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FILHOS NA PANDEMIA: Conheça a história de mães que deram à luz em meio ao caos e morte

Nesse cenário caótico de mortes, infecções e incertezas, muitas mães lutaram e ainda lutam para terem seus filhos saudáveis, sobreviverem contando um final feliz de suas vidas

Final de 2019… A pandemia da Covid-19 que já dura mais de um ano veio com força em cima da humanidade. Nesse cenário caótico de mortes, infecções e incertezas, muitas mães lutaram e ainda lutam para terem seus filhos saudáveis, sobreviverem contando um final feliz de suas vidas. Conheça as histórias de algumas dessas mulheres:

Larissa Freitas

A jornalista de 26 anos relatou os momentos difíceis que passou e como fez para superar o dia a dia até a chegada de Luís Antônio, que veio ao mundo no dia 13/02/2021. “Difícil! Não tive todos os direitos por conta das medidas de proteção. Por exemplo, tive que escolher entre o acompanhante e a doula. Como tive parto normal, a máscara incomodou bastante, até chegar uma hora que precisei tirar e me arriscar na sala de parto, pois não conseguia fôlego para fazer força. Uma das coisas que depois do parto me chamou atenção foi o número de pessoas que estavam na sala durante o trabalho de parto, a equipe tinha 7 pessoas, fora eu e meu acompanhante, em uma sala pequena, ou seja, aglomeração. O medo era grande, até porque mesmo não sendo maternidade de covid, o andar de baixo era a parte em que o pessoal com covid era tratado, até as pessoas com novas cepas do vírus, de todo jeito corremos risco”.

Larissa contou ainda o que sentiu quando Luís Antônio nasceu. “Quando Luís nasceu estava muito emocionada e com medo, afinal estávamos no foco do vírus, que era o hospital. Torcia muito para ter alta e chegar em casa, onde era mais seguro. Como medida de proteção, decidimos não receber visitas e intensificar as medidas de proteção. Durante uns dias eu usava a máscara para pegar nele e amamentar porque fiquei com medo de ter pego covid nos momentos em que precisei ficar sem a máscara no hospital. Hoje sinto uma felicidade imensa por ter dado à luz a esse ser tão lindo e que só trouxe alegria para a minha vida”, ressaltou.

Ludimira Silva

A dona de casa Ludimira Silva, 33 anos, teve um desejo estranho. “Senti vontade de tomar café, mas eu não gosto de café, meu marido já ficou desconfiado, pois a menstruação também estava atrasada”, conta. Para tirar a prova, fez um teste de farmácia. Em minutos, o teste mostrou: Miguel estava a caminho. “Comecei a chorar, queria bastante. Tinha o sonho de ter um casal de filhos”, lembra.

Ludimira já era mãe de Laís, de 7 anos. “É uma sensação muito diferente do primeiro filho. Com essa pandemia, estou mais com esse instinto de cuidar, de proteger”, ressalta. Miguel nasceu em 22 de janeiro, de parto normal. “Quando o colocaram em cima de mim, fiquei muito emocionada, era bem pequenininho. A palavra que me definiu foi gratidão. Até hoje olho para ele e penso: será que é meu mesmo?”

Mariana Oliveira

Quando descobriu a gravidez do primeiro filho em fevereiro de 2020, a servidora pública Mariana Oliveira, 32, quis surpreender o marido, Wellington Rocha: comprou faixas amarelas e pretas, que passou nas extremidades da porta de um dos quartos da casa, e fixou uma placa com os dizeres: “Cuidado: em obras. Em breve um quartinho para o nosso bebê”. Entregou a ele o teste e anunciou que seria pai. Toda a cena foi registrada pela câmera do celular e, depois, publicada nas redes sociais.

Em vez de um evento que reunisse a família e os amigos para contar da gravidez, Mariana e Wellington usaram o recurso possível naquele contexto de pandemia: um perfil no Instagram. “É como se fosse uma cápsula do tempo, onde vou colocando os principais momentos da vida do Dom e das nossas descobertas juntos.” A primeira postagem, de março, é sobre a espera do primeiro filho. Desde então, cada fase da gestação é divulgada nas redes. O chá de revelação virtual foi todo transmitido ao vivo pelo YouTube.

“Meus avós, tios e amigos só me viram grávida através de videochamada. Sabia que o isolamento era necessário, e ainda é, então fiquei conformada com as outras formas de aproximação promovidas pelas redes sociais, pois todos estávamos seguros assim”. Em abril, foi a vez da “charreata”: os amigos chegaram em carros enfeitados e paravam em frente à casa do casal, em Vicente Pires, para entregar as fraldas. “Mesmo a distância me emocionei muito”, relata. Dom nasceu de parto normal, em 25 de setembro.

