Embora haja pendências aparentemente complexas a serem equacionadas é
inegável que o governador João Azevêdo (PSB) tem avançado nas démarches para
coesão do grupo político que lidera com vistas à formação da chapa majoritária para
- O ensaio de composição é feito, mesmo, entre três partidos protagonistas – o
Progressistas, que tem o vice-governador Lucas Ribeiro na ante-sala do poder, o
Republicanos, que cresce no Legislativo e tem gana de protagonismo alcançando
diretamente o Poder Executivo e o PSB, que tenta uma sobrevida oferecendo o nome
do próprio João Azevêdo como candidato ao Senado. Há impasse quanto à
acomodação do “clã” Lucena, representado pelo prefeito de João Pessoa, Cícero, e por
seu filho, o deputado federal Mersinho Lucena. Como ambos são do PP, supõe-se que
o líder do Progressistas, deputado federal Aguinaldo Ribeiro, resolva a parada, apesar
dele não esconder insatisfação com a precipitação do processo.
Há fatos que estão conspirando, naturalmente, para pavimentar a antecipação de
definições em torno da disputa eleitoral do próximo ano no bloco oficial. Um deles foi
a iniciativa da própria senadora Daniella Ribeiro (PP) de anunciar que admite desistir
da candidatura à reeleição ao Parlamento se o consenso dominante for pela
candidatura do seu filho, Lucas, a governador do Estado. Lucas tem tido preferência
pela perspectiva concreta de vir a se investir na titularidade do cargo com a
desincompatibilização de João Azevêdo e, desse posto, candidatar-se à reeleição. O
prefeito Cícero Lucena chegou a fazer objeções sobre o conceito de “candidatura
natural”, lembrando que o termômetro para indicação de candidato é a posição nas
pesquisas de opinião pública. Foi um gesto em causa própria, já que Cícero figura em
alguns levantamentos de institutos com percentual expressivo para concorrer ao
governo e considera, mesmo, que já abriu mão em outras oportunidades, em outros
contextos, com grupos políticos diferentes, da ambição de postular o Palácio da
Redenção, que chegou a ocupar por dez meses quando era vice de Ronaldo Cunha
Lima no PMDB.
O anúncio de Daniella, anuindo com a desistência de concorrer a um novo
mandato, teria sido decisivo para levar o governador a ser mais afirmativo na intenção
de anunciar-se candidato ao Senado, pela possibilidade que abre de uma coesão no
bloco oficial. A confirmação do interesse de João Azevêdo em ser candidato foi bem
recebida entre partidos aliados e o anúncio de Daniella acalmou os ânimos dentro do
Republicanos, como vocalizou o presidente da Assembleia Legislativa, Adriano Galdino,
que vinha advertindo sobre a falta de espaço para dois Ribeiro na chapa majoritária
dentro do esquema governista. A avaliação no entorno de João é que Daniella foi
prudente e proativa com sua manifestação, favorecendo o encaminhamento das
discussões sobre espaços na chapa com a contemplação de outros partidos e
agrupamentos políticos, como parte da “construção”, que é como o governador
classifica o processo desfechado.
Na verdade, o Republicanos presidido pelo deputado federal Hugo Motta não
formalizou claramente compromisso de apoio a uma candidatura de Lucas Ribeiro ao
Executivo porque a definição do cabeça de chapa está condicionada a tratativas mais
abrangentes, envolvendo o quinhão de poder de cada aliado na representação política
para 2026. Em tese, o próprio Adriano mantém a pretensão de ser candidato na chapa
majoritária, quer ao governo ou ao Senado, e o Republicanos lutará pelo menos para
ter a vice-governança se o consenso pela cabeça de chapa for mesmo em prol do
nome de Lucas Ribeiro. O pacote englobaria também a preservação do comando do
Legislativo Estadual, que até aqui tem sido ocupado por Galdino, batendo recordes de
efetividade à frente do poder na Casa de Epitácio Pessoa.
Na opinião de interlocutores oficiais, o governador João Azevêdo está mais
confiante e seguro nas decisões desde que admitiu levar adiante o projeto da
candidatura ao Senado, desafiando os próprios segmentos da oposição que sempre
duvidaram da sua capacidade de se afastar do governo e concorrer sem a caneta que
nomeia e demite. Com isto, o ambiente tornou-se mais respirável dentro do bloco
governista, algumas intransigências foram dissipadas e o empenho é para tornar sólida
a unidade. João mobiliza-se para costurar pactos, conciliar interesses e acomodar
pretensões dentro do metro quadrado permitido pela formação da chapa majoritária.
A palavra de ordem tem em vista não facilitar a infiltração oposicionista, para tanto
agindo no sentido de desmontar manobras divisionistas e desacreditar acenos de
prestígio feitos pelos adversários. O gesto de Daniella, indiscutivelmente, abriu esse
caminho.