"abusos e erros"

Papa emérito Bento XVI pede perdão a vítimas de abusos e assume 'erros' durante seu mandato como arcebispo

Duas semanas depois de um relatório apontar que o Papa emérito Bento XVI foi omisso em quatro casos envolvendo abuso sexual de menores quando era arcebispo em Munique, na Alemanha, décadas atrás, ele reconheceu nesta terça-feira que "abusos e erros" ocorreram sob seu comando, mas negou ter agido de má-fé.

Duas semanas depois de um relatório apontar que o Papa emérito Bento XVI foi omisso em quatro casos envolvendo abuso sexual de menores quando era arcebispo em Munique, na Alemanha, décadas atrás, ele reconheceu nesta terça-feira que “abusos e erros” ocorreram sob seu comando, mas negou ter agido de má-fé.

“Tive grandes responsabilidades na Igreja Católica”, disse Bento XVI em sua resposta. “Tanto maior é a minha dor pelos abusos e erros que ocorreram nesses diferentes lugares durante o tempo do meu mandato. Cada caso individual de abuso sexual é terrível e irreparável.”

O Vaticano divulgou a carta de Bento XVI junto com um adendo de três páginas escrito por especialistas jurídicos que contestam as acusações específicas feitas ao Papa emérito no relatório divulgado no mês passado sobre abusos sexuais de menores na Arquidiocese de Munique e Freising.

O relatório, encomendado pela própria arquidiocese a um escritório de advocacia, identificou 497 vítimas de abusos cometidos por integrantes da Igreja Católica no período de 1945 a 2019 e apontou falhas do então cardeal Joseph Ratzinger em tomar medidas em quatro casos quando foi arcebispo, entre 1977 e 1982.

Observando que pediu perdão à Igreja Católica em suas reuniões com sobreviventes de abuso, Bento XVI, de 94 anos, escreveu: “Compreendi que nós próprios somos levados a cometer uma falta grave sempre que a negligenciamos ou deixamos de enfrentá-la com a necessária determinação e responsabilidade, como muitas vezes aconteceu e continua a acontecer (…). Mais uma vez só posso expressar a todos às vítimas de abuso sexual minha profunda vergonha, minha profunda tristeza e meu sincero pedido de perdão”.

No adendo à carta, no entanto, a análise feita por quatro especialistas jurídicos a pedido de Bento XVI contesta as alegações contra ele, dizendo que os investigadores descaracterizaram as ações e ignoraram os fatos. Os especialistas jurídicos disseram em sua análise que os investigadores não demonstraram que ele conhecia o histórico criminal de qualquer um dos quatro padres em questão.

Ao mesmo tempo em que seus advogados refutavam as acusações contra ele, a carta em alemão de uma página e meia de Bento XVI tem um tom pessoal e expressa em termos religiosos reflexões suas sobre uma longa vida que se aproxima do fim. Em um trecho, Bento XVI se pergunta francamente se ele, como todos os católicos o fazem na missa na oração da Confissão, deve pedir perdão pele que foi feito e pelo que deixou de fazer “por minha culpa, por minha máxima culpa”.

Ele escreveu: “É claro para mim que a palavra ‘máxima’ não é usada todos os dias e não se aplica a todas as pessoas da mesma maneira. No entanto, todos os dias ela me faz questionar se também hoje eu deveria falar de uma falta mais grave”. Bento XVI não responde à sua própria pergunta, mas diz que está consolado pelo perdão de Deus. “Em breve, estarei diante do juiz final de minha vida”, escreveu ele.

Bento XVI, que renunciou inesperadamente em 2013, também agradeceu ao Papa Francisco pela “confiança, apoio e orações pessoalmente expressos a mim”. Ele não deu mais detalhes.

Logo após a publicação do relatório alemão, Bento XVI havia reconhecido que esteve em uma reunião de 1980 sobre um caso de abuso sexual quando era arcebispo de Munique, acrescentando que havia dito erroneamente aos investigadores alemães que não estava lá.

Na época, o secretário pessoal de Bento XVI, o arcebispo Georg Ganswein, disse que a omissão foi resultado de um descuido na edição de 82 páginas de depoimentos que ele enviou aos investigadores, e que não houve  má-fé.

Na carta de hoje, Bento XVI disse: “Para mim, provou-se profundamente doloroso que esse descuido tenha sido usado para lançar dúvidas sobre minha veracidade e até mesmo para me rotular de mentiroso”.

O pacote de mídia do Vaticano divulgado nesta terça incluía vídeos de Ganswein lendo a carta do Papa emérito em alemão e italiano. O adendo de três páginas, chamado “Análise dos fatos pelos colaboradores de Bento XVI”, foi escrito por três advogados canônicos e um advogado civil.

Fonte: O Globo
Créditos: Polêmica Paraíba