Em um momento de forte rejeição do Congresso ao decreto que eleva a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) optou por adotar um tom conciliador em discurso neste domingo (1º), durante a posse do prefeito do Recife, João Campos, como presidente nacional do PSB. Sem mencionar diretamente a polêmica do imposto, Lula reforçou a importância do diálogo com o Legislativo e fez um afago público ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), a quem chamou de “querido” e “novidade na política brasileira”.
A medida que aumentou o IOF desagradou não só a oposição, mas também aliados do governo, além de setores do empresariado e economistas. A repercussão negativa levou lideranças do Congresso a se mobilizarem para tentar derrubar o decreto, o que colocou o governo em alerta. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já havia afirmado que não revogaria a decisão, apesar da pressão.
Em seu discurso, Lula costurou uma narrativa sobre a importância de alianças políticas inusitadas, citando a própria chapa com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) nas eleições de 2022 como exemplo de superação de divergências ideológicas. “Era praticamente impossível e impensável por qualquer cientista político imaginar que eu e Alckmin estariam juntos na presidência da República desse país”, disse o presidente.
Foi nesse contexto que Lula destacou Hugo Motta, que ao longo da semana cobrou alterações no decreto do IOF e teve reuniões com Haddad e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). “Quero cumprimentar o nosso querido deputado Hugo Motta, que também considero uma novidade na política brasileira. Independentemente do partido que você pertence, o teu comportamento e a tua eleição como presidente da Câmara são a demonstração de que, dentre tantas coisas ruins que nós vivemos, começam a acontecer coisas boas, e isso é extremamente importante”, afirmou Lula.
Busca por consenso
Sem citar projetos específicos, Lula ressaltou que decisões relevantes para o país precisam do apoio do Congresso e que tem se empenhado em envolver parlamentares nas decisões e nos bastidores do governo. Segundo o presidente, essa aproximação inclui convites para viagens oficiais, com o objetivo de dar transparência às negociações e facilitar a aprovação de pautas no Parlamento.
“Nós estamos convencidos de que todas as decisões que a gente tiver de tomar em benefício do povo brasileiro, temos de tomar na construção da maioria. E já é uma coisa que tem acontecido. Tenho feito questão de convidar para viagens o presidente da Câmara, o presidente do Senado, os deputados indicados pelas lideranças e senadores”, disse Lula.
Para o presidente, a participação direta de parlamentares nas discussões ajuda a construir apoio interno. “Quando o presidente viaja sozinho e volta com uma proposta de acordo, eles não compreenderam como é que foi feito. Se eles estiverem juntos participando, vão ver como aconteceu e será muito mais fácil convencer o conjunto das bancadas de que aquela atitude é muito importante”, concluiu.
O gesto de aproximação ocorre no momento em que o governo busca recompor sua base e evitar derrotas no Congresso, especialmente em temas com impacto fiscal, como o próprio IOF. A presença de Lula no evento do PSB e suas declarações sinalizam uma tentativa de preservar pontes com líderes influentes da Câmara, diante de um cenário cada vez mais sensível.