"Galpão inoperante"

Leitos vagos em hospital exposto por deputados bolsonaristas são para pico da pandemia

O setor, no entanto, é utilizado como reserva de vagas para eventual necessidade no pico da pandemia

Leitos vagos em hospital exposto por deputados bolsonaristas são para pico da pandemia

Acusado pela Prefeitura de São Paulo de invadir o hospital de campanha do Anhembi ontem, na zona norte, um grupo de deputados estaduais alegou haver desperdício de dinheiro público com a criação de uma ala até o momento sem a ocupação de pacientes. O setor, no entanto, é utilizado como reserva de vagas para eventual necessidade no pico da pandemia.

Composto por nove parlamentares, o grupo autodenominado PDO (Parlamentares em Defesa do Orçamento) decidiu visitar de surpresa o hospital de campanha na tarde de quinta-feira (4), quando foram barrados pelos seguranças da SPTuris.

“Os deputados chegaram de surpresa e foram impedidos de passar pelo portão principal”, informou a Iabas, organização social que cuida do complexo. “Instalada a confusão, uma funcionária (…) autorizou a entrada dos deputados para evitar a continuidade do tumulto.”

Uma vez dentro da área do Anhembi, os deputados “se desgarraram dos funcionários e invadiram”, sem paramentação, a área do hospital. “Apenas depois de apelos os parlamentares aceitaram se paramentar”, diz nota enviada ao UOL.

A prefeitura ameaça prestar queixa contra os parlamentares por invasão. Uma live (veja vídeo acima) transmitida pela deputada Letícia Aguiar (PSL) mostra o momento em que ela e os colegas adentram uma ala do hospital ainda sem pacientes.

“Deputado não pode entrar, é área contaminada!”, grita uma funcionária do hospital. “Essa área não está aberta, cadê o segurança?”

Segundo os deputados, no entanto, “no exercício do mandato, temos livre acesso às repartições públicas para diligências para, pessoalmente, visitar os órgãos. Foi isso o que o grupo quis fazer”. Em nota, eles disseram ainda que tinha autorização da Iabas para entrar, o que a organização nega.

“Galpão inoperante”

O grupo decidiu visitar o hospital após anúncio feito pelo governo estadual de alugar 4.500 leitos em hospitais particulares ao custo de R$ 594 milhões “sob o argumento de aumentar a capacidade de atendimento a pacientes”.

“Suspeitava-se que a situação era de extrema gravidade ao ponto de se recorrer à iniciativa privada, mas o que se viu no Hospital de Campanha do Anhembi foi um imenso galpão inoperante”, afirmam.

Em vídeos divulgados em redes sociais, o deputado Márcio Nakashima (PDT) diz que encontrou leitos vazios, enquanto Adriana Borgo (Pros) afirma que “não tem doente porcaria nenhuma”.

Com capacidade para 1.800 pacientes, o hospital de campanha do Anhembi tem 397 pessoas internadas. Outros 3.700 pacientes já passaram por lá, com 2.800 curados, segundo a prefeitura.

De acordo com a gestão Bruno Covas, a ala “invadida” pelos deputados ainda não foi ativada, mas está pronta para receber novos pacientes em caso de necessidade.

Ala sem pacientes é necessária?

Para o infectologista Renato Grinbaum, conselheiro da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumatologia E Tisiologia) “os deputados deveriam dar graças a Deus por haver vagas no hospital de campanha”.

“É um sinal de que o isolamento social trouxe resultados e de que a prefeitura se preparou para o pico da pandemia, que ainda não chegou”, afirmou ao UOL. “Uma coisa que sempre se cobra das autoridades é planejamento. É mais do que razoável que as autoridades preparem o país para uma eventual piora da situação.”

Se o governo não se preparar e as pessoas estiverem morrendo, essas autoridades serão cobradas por isso
Renato Grinbaum, infectologista

Para o médico, “a politização da pandemia” impacta o trabalho dos médicos. “Tem paciente que chega exigindo cloroquina, por exemplo. É difícil para o profissional trabalhar e ser técnico nessas situações.”

A deputada Letícia Aguiar diz lamentar “o desperdício de dinheiro público” em uma estrutura temporária: “Um hospital enorme, sem demanda a um custo muito alto. Estamos questionando a necessidade disso. A prefeitura deveria recuar e desativar essas alas que estão vazias”.

Apontado como bolsonarista por parlamentares da situação, o PDO se define como “um grupo suprapartidário”, que não faz oposição ao governador João Doria (PSDB).

Até ontem, São Paulo tinha registrado 8.561 óbitos e 129.200 casos oficiais de covid-19. No Brasil, esse número era de 34.021 mortes e 614.941 casos.

 

Fonte: Uol
Créditos: Uol