passinho em alta

Cultura do remix no brega-funk estica sucesso de hits e faz gênero crescer

Gênero vive melhor momento, com versões e passinho em alta. Felipe Original e Dadá Boladão falam de 'Hit contagiante' e 'Surtada, músicas que chegaram mais longe

Em agosto, quando “Evoluiu”, hit de MC Kevin O Chris, passou a perder posições na parada do streaming brasileiro, um som bem semelhante – de autor, até então, pouco conhecido – começou a despontar.
É “Hit contagiante”, remix de Felipe Original, que transformou a música de Kevin O Chris num brega-funk.

O gênero, criado nas periferias de Recife há cerca de uma década, ficou conhecido nacionalmente após o sucesso de “Envolvimento”, de MC Loma e as Gêmeas Lacração. Hoje, vive seu melhor momento: a audiência no Spotify mais que dobrou em 2019.

Seu tradicional “passinho dos maloka” também virou febre. Para Felipe, a dança é um dos pilares do sucesso do ritmo, “É uma batida envolvente, que chegou a muitos grupos de coreografias. Isso ajudou a expandir, junto com a divulgação pelo Instagram.”

“Antes o brega só saía de Recife para o interior. Hoje está sendo reconhecido no Brasil”, ele comemora. No mês passado, sua versão de “Evoluiu” ganhou clipe assinado pela KondZilla, maior produtora de funk do país.

Mas, muito antes disso, Felipe relutou em gravar “Hit contagiante”. Ele diz que, na época, preferia a linha autoral do brega-funk, “não curtia muito remix”.
Criar novas batidas para hits que já estão em alta é uma das marcas do movimento. E, na era pós-”Envolvimento”, são remixes as músicas do gênero que conseguiram chegar mais longe.
Eles dão fama aos MCs do brega-funk, mas também são lucrativos para autores originais, que veem suas músicas permanecerem por mais tempo nas paradas do rádio e na internet.

Além de “Hit contagiante”, “Surtada” aparece entre as primeiras do Spotify no país. A música usa um sample do rap de mesmo nome, do grupo Calibre 2.1, em parceria com o Oik e o Neobeats.

A versão em brega-funk foi gravada por Dadá Boladão, com Tati Zaqui e o próprio Oik. “O diferencial do brega-funk é que ele é em 170 bpm [mais acelerado que o funk tradicional] e traz batidas novas, que você só ouve nesse ritmo”, explica Dadá.

Como o próprio nome indica, o gênero mescla a batida que nasceu no Rio com elementos do brega romântico do Nordeste. JS, produtor de “Hit contagiante” e outros sucessos, cita que, ao longo do tempo, ele também incorporou referências de reggaeton e trap – vertente do rap.

Autoria compartilhada

Como em qualquer remix oficial, os autores das músicas originais aparecem nos créditos de “Hit contagiante” e “Surtada”, ao lado dos responsáveis pelas versões.
Felipe conta que precisou segurar seu hit por um mês até conseguir a liberação de Kevin O Chris. “Foi difícil. Primeiro, ele liberou o lançamento no YouTube. Acho que nem ele sabia a proporção que ia tomar”, lembra.
“Depois, entramos num acordo e registramos juntos. Aí lançamos em todas as plataformas”. Ele não revela valores do contrato.

É claro que, em muitos casos, MCs criam e compartilham versões das músicas, sem acordo de direitos autorais. Em alguns deles, os próprios autores procuram esses artistas para regularizar a situação, explica Dany Bala, um dos maiores produtores do brega-funk.

“Em Recife, o mercado fonográfico ainda é muito amador. Por falta de conhecimento, os meninos pegam músicas que têm direitos autorais e [os remixes] acabam sendo executados de qualquer forma. Tanto que, às vezes, os autores acabam liberando”, diz.
“É algo que acaba sendo legal para os dois lados. O autor original fica por mais tempo em evidência por causa do remix. E quem fez a versão ganha a visibilidade no mercado.”

Fonte: G1
Créditos: G1