Saúde mental

Jovens sofrem mais com saúde mental no Brasil; saiba quando e onde procurar ajuda

"Muita gente acha que precisa de um ‘motivo grande’ para buscar ajuda. Mas qualquer sofrimento psíquico já é motivo suficiente”, extensionista de serviço psicológico da UFPB explica a dificuldade que o estigma traz para o tratamento.

Divulgação: Futuro da Saúde
Divulgação: Futuro da Saúde

Brasil – A juventude brasileira vive uma crise silenciosa. De acordo com o Panorama da Saúde Mental, pessoas entre 18 e 24 anos apresentaram o pior índice de saúde mental do país no primeiro semestre de 2024: apenas 575 pontos em uma escala que vai até 1000.

Os dados são do Índice Contínuo de Avaliação da Saúde Mental (ICASM), criado pelo Instituto Cactus em parceria com a AtlasIntel. A escala, baseada em questionário validado internacionalmente (GHQ-12), mede aspectos como vitalidade, confiança e foco. Embora não seja um diagnóstico clínico, o índice aponta tendências e vulnerabilidades populacionais. E quem mais sofre são justamente os jovens adultos, muitos deles universitários.

“Eu pensei em desistir”

A rotina acadêmica, a pressão por desempenho e a inserção no mercado de trabalho são
uma combinação perigosa para a saúde mental. A estudante Clara Meneses, de 23 anos, é exemplo disso.

Nos últimos anos de sua graduação em Jornalismo na Universidade Federal da
Paraíba (UFPB), ela enfrentou crises severas de ansiedade e agorafobia — definida pelo
Instituto Einstein como um transtorno marcado pelo medo de estar em lugares públicos e
sofrer ataques de pânico.


“Quis desistir porque era muito difícil sair de casa. Me dopava de remédio para conseguir ir à aula, mas sentia que não estava lá de verdade. Não aprendia, só me forçava a continuar”, conta.


O impacto foi direto: Clara precisou estender o tempo de sua graduação por causa das dificuldades: se atrasou. Apesar disso, não chegou a buscar apoio psicológico dentro da universidade. “Fui pelos meios que eu sabia que seriam mais rápidos. Não sabia bem como funcionava a rede de ajuda da UFPB.”

Ajuda existe, mas nem todos chegam lá

Casos como o de Clara são mais comuns do que parecem. Mesmo com uma rede de apoio
disponível, muitos estudantes não procuram ajuda — seja por medo, desinformação ou
desânimo diante da burocracia.

“Ainda existe muito estigma. Muita gente teme ser vista como fraca ou incapaz por procurar
apoio psicológico”, explica Maria Clara Marques, extensionista do NAEPSI, projeto de
extensão da UFPB que oferece serviço psicológico gratuito nas quartas-feiras.

O NAEPS é um núcleo de conversa e escuta psicológica que atende todas as
quartas-feiras, de forma presencial e online, e está aberto a toda a comunidade — não
apenas alunos.

“Muita gente também não sabe que o serviço existe ou acha que precisa de
um ‘motivo grande’ para buscar ajuda. Mas
qualquer sofrimento psíquico já é motivo suficiente”, completa a extensionista.


Juventude em adoecimento

Diante deste processo de adoecimento de uma parcela da população, especialistas explicam que os problemas enfrentados pelos jovens vão além do ambiente universitário. A mestranda em Psicologia Social, Gabrielle Cabral, aponta o modelo de vida atual como fator de adoecimento.

“Parece que nosso valor está sempre atrelado à produtividade. Mesmo gastando toda nossa energia, muitos jovens não conseguem uma vida minimamente confortável. Isso gera frustração e sofrimento”, afirma. Ela também destaca o isolamento agravado pela pandemia: “Ficou mais difícil criar vínculos fora das redes sociais. Isso impacta diretamente no bem-estar.”

Rede de cuidado em construção

Na UFPB, programas como o Escuta Pós ajudam a divulgar serviços de acolhimento
psicológico disponíveis na instituição. A iniciativa criou o Mapa da Rede de Cuidado em
Saúde Mental, que orienta estudantes sobre onde e como buscar atendimento.

Segundo o material do programa, os estudos podem promover saúde e qualidade de vida, mas também podem se tornar fonte de estresse. Neste sentido, buscar ajuda profissional é fundamental para lidar com os desafios acadêmicos e emocionais.

Exemplos como o de Clara mostram como esse apoio pode ser decisivo no processo de recuperação. A estudante que segue em processo de superação, reconhece a importância da universidade nesse processo. “Voltar a conviver com os amigos, aprender coisas novas, estar no ambiente universitário — tudo isso me ajudou a reencontrar sentido.”

Serviços de apoio psicológico na UFPB

NAEPS – Núcleo de Acolhimento e Escuta Psicológica

  • Clínica Escola de Psicologia (CCHLA – UFPB)
  • Quartas-feiras
  • 8h às 10h | 13h às 15h (presencial)
  • 18h às 20h (online – todo o Brasil)
  • Atendimento via WhatsApp

Escuta Pós

  • Mapeamento e orientação sobre serviços psicológicos disponíveis para alunos da pós-graduação e comunidade universitária