Conversas revelam

Operação Lava Jato negociou contratação de programa de espionagem para monitorar investigados

Mensagens obtidas através da Operação Spoofing mostram que procuradores negociaram contratação de softwares de espionagem

A operação Lava Jato negociou a contratação do programa de espionagem Pegasus, do NSO Group. A informação está em petição protocolada pela defesa do ex-presidente Lula no STF (Supremo Tribunal Federal) nesta segunda-feira (26). Segundo os advogados de Lula, mensagens obtidas através da Operação Spoofing mostram que procuradores da Lava Jato negociaram a contratação de diversos softwares de espionagem, entre eles o Pegasus.

O spyware foi usado para monitorar jornalistas, opositores, políticos e ativistas ao redor do mundo. O programa infecta dispositivos como um vírus, com o objetivo de extrair mensagens, fotos e e-mails das vítimas, assim como gravar chamadas e ativar microfones secretamente.

De acordo com a petição, as mensagens trocadas entre os procuradores evidenciaram a existência de “atos processuais clandestinos e ilegais”, além da realização de cooperação internacional informal, fora dos canais oficiais, por membros da extinta força tarefa da Lava Jato com autoridades estrangeiras.

“Com efeito, trecho de conversas coletados no chat ‘Filhos de Januário’ (Chat_238583512_p4), de 31.jan.2018, revela que os membros da ‘lava jato’ do Rio de Janeiro e de Curitiba se reuniram com representantes de outra empresa israelense que vendia uma ‘solução tecnológica’ que “invade celulares em tempo real (permite ver a localização, etc)” — que mais adiante foi identificado exatamente como sendo o Pegasus”, diz a petição.

O procurador Júlio Carlos Motta Noronha fala nas mensagens de 31 de janeiro de 2018 que a Força Tarefa do Rio de Janeiro havia se reunido com uma “empresa de Israel” com “solução tecnológica super avançada para investigações”.

“A solução “invade” celulares em tempo real (permite ver a localização, etc.). Eles disseram que ficaram impressionados com a solução, coisa de outro mundo”, diz. “Há problemas, como o custo, e óbices jurídicos a todas as funcionalidades (ex.: abrir o microfone para ouvir em tempo real). De toda forma, o representante da empresa estará aqui em CWB, e marcamos 17h para vir aqui. Quem puder participar da reunião, será ótimo!”.

Outro procurador, identificado como Paulo, questiona o software: “Confesso que tenho dificuldades filosóficas com essa funcionalidade (abrir microfone em tempo real, filmar o cara na intimidade de sua casa fazendo sei lá o quê, em nome da investigação). Resquícios de meus estudos de direitos humanos v. combate ao terrorismo em Londres”, declarou.

O procurador Januário Paludo pergunta: “Nós não precisamos dos celulares originais para fazer a extração?” e Julio Noronha responde: “Neste caso, não; extração remota e em tempo real. Preciso ver as funcionalidades, se é possível segregar, etc., sobretudo pensando nas limitações jurídicas. De toda forma, acho que é bom conhecermos pelo menos”.

O programa de vigilância foi criado originalmente para combater o crime e o terrorismo, mas uma investigação mostrou que o software foi utilizado para monitorar jornalistas, ativistas e opositores em vários lugares do mundo. O programa permite invadir telefones celulares e acessar dados como contatos, localização, gravações, bem como ativar a câmera e o microfone, sem se descoberto.

Fonte: Poder360
Créditos: Polêmica Paraíba