Cultura

Teatro Ednaldo do Egypto será desapropriado para reforma; espaço é símbolo de resistência em João Pessoa

Teatro Ednaldo do Egypto
Teatro Ednaldo do Egypto

João Pessoa - Em 2025, o Teatro Ednaldo do Egypto completou 30 anos de história, resistência e contribuição inestimável para a cultura pessoense.

Localizado no bairro de Manaíra, o espaço é um dos raros palcos da capital paraibana, símbolo da força das artes cênicas e da persistência da comunidade artística em manter viva a chama da cultura popular.

Inaugurado em 27 de março de 1995 — em homenagem ao Dia Internacional do Teatro e do Circo —, o espaço foi idealizado pelo ator Ednaldo Gonçalves do Egypto, que desde a infância sonhava com um local que fosse ao mesmo tempo escola, palco e ponto de encontro para artistas. Durante três décadas, esse sonho abrigou incontáveis espetáculos, oficinas e memórias.

Nos últimos anos, no entanto, o teatro passou por um período delicado. Chegou a ser colocado à venda diversas vezes, gerando temores de que o espaço fosse descaracterizado ou transformado em algo distante de sua proposta original. A mobilização da classe artística foi essencial para evitar esse destino.

Teatro será administrado pela prefeitura

Em 2023, a Prefeitura Municipal de João Pessoa anunciou a compra do imóvel e, em seguida, o teatro foi reconhecido como Patrimônio Cultural da cidade pela Lei nº 14.943, de autoria do vereador Milanez Neto e sancionada pelo prefeito Cícero Lucena. Apesar dos avanços, o debate sobre os rumos do espaço segue em pauta.

O vereador Marcos Henriques (PT) relatou que esteve recentemente em reunião com a secretária de Educação e Cultura, América de Castro, levando uma série de preocupações sobre o teatro:

“Levamos alguns pontos para discutir com ela sobre o Ednaldo do Egypto, como, por exemplo, a pauta do teatro, que a gente queria diminuir o valor, e ela se comprometeu a ver isso”, afirmou o vereador.

Entre os temas discutidos, estão a necessidade urgente de uma reforma estrutural, a democratização do acesso à pauta para grupos e artistas locais, e o que o vereador chamou de “falta de interlocução do atual gestor com os artistas de João Pessoa”. Segundo ele, a secretária confirmou que a desapropriação já foi aprovada pelo prefeito, faltando apenas os trâmites legais para o empenho.

Apresentações e o futuro do Teatro

Enquanto as definições seguem nos bastidores, o teatro continua em atividade. Aos finais de semana do mês de maio, o palco recebe o espetáculo “As Malditas“, com os irmãos gêmeos Letícia e Romilson Rodrigues. A peça apresenta um embate ácido e divertido entre duas irmãs, explorando os limites do afeto, da convivência e da memória familiar. A montagem reafirma a vocação do espaço como lugar de criação e de encontro.

Letícia Rodrigues, uma das intérpretes e idealizadoras da peça, destaca o valor simbólico de estar em cartaz justamente neste momento. “Eu, como artista, ocupo espaço porque a minha preocupação é popularizar o teatro, fazer com que as pessoas vão ao teatro, se divertir com o espetáculo”.

Além da peça, o espaço segue oferecendo oficinas, atividades voltadas para o público infantil e incentivo a produções locais, mantendo viva a missão original do seu fundador.

Três décadas depois de sua criação, o Teatro Ednaldo do Egypto resiste como símbolo da luta cultural na capital paraibana. Agora, com a promessa de reforma estrutural e a cobrança por mais diálogo e acesso, cabe ao poder público transformar essa resistência em um espaço permanente de valorização da arte e da cultura.