Duplo luto

'Sofrer a morte do mesmo filho duas vezes é forte demais', diz mãe

Depois de ser declarado como morto em um hospital do Paraná, um agente funerário encontrou o bebê se mexendo, enrolado em um pano. Mas já era tarde demais e Theo não resistiu. Em entrevista à CRESCER, a mãe, Gabriela Moraes Schoenacher, 30, contou detalhes de como tudo aconteceu

A nutricionista Gabriela Moraes Schoenacher, 30, e o marido, Moisés Sant’Anna, 34, que atua como trader, estavam vivendo o sonho do primeiro e tão esperado filho. Mas, infelizmente, 48 dias após o nascimento de Theo, o casal passou pelo pior pesadelo de uma mãe e de um pai: a dor da perda.

A história é inacreditável. Depois de levarem o bebê à emergência de um hospital em Foz do Iguaçu, no Paraná, eles foram informados de que seu filho não havia resistido. No entanto, horas depois, receberam a ligação de um agente funerário dizendo que o menino estava se mexendo. Mesmo com todos os esforços para salvá-lo, Theo não resistiu. “Sofrer essa dor imensa duas vezes é forte demais”, disse Gabriela. Em entrevista à CRESCER, ela, que é carioca, mas vivia há 4 anos no Paraguai com o marido, explicou como tudo aconteceu.

C: O que aconteceu com seu filho? Ele estava doente? Tinha algum problema de saúde?
G: Ele não tinha nada, nasceu perfeito, cresceu bem no primeiro mês, porém, não ganhou muito peso. Apesar da consultoria em amamentação e tudo mais, ele mamava no peito, mas não o suficiente. Por orientação do pediatra, estávamos entrando com complementação por um curto tempo. Era apenas para ele recuperar o peso que não ganhou. No sábado (11) à noite e domingo (12) de manhã, ao tomar a fórmula, ele vomitou e aparentava algum desconforto. Foi por isso que o levamos na emergência.

C: Como foi o atendimento no hospital Unimed? 
G: Entramos no hospital às 13h de domingo (12), ele foi atendido, os médicos receitaram um remédio para o vômito e soro para hidratar. Só que enquanto tomava o soro, ele parou de respirar no meu colo. Tentaram reanimá-lo por 40 minutos aproximadamente, mas ele não resistiu e às 16h30 foi declarado o óbito. Durante a reanimação, faltaram equipamentos adequados para o atendimento de um bebê do tamanho do Theo. Quando deram o atestado de óbito na Unimed, a causa da morte era suspeita de broncoaspiração. Porém ele ainda iria para o IML para que fosse apurado.

C: Como vocês receberam a notícia de que ele ainda estava com vida? 
G: O agente funerário que foi buscá-lo é que identificou que ele ainda estava com vida. Foi ele que entrou em contato com minha avó, que me ligou. A Unimed nunca entrou em contato, inclusive dificultaram o fornecimento de informações por telefone, quando ligamos, durante o retorno ao hospital. Queríamos entender o que aconteceu. O agente funerário encontrou ele se mexendo, enrolado em um pano. Ele não chorou nem chegou a sair da emergência. Estava numa sala de espera para ser levado. Segundo o agente, um segurança já havia visto um movimento duas horas antes e avisou um enfermeiro. Só que ele disse que era um espasmo, uma reação a adrenalina que ele tomou durante a reanimação.

C: Como foram as horas de internação no segundo hospital?
G: Depois que o agente informou que ele estava vivo, a equipe voltou a atendê-lo e fazer o que era possível nas condições que tinham. Mas eles perderam tempo de reanimação buscando os equipamentos adequados para um bebê. Não conseguiram ao menos aquecê-lo o suficiente para conseguir pegar um acesso central e dar o medicamento. Inclusive o SAMU nem queria transportá-lo, porque o protocolo não permitia sem o acesso. Mas a pediatra se responsabilizou pelo transporte e ele foi encaminhado para o segundo hospital por volta das 23h de domingo (12). No entanto, às 10h54 de segunda-feira (13), ele não resistiu. Theo voltou de duas paradas cardíacas nesse período. Uma equipe grande e bem preparada fez o possível para tentar salvá-lo.

C: Como vocês estão nesse momento? Qual é o sentimento?
G: Estamos arrasados, sem acreditar, está difícil. Theo era nosso primeiro filho. Eu já havia perdido um bebê em uma gravidez ectópica no ano passado. Theo era nossa nova esperança. Nos preparamos muito para cuidar dele: fizemos aula de parto, amamentação e cuidados com recém-nascido. Ele foi muito esperado e desejado. Não passou pela cabeça perdê-lo com algo simples e, depois disso, ainda acontecer esse erro de atestar a morte, estando vivo. Ele ficou sem assistência por horas. Se ao ter a parada cardíaca, ele tivesse sido atendido com equipamentos adequados, acredito que havia uma possibilidade dele estar vivo. Tem muita gente achando que foi um milagre e não mal atendimento, além de pessoas querendo saber porque não amamentei, como se eu tivesse sido negligente. Nos dedicamos a ele por 48 dias, 24 horas por dia, e ele ficou sozinho e com frio.

C: Vocês pretendem entrar com uma ação na justiça?
G: Agora, ele já passou pelo IML e o laudo com a causa da morte deve sair em aproximadamente 30 dias. Já demos entrada num processo pelo Ministério Público e demos nosso depoimento. Eu quero justiça contra a instituição para que ninguém mais passe por isso. Sofrer essa dor imensa duas vezes é forte demais.

O QUE DIZEM OS HOSPITAIS?

A Unimed Foz do Iguaçu se pronunciou através de um comunicado em sua página na internet: “A situação é inédita em toda a história da Cooperativa Médica em Foz do Iguaçu e, por respeito a comunidade iguaçuense, informa que está envidando todos os esforços para o completo esclarecimento dos fatos, para que não sejam tomadas conclusões precipitadas nem julgamentos indevidos sobre qualquer profissional que tenha atuado no caso”. A Unimed confirmou que a criança foi atendida no Hospital e disse que assim que assim que forem efetivadas as apurações necessárias, divulgará as devidas providências sobre o caso.

Já a Fundação de Saúde Itaiguapy, que administra o hospital Ministro Costa Cavalcanti (HMCC), confirmou, por meio da assessoria de imprensa, que o bebê deu entrada na noite de domingo ainda com vida. Mas, infelizmente, por conta do estado grave, a criança acabou morrendo na manhã de segunda-feira (13). “Diante do grave quadro clínico em que o paciente se encontrava quando foi admitido na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTI) desta Instituição, a equipe tomou todas as medidas cabíveis para salvar a vida do bebê, porém, o bebê foi à óbito e encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para verificação da Causa Mortis”, afirmaram.

A assessoria de imprensa da Polícia Civil do Paraná informou que instaurou um inquérito para apurar as circunstância e que todas as medidas cabíveis já estão sendo tomadas.

Entramos em contato com a Unimed Foz do Iguaçu, mas ainda não tivemos retorno. Essa matéria pode ser atualizada a qualquer momento.

 

Fonte: Revista Crescer
Créditos: Revista Crescer