crise

Pedreiro mora há 11 anos dentro de túmulo

 Edson Carvalho mora há 11 anos dentro de mausoléu no Cemitério de Marialva: sem medo de assombrações - Foto: J.C. Fragoso/O Diário
Edson Carvalho mora há 11 anos dentro de mausoléu no Cemitério de Marialva: sem medo de assombrações – Foto: J.C. Fragoso/O Diário

Quem visita o Cemitério Municipal de Marialva, na região de Maringá (norte do Paraná) às vezes pode ficar assustado ao ouvir uma voz grave saindo de um túmulo. Trata-se de um homem de 45 anos que há mais de 11 mora, sozinho, em um túmulo abandonado do cemitério.”Tem um monte de gente que se assusta comigo”, afirmou o pedreiro Edson Carvalho ao jornalista Alexandre Gaioto, de O Diário , dando uma boa gargalhada e tragando, com prazer, um cigarro cedido pelo fotógrafo da equipe de reportagem.

Muitas pessoas que residem nas cercanias do cemitério conhecem a história do Edson. “Ele é gente boa, bacana, querido por todos”, comentou a professora Maedani Moreira. “É um homem muito engraçado e inteligente. Sou amigão dele: a gente sempre toma umas pingas”, orgulha-se o caminhoneiro Adriano.

Nem todos gostam
Mas nem todos os vivos aprovam da presença de Edson no meio dos mortos, conforme atestou o jornalista Alexandre Gaioto. O novo coordenador do cemitério, Alexandre Modesto, é um dos principais críticos dessa permanência inusitada. Desde que assumiu o cargo há seis meses, Modesto já autorizou duas notificações para que o morador abandonasse o mausoléu.

“O fiscal vai lá pela manhã e nunca encontra ele no mausoléu”, afirma, queixando-se que o inquilino é “baderneiro” e que aborda as pessoas, durante os enterros, para pedir dinheiro. As declarações de Modesto, porém, não correspondem aos relatos dos próprios funcionários do cemitério. “Edson não é baderneiro: é sossegado, na dele”, comenta um servidor municipal que trabalha na necrópole e não quis ser identificado. “Nunca vi ele pedindo dinheiro em enterro”, ressalta outro funcionário público, que também preferiu não ter o nome revelado.

O jornalista Alexandre Gaioto acrescenta que é até difícil acreditar que aquele sujeito, vestindo camiseta polo azul clara por baixo de uma blusa cinza e calça jeans azul e sapato marrom com respingos de tinta branca, reside dentro de um mausoléu.

Barraco destruído por incêndio
Medindo um metro e setenta, magro, e com uma barba bem feita num dos quatro banheiros do cemitério – que ficam abertos 24 horas por dia -, Edson conta que veio parar no cemitério em 2006, depois que o local em que morava, um barraco de obra no bairro Novo Horizonte, foi atingido por um incêndio. “Perdi tudo o que tinha”, relata ele sobre o RG, as roupas, o par de tênis, o colchão e uma coberta.

Fetichistas vão ao local à noite
À noite, quando Marialva está dormindo, o cemitério ganha nunaces eróticas e sensuais. Casais fetichistas, na calada da noite, pulam a mureta para realizar seus desejos, crentes de que as únicas testemunhas da luxúria são as almas enterradas. E nem desconfiam que há um voyeur dentro de um dos mausoléus, acompanhando todos os detalhes picantes das relações. “Eu vejo tudo o que eles fazem”, revela, com um jeitão sacana, orgulhoso de sua moradia privilegiada.

Fonte: UOL