrados na triagem no hemocentro paulista.

Segundo o médico hematologista Cesar de Almeida Neto, no Brasil já houve registro de suspeita de contaminação por dengue e zika durante transfusão de sangue. Em outros países, há relatos de pessoas que contraíram chikungunya ao receberem sangue infectado.

“Embora a viremia desses agentes que estão no sangue é curta, temos relatos de viremia prolongada, como a chikungunya, e a recomendação desse tempo de espera é para descartar que a pessoa esteja com um dos vírus. Ela é seguida no mundo todo”, informa o médico.

Fonte: UOL