por que homenageamos?

HOMENAGENS CONTROVERSAS: Conheça estátuas espalhadas pelo Brasil que honram figuras perversas

Elencamos alguns exemplos de estátuas pelo Brasil que levantam esse questionamento de acordo com seus papéis históricos.

A estátua do bandeirante Borba Gato, no bairro de Santo Amaro, zona sul de São Paulo, foi alvo de um protesto no último domingo (24),a manifestação provocou um debate nas redes sociais sobre homenagens a bandeirantes ligados à caça e à escravização de índios e negros. É imenso o número de monumentos em homenagem a bandeirantes e outras figuras que a história nos mostra que foram homens perversos, mas mesmo assim receberam homenagens através de estátuas em vários pontos do país.

Especialistas tomaram as redes e os meios de comunicação para discutir o que fazer com esses monumentos. Alguns defendem sua destruição, outros defendem que eles sejam apenas retirados e colocados em museus, e outros acham que eles devem ser apenas ressignificados.

Elencamos alguns exemplos de estátuas pelo Brasil que levantam esse questionamento de acordo com seus papéis históricos.

Padre José de Anchieta

Em Portugal, a estátua do Padre Antônio Vieira foi envolvida nos protestos antirracistas no mês passado. Foram desenhados corações nas crianças indígenas retratadas ao redor deles. Na figura do padre, foi escrita a palavra “descoloniza”. Os padres jesuítas foram responsáveis pela catequização dos indígenas, pois eles atestavam que eram um povo sem Deus e sem coração, um sério retrato da colonização e do racismo. Em Santos, litoral paulistano, há essa estátua do Padre José de Anchieta evangelizando um indígena… Bem.. E uma onça…

Duque de Caxias

O coronel Luís Alves de Lima e Silva, conhecido como Duque de Caxias é uma das figuras mais lembradas quando se fala em militares brasileiros, foi uma figura imperialista e escravocrata. Ele foi designado como Presidente e Comandante das Armas da Província para conter a revolta da Balaiada, no Maranhão, liderada por escravos e trabalhadores. Usando força desproporcional — canhões e armão de fogo contra facões e foices –, a retaliação de seu exército gerou, ao todo, 10 mil mortos. Esta estátua fica em São Paulo e é de Victor Brecheret!

Bento Gonçalves

Assim como Duque de Caxias, Bento Gonçalves é nome de cidade no Brasil, além de praças, ruas e outras coisas que o elevam a posto de homenageado. E, claro, estátua. Esta fica em Porto Alegre. Assim como Duque de Caxias, Bento foi líder de grupo militar e escravocrata. Ele comandou tropas que lutaram em várias batalhas e foi líder da Revolução Farroupilha, que pretendia separar o Rio Grande do Sul do resto do país. Um dos episódios mais emblemáticos da Guerra dos Farrapos é o Massacre de Porongos, que foi uma emboscada que culminou na morte dos Lanceiros e Infantes Negros, combinada entre David Canabarro e (adivinhem?) Duque de Caxias. O episódio é visto como uma traição dos Farrapos aos negros que lutavam junto a eles sob a promessa mentirosa de terem sua liberdade.

Emílio Garrastazu Médici 

Filiado ao ARENA, Médici foi um dos presidentes do Brasil durante a ditadura militar. Aqui, ele é representado num monumento em Cuiabá. O seu mandato foi o mais cruel no que diz respeito a torturas, desaparecimentos e assassinatos da oposição política. Estudos da Comissão da Verdade mostraram que ele tinha total conhecimento do uso sistemático de violência praticado nos quartéis pra onde eram levados os presos políticos na época. Um relatório da Human Rights Watch mostra que ditadura no Brasil torturou 20 mil pessoas e pelo menos 434 foram mortas ou desapareceram. Muitas mortes e desaparecimentos são reivindicados até hoje devido ao movimento genocida dos militares brasileiros na época.

Joaquim Pereira Marinho

Nascido em 1816, Joaquim Pereira Marinho foi um militar, político e traficante de escravos que viveu até 1887. Entre 1839 e 1850, período em que a importação de africanos para serem escravizados já estava proibida no Brasil, navios registrados no nome do português fizeram 33 viagens entre o Brasil e a África, de acordo com o Banco de Dados do Tráfico de Escravos Transatlântico. A estimativa é de que ele tenha trazido cerca de 11.584 homens, mulheres e crianças para serem escravizados na Bahia. Atualmente, na capital do estado, Salvador, há uma estátua em sua homenagem na frente do Hospital Santa Izabel, parte da entidade filantrópica privada Santa Casa de Misericórdia da Bahia.

Bartolomeu Bueno da Silva (Anhanguera)

O próprio “apelido” já denuncia o caráter deste outro bandeirante, que viveu entre 1672 e 1740: Anhanguera é uma transliteração de línguas indígenas que significa diabo velho ou espírito maligno. Bueno da Silva ficou conhecido como Anhanguera por sua crueldade com os povos locais ao explorar regiões de São Paulo e Goiás. Mas isso não impediu que recebesse dezenas de homenagens. Além de monumentos em cidades de ambos os estados, há também rodovias (a Rodovia Anhanguera, em São Paulo, tem 453 quilômetros), parques, emissoras e até faculdades com o apelido do bandeirante.

Borba Gato

A estátua do bandeirante no bairro de Santo Amaro, zona sul de São Paulo, foi um dos principais alvos da atual onda de protestos. O bandeirante que viveu entre 1649 e 1718 percorreu as matas de São Paulo e do Mato Grosso, alargando os limites do tratado que dividia o país entre Portugal e Espanha. O problema é que um dos objetivos dessas expedições era caçar indígenas e escravizá-los: muitas aldeias foram dizimadas por causa de Borba Gato.

Floriano Peixoto

Em 1894, Florianópolis trocou de nome para homenagear Floriano Peixoto, outra figura bastante polêmica. O segundo presidente da República ficou conhecido como o “Marechal de Ferro” por promover guerras e resolver conflitos com violência. Chegou a ordenar o fuzilamento de 185 pessoas, entre catarinenses e estrangeiros, em uma ilha próxima à cidade que o homenageia, com o objetivo de sufocar a Revolução Federalista de 1893. Além de batizar a capital catarinense, dá nome a praças, ruas e avenidas Brasil afora, e é homenageado no primeiro monumento da Cinelândia, no Rio de Janeiro.

Então, precisamos revisar quais as homenagens estamos fazendo e pensar o que queremos de fato homenagear

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba