aconselhamento cristão

Governo Federal assina protocolo e amplia parceria com faculdade de coaching religioso dos EUA

Entre seus principais cursos, apontados assim pela própria instituição, estão um mestrado de artes do coaching e um bacharelado em aconselhamento cristão.

Um dos objetivos dessa formação é tornar o aluno “hábil a integrar conhecimento filosófico, literário e histórico dentro da visão bíblica”.

A Florida Christian afirma em suas páginas que busca preparar “profissionais, leigos e pastores para cumprir suas vocações com valores cristãos”.

A instituição diz oferecer aulas para os níveis de tecnologia, bacharelado, mestrado, doutorado e pós-doutorado em quatro áreas: negócios, educação, comportamento —o que inclui aconselhamento e terapia de casal— e teologia.

No detalhamento dos programas, a universidade apresenta cursos como A Vida de Cristo e Reconciliação de Casamentos Rompidos.

Bolsonaro já disse que, apesar de o Estado ser laico, ele é “terrivelmente cristão”. O atual presidente da Capes, Benedito Aguiar Neto, defende a abordagem educacional do criacionismo em “contraponto à teoria da evolução”.

O protocolo foi assinado no ano passado com a Secretaria de Educação Superior do MEC e a Capes, órgão que regula e avalia a pós-graduação. Questionados pela Folha, MEC e Capes não responderam.

Universidades federais receberam na segunda (2) mensagem do MEC em que é comunicado o acordo para “intensificar e ampliar a cooperação”.

A pasta estimula as federais a participarem do 5º Congresso Mundial sobre Educação Global, Desenvolvimento Humano e Gestão da Inovação, organizado pela Florida Christian e a Unifuturo, em maio, na Paraíba. Um dos principais palestrantes é o psiquiatra Augusto Cury, autor best-seller de livros de autoajuda.

A Capes aparece como parceira na divulgação do evento e um servidor do órgão, Ricardo da Costa (ligado à ala ideológica do MEC), comporá uma mesa.

Com base no acordo, a Capes agendou encontros da Florida Christian e da Unifuturo com federais.

Em janeiro, Marcos Vinicius Coelho, da Diretoria de Relações Internacionais da Capes, acompanhou o reitor da Florida Christian, Bruno Portigliatti, em visitas a UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), UFCG (de Campina Grande), UFPB e IFPB (Universidade e Instituto Federal da Paraíba, respectivamente).

A atuação conjunta da Florida Christian e da Unifuturo já foi alvo de investigações no Brasil. Em 2016, a Justiça Federal do Rio Grande do Norte decidiu que a Florida Christian University ofertou de maneira irregular cursos de mestrado e doutorado em educação, por meio de articulação com instituições privadas brasileiras, entre elas a Unifuturo.

Na ocasião, decisão liminar (provisória) da 4ª Vara Federal determinou que a Florida Christian e parceiras interrompessem cursos e emissão de diplomas.

A decisão partiu de ação civil do MPF (Ministério Público Federal). Estudantes haviam se matriculado para cursos de mestrado e, ao longo das aulas, descobriram que faziam especializações.

Folha conversou com duas ex-alunas, de Natal, que perderam entre R$ 6.000 e R$ 8.000 e pediram anonimato. Segundo elas, as aulas mudavam constantemente de lugar, entre diversas parceiras brasileiras.

As Procuradorias federais no Pará e em Pernambuco já haviam ingressado com ações em anos anteriores. No Pará, por exemplo, uma ação de 2013 deu origem a um processo e inquérito policial, ainda em andamento.

Ricardo Monteiro, que é português, é dono da Unifuturo e embaixador da Florida Christian no Brasil. Ele esteve nas visitas organizadas pela Capes.

“Nego qualquer irregularidade e não respondo pela Florida Christian”, disse. “Muitos alunos nossos começam sua graduação no Brasil e terminam nos Estados Unidos.”

Nascido no Brasil, Bruno Portigliatti aparece como reitor da Florida Christian e outras duas pessoas da mesma família constam da diretoria.

Procurado, Bruno disse que o acordo com o MEC tem o objetivo de criar “oportunidades de aprendizagem em diferentes modalidades de ensino”. Ele ressaltou que, a partir do protocolo, ações serão tratadas “em instrumento futuro”.

O reitor afirmou que a Florida Christian tem aulas presenciais em Orlando (EUA) e cursos a distância são oferecidos a “vários países do mundo”.

Sobre a decisão liminar da Justiça do Rio Grande do Norte, Bruno afirma que o mérito ainda não foi julgado e a medida pode ser revertida. “Após quase cinco anos, nem sequer houve uma única audiência.”

A Florida Christian tem um registro de funcionamento concedido pelas autoridades da Flórida. Nos EUA, a qualidade e a reputação dos cursos são atestados de forma descentralizada, por meio de associações regionais reconhecidas pelo Departamento de Educação. A Florida Christian não possui uma acreditação regional desse tipo.

A universidade cita em seu site ser filiada a outras organizações, como a Association for Biblical Higher Education (Associação para Educação Bíblica Superior, em inglês).

Essa entidade, por sua vez, afirma que a mera filiação de uma instituição não significa que ela teve a sua qualidade certificada pelo órgão. É o caso da Florida Christian.

Fonte: Folha UOL
Créditos: Polêmica Paraíba