O renomado crítico e pensador do cinema brasileiro, Jean-Claude Bernadet, faleceu neste sábado (12), em São Paulo, aos 88 anos. Belga naturalizado brasileiro, Bernadet deixa um legado intelectual e artístico inestimável para a história do cinema nacional, e também uma marcante lembrança em Cajazeiras, no Sertão da Paraíba, onde atuou nos anos 1970.
Na década de 70, Jean-Claude ministrou um curso de cinema na cidade para jovens estudantes ligados ao Cineclube Vladimir de Carvalho, criado sob a presidência do então jovem jornalista Nonato Guedes. O cineclube, ativo em plena ditadura militar, era um espaço de resistência e de efervescência cultural. “As aulas de Jean-Claude foram importantes para despertar consciências entre os jovens que já estavam engajados em movimentos de resistência”, relembra Guedes.
Entre os estudantes e ativistas daquele período estavam nomes que depois se destacariam no jornalismo paraibano, como Gutemberg Cardoso, Josival Pereira e Lena Guimarães. Bernadet, mesmo com sua trajetória acadêmica e intelectual já consolidada à época, se fez presente com humildade e simplicidade, tanto nas palavras quanto na postura. “Chamava atenção pela maneira modesta de se vestir e pela grandeza de seu saber, que compartilhava com naturalidade”, destaca Nonato.
Jean-Claude Bernadet em Cajazeiras
Durante sua estada em Cajazeiras, Jean-Claude Bernadet foi acolhido por Iracles Pires, teatróloga, radialista e uma das figuras mais influentes da cultura cajazeirense. “A presença dele na cidade foi um verdadeiro acontecimento. Trouxe à tona debates sobre o Cinema Novo e figuras como Glauber Rocha, numa época em que o Sertão buscava e produzia arte com sede de liberdade”, lembra.
Para Nonato, a passagem do crítico por Cajazeiras simboliza uma época em que a cidade ocupava uma posição de vanguarda cultural. Ele mesmo foi indicado para dirigir o Cineclube durante uma Semana Universitária na gestão de Valiomar Rolim, hoje já falecido.
“Cajazeiras marcou época ao levar Jean-Claude, uma figura icônica na cultura cinematográfica, que deixaria um vasto legado de obras que plasmaram a narrativa da história do cinema brasileiro”, afirma.
Desde que veio para João Pessoa, em 1978, Guedes não voltou a ter contato direto com o crítico, mas seguiu acompanhando com interesse seus escritos, opiniões e entrevistas. Nos últimos tempos, acompanhava com apreensão as notícias sobre seu estado de saúde.
“Jean-Claude Bernadet foi mais que um crítico: foi um farol para o pensamento cinematográfico brasileiro. Sua morte é um grande desfalque para o cinema, o jornalismo e a cultura do Brasil”, conclui Nonato Guedes.
Legado e Obras de Bernadet
Jean-Claude Bernadet (1937–2025)
Crítico, roteirista, professor e ensaísta, Bernadet é autor de obras fundamentais para o estudo do cinema nacional, como “Brasil em Tempo de Cinema” e “Cineastas e Imagens do Povo”. Sua trajetória influenciou gerações de cineastas e pensadores da cultura brasileira.