Decisão do Iphaep inviabiliza revitalização do Cine Capitólio e município perde investidores

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O destino do Cine Capitólio, antigo cinema localizado no centro de Campina Grande e desativado desde o final dos anos 1990, está mais distante de ser resolvido. A decisão tomada no ano passado, pelo Instituto Patrimônio Histórico Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep), indeferindo o projeto de revitalização do Capitólio, sob a alegação de não atendimento aos requisitos técnicos de proteção patrimonial, de forma a descaracterizar o imóvel, impossibilitou o início das obras, que seriam administradas pela Prefeitura Municipal. A decisão também afastou empresários, alguns de outros estados, com interesse em investir no centro comercial de Campina Grande.

Para o Iphaep, o projeto de revitalização do Cine Capitólio está em desacordo aos requisitos técnicos de proteção patrimonial, mais precisamente no que se refere ao aumento do gabarito da edificação, ou seja, na altura da fachada do prédio em 1/3. Essa modificação, mesmo sendo mínima, descaracterizaria o imóvel, anunciou o órgão. Por conta da decisão do Iphaep, o projeto de revitalização, que prevê a recuperação do prédio e a sua transformação em um empreendimento dedicado à cultura e ao entretenimento, está inviabilizado. O que causa estranheza à Prefeitura Municipal é que o mesmo projeto foi sugerido pelo próprio Instituto como uma solução viável para o equipamento.

O Cine Capitólio, prédio que pertence à Prefeitura de Campina Grande, foi tombado pelo patrimônio público em virtude de seu valor cultural e histórico. O secretário de Obras e Planejamento do Município, André Agra, informou que o projeto em questão já era conhecido pelo Iphaep. “O próprio Iphaep me apresentou esse projeto, em 2013, como um projeto que estava praticamente aprovado. Então nós evoluímos com esse projeto e o apresentamos ao Conselho de Cultura e Patrimônio de Campina Grande. O próprio Iphaep veio aqui e defendeu o projeto. Depois, pediu apenas para formalizar em definitivo. Agora, todo o contexto mudou”, ressaltou Agra.

Desenvolvido pela arquiteta e urbanista Mayrla Souto Maior, o projeto do Cine Capitólio prevê a instalação de duas salas para exibição de filmes, além de ampliar e requalificar a área, transformando o antigo cinema em um espaço com outras funcionalidades. A parte interna, por exemplo, seguiria um programa temático de necessidades, cuja distribuição espacial contemplaria o modelo arquitetônico de multiuso, voltado ao lazer cultural. Além das salas de cinema (no andar superior), seriam construídas uma livraria, café, espaço para exposição de arte e salas comerciais.

Segundo a arquiteta, o gabarito da edificação (a altura da parte frontal do prédio, em frente à avenida Floriano Peixoto) precisou ser alterado devido a necessidade de abrigar as salas de exibição no mezanino. Ela afirmou que esse acréscimo ao projeto original, em 1/3 na altura da sua fachada principal, faz-se necessário por questões técnicas e para adaptação às novas funções do prédio. Nessa nova inserção ao gabarito foi utilizada a proposta do acabamento pelo material Reynobond, que apresenta resistência climática, proporcionando ainda uma fachada contemporânea e de traços limpos. “Tudo está dimensionado conforme o espaço. Esse acréscimo de 1/3 não vai interferir na fachada mais baixa do prédio”, ressaltou.

A arquiteta Mayrla explicou ainda, que esse novo dimensionamento é o mesmo utilizado pelas salas de cinema mais modernas, construídas em outras cidades brasileiras, cujo objetivo é adequar o projeto técnico às atuais normas de segurança, conforto e visibilidade aos frequentadores. “O projeto, que prevê  o acréscimo de 1/3, considera a boa visualização da tela de cinema e a parte acústica da sala. Enfim, todos os cálculos são realizados em atendimento às necessidades do local”, ressaltou.

EMPRESÁRIOS – O projeto de revitalização do Capitólio despertou o interesse de grupos empresariais que pretendem fazer investimentos no centro de Campina Grande, o que permitiria, à cidade, ganhar novas salas de cinemas, livraria, café e áreas para exposições artísticas. “Esse recuo do Iphaep poderá causar prejuízos sérios para  Campina Grande. O projeto iria restaurar e requalificar o equipamento, transformando-o num centro multicultural, além de revitalizar uma área importante do patrimônio histórico da cidade. Essa postura inflexível do Instituto termina por comprometer uma solução construída com muito trabalho e zelo, pelos atores envolvidos, mas não nos fez desistir”, ressaltou André Agra. De acordo com Agra, a liberação do projeto, por parte do Iphaep, permitiria a abertura de processo licitatório, na modalidade de concorrência pública, objetivando a concessão de uso daquela área.

O projeto em questão prevê a revitalização e conservação da fachada original do Cine Capitólio, preservando suas características arquitetônicas. O uso interno do antigo cinema seguiria um programa temático de necessidades, cuja distribuição espacial passaria a contemplar o modelo arquitetônico de multiuso, voltado para o lazer cultural. No local seriam instaladas as duas salas de cinema (andar superior), livraria, café, espaço para exposição de arte e as salas comerciais.

RISCOS – Esse impasse, proporcionado pelo Iphaep, pode ocasionar perdas ainda maiores que a econômica. Um relatório da Defesa Civil de Campina Grande, datado de dezembro do ano passado, revela a necessidade de serem realizadas providências urgentes com relação ao Cine Capitólio. Dados do relatório mostram que a situação se agrava, em função do tempo e da falta de uma manutenção corretiva e/ou preventiva.

No relatório foi comprovado o grau de risco, constatado nas vistorias, e a possibilidade de impacto irrecuperável, com risco para as pessoas que trafegam nas proximidades do prédio. O documento menciona, ainda, a perda excessiva de desempenho e funcionalidade do prédio, pressupondo aumento dos custos de manutenção, comprometimento da vida útil e a acentuada desvalorização imobiliária daquele patrimônio. A Defesa Civil reafirma que fatores climáticos, como chuvas e ventos mais fortes, comuns no período de inverno, podem causar danos irreparáveis ao imóvel.

Fonte: Codecom