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Sudeste será região mais afetada por desmate da Amazônia, diz líder do IPCC

O documento liderado pelo brasileiro faz parte de uma trinca de relatórios produzidos para embasar e apoiar o Acordo de Paris.

No final de 2016, Humberto Barbosa, doutor em ciências do solo e sensoriamento remoto pela Universidade do Arizona, se candidatou para o processo de escolha de pesquisadores que produziriam um novo relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), vinculado à ONU (Organização das Nações Unidas), sobre os impactos do solo.

“Candidatei-me sem muita intenção, só para entender como era o processo do IPCC. Não tinha ainda o conhecimento, ma acabei selecionado pelo currículo”, conta o professor e coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites da Ufal (Universidade Federal de Alagoas).

Barbosa disse que o mundo está atento aos posicionamentos do Brasil no que se refere ao meio ambiente e alerta que o Sudeste brasileiro será a região mais afetada caso avance o desmatamento na Amazônia.

Diz também que o semiárido nacional é o local com maior vulnerabilidade do planeta às mudanças globais e defende maior investimento em ciência por parte do governo federal. “Só com mais recursos podemos responder a tudo isso”, afirma.

Segundo estudo do instituto de pesquisa Imazon divulgado na sexta (16), houve um crescimento de 66% no desmatamento na Amazônia Legal no mês de julho de 2019, em comparação com o mesmo período no ano passado. No mês passado, foi detectado o desmatamento de 1.287 km² na região –uma área que equivale à do município do Rio de Janeiro.

Em outro levantamento, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o índice de desmatamento foi bem maior: 278% no mês de julho.

Barbosa liderou o capítulo 4, que aborda a questão da degradação da terra, e assinou o sumário executivo do relatório.  Apesar de ter outros autores brasileiros, foi a primeira vez que um brasileiro liderou um capítulo de um relatório do IPCC. O documento foi concluído e divulgado no último dia 8, após encontro de cientistas e delegados dos países em Genebra, na Suíça. Dos 195 países que compõem o painel, 52 estavam em Genebra.

O documento liderado pelo brasileiro faz parte de uma trinca de relatórios produzidos para embasar e apoiar o Acordo de Paris. O primeiro deles apontou uma alta 1,5º C no aquecimento do planeta. O segundo foi aquele do qual Barbosa participou, sobre clima e terra.

“Pela primeira vez se teve uma resposta sobre as emissões da superfície terrestre. O que esse relatório traz de novo é que as mudanças climáticas estão pressionando a superfície, ao mesmo tempo em que a superfície está pressionando as mudanças climáticas do ar”, diz.

O terceiro documento é sobre oceano e criosfera (regiões da superfície cobertas permanentemente por gelo e neve).

Entre as conclusões do dossiê, modelos estudados apontaram que, enquanto a temperatura global do ar teria aquecido 1º C, a superfície teria se aquecido o dobro. “Os delegados questionaram [a informação] porque seria dizer que a terra está aquecendo mais rápido. A informação foi colocada, mas de forma sutil –sem citar os quase 2º C de aquecimento. Mas está constatado [que a terra esquenta mais que o ar]”, afirma.

Sobre a meta do Acordo de Paris –de zerar as emissões de CO2 até 2050–, ele é cético: “Acho muito difícil”. “A intensificação da agricultura não sustentável globalmente, assim como o aumento da população, tornam essa meta quase inalcançável.”

Fonte: UOL
Créditos: UOL