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Hugo Motta liderou motim na Câmara e acabou lua de mel com governo

Foto: Internet
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A robusta derrota aplicada ao governo Lula na noite de ontem pelo Congresso Nacional derrubando as regras do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) que o Planalto havia editado entre maio e junho acabou de vez com a lua de mel entre o governo e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) e explicitou a lista de reclamações de partidos aliados com a gestão petista.

Segundo reportagem da “Folha de São Paulo”, as motivações vão desde o atraso na liberação de dinheiro para emendas até a suposta aliança entre o governo e o Supremo Tribunal Federal contra essas verbas, além do discurso de petistas e governistas de que o Congresso será o responsável pelo aumento do valor da conta de luz.

A nova derrota de Lula na Câmara contou com a adesão quase total de União Brasil, Republicanos, PP e MDB, além da maior parte de PSD, PDT e PSB. Ao todo, essas siglas controlam 14 ministérios. Foram 383 votos para derrubar o decreto do presidente da República que não ficou propriamente surpreso com a derrota. O resultado já havia sido alardeado por parlamentares contrários à medida e o próprio presidente Hugo Motta manifestou-se em rede social sobre a colocação da matéria em votação, apesar do esvaziamento do Congresso por causa dos festejos juninos e dos protestos em favor de uma maior discussão do tema.

Rebelião na câmara e impacto no Governo Lula

A “Folha” confirma que o deputado paraibano Hugo Motta foi o principal condutor da rebelião, tendo anunciado a votação que iria derrubar os decretos de Lula em rede social às 23h35 de terça-feira, 24, pegando até líderes partidários da oposição de surpresa e contrariando seu discurso de que haveria previsibilidade na condução da presidência da Câmara. Além de não ter avisado com antecedência, Hugo Motta também não atendeu a pedidos de conversas feitas por parte de líderes partidários, da articuladora política do governo, a ministra Gleisi Hoffmann, e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Mesmo o governo dobrando em apenas um dia o montante de emendas parlamentares liberadas no ano, de R$ 898 milhões para R$ 1,72 bilhões na terça-feira, o discurso no Centrão é de que o cronograma está bastante atrasado e tem colocado prefeituras pelo país em situação de colapso. Pela primeira vez, governistas falaram abertamente em tom crítico a Motta, político com quem vinham tendo uma espécie de lua de mel desde sua eleição para o comando da Câmara em fevereiro, revela a “Folha”. O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ) disse que a atitude de Motta foi um “erro grave” e uma “provocação infantil”, enquanto líderes de partido da base de Lula também disseram ter considerado que Motta errou na condução do caso, principalmente ao não avisar com antecedência à ministra da articulação de Lula. Gleisi Hoffmann foi uma das primeiras petistas a manifestar apoio à candidatura de Hugo à presidência da Câmara.

Não faltaram comparações entre a gestão de Motta e a do antecessor Arthur Lira (PP-AL), que apesar de ser duro com o governo, ao menos informava integrantes do Palácio do Planalto sobre suas decisões. Governistas afirmaram à “Folha” enxergar influência do senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente do Progressistas e ex-ministro da Casa Civil no governo Jair Bolsonaro, nas decisões de Motta. Motta relatou a líderes aliados o sentimento de que o governo quer desgastar o Congresso, citando falas de integrantes do Executivo de que o Legislativo seria gastador e de notas publicadas na imprensa. Outra queixa do Centrão é de que o governo ainda não honrou o compromisso de pagar emendas de anos anteriores, travadas por decisão judicial e que estimularia o ministro Flávio Dino, do STF, a avançar com julgamentos para retirar poder do Congresso sobre os recursos do Orçamento.

Nonato Guedes