Laurene Nascimento

Às 6h em ponto, a turismóloga Laurene Nascimento, 37, já estava dentro do carro, pronta para sair de casa, em Taguatinga, rumo à Asa Norte. A gestação do terceiro filho, Samuel, tinha chegado às 39 semanas e a cesárea já poderia ser feita. Ele nasceria naquele 6 de dezembro. “Já estava orando para chegar logo o dia”, diz.

Ela, o marido e a irmã chegaram ao Hospital Universitário de Brasília (HUB) às 6h40. O que ela não esperava era que o procedimento só seria feito às 15h, mas a pediatra disse a Laurene: “Você não precisa ficar com medo, vou colocar o Samuel em cima de você na hora que ele nascer”. “Fiquei aliviada depois que deu tudo certo, a gente é bem assistido lá”, lembra.

De volta à enfermaria, Laurene não tirava os olhos do caçula. “No quarto, tinha um banheiro que era compartilhado, eu queria ir embora logo, pois tinha medo de o Samuel pegar a covid”. Ainda na maternidade, o bebê foi testado. Dois dias depois, a família voltou para casa. “Meus filhos são uma bênção, é cansativo, mas é maravilhoso cada evolução deles”, assegura Laurene.

Allice Souza

Na véspera do nascimento do primeiro filho, a estudante Allice Souza, 26, estava inquieta. “Me veio aquele instinto de mulher, senti que estava vindo, comecei a arrumar a casa, fazendo exercício para ajudar a vir (de parto) normal.” À 0h, ela e o namorado, Luís Henrique Pereira, 23, juntaram a malinha, preparada com as roupinhas do bebê, que combinavam com as deles, e rumaram para o centro obstétrico da Maternidade Brasília, escolhida após uma intensa pesquisa. “Liguei em todas as maternidades de Brasília para saber os procedimentos, lá me senti acolhida”, conta Allice.

Apesar da dilatação e das cólicas, Allice só entraria em trabalho de parto sete horas depois. “Foi 100% humanizado, meu namorado estava comigo o tempo todo, as mensagens não paravam de chegar no celular, uma rede de apoio é essencial nessas horas”, afirma. Às 9h30, enquanto Allice fazia mais um exame, pressentiu que o filho se aproximava. Davi nasceu naquele 8 de novembro. “Realmente, o primeiro sentimento é de alívio, a dor passou quando ele saiu. Depois, quando ele veio para os meus braços, chorei de felicidade.”

Taurina, Allice afirma que a gestação despertou nela o sentimento de proteção. “Não boto o pé para fora de casa, não quero pagar para ver”, diz. Quando a rotina voltar ao normal, ela já tem planos para o pequeno. “Quero muito poder viajar com ele para praia ou hotel fazenda, sempre fui de rua. Ir ao Parque da Cidade ou Jardim Botânico, pegar um sol, ver gente, sentar em um lugar tranquilo e aproveitar a tarde sem ter que pensar se tem gente espirrando por perto. Quero poder ficar em paz”, finaliza.

Silvia

A Silvia, mãe do Fábio Júnior, que vai completar um mês de vida na próxima quarta-feira. E também a Rita, mãe da Maria, que já completou 30 dias no último dia 7.

Silvia, que teve o seu primeiro filho depois de uma espera de 12 anos contou na entrevista que estava com 8 meses de gestação, quando foi decretada a pandemia. “Fiquei bem receosa pelo fato de ter que ir ao hospital, mas foi bem tranquilo. Só tinha mais uma pessoa em trabalho parto”, contou. Ela teve a companhia apenas do marido.

Com o isolamento social sendo cumprido, Silvia não pode contar com o apoio diário dos avós do Fábio Junior: “Aprendi a dar banho sozinha”, disse. Inclusive, as lembrancinhas para as visitas que não chegaram a acontecer ainda estão guardadas, esperando tudo isto passar.

Rita

Já Maria, foi a quarta filha de Rita, que por ter um bebê de apenas 1 ano e meio, já teve uma gestão diferente desde o início. “Comecei a ir nas consulta de pré-natal sozinha, sem o meu marido, que ficava com o bebê. Quando surgiu a pandemia, ela já estava pra nascer. Aí foi mais difícil ainda ter o acompanhamento de alguém. Eu ia em todas consultas e exames sozinha”, relatou.

Mas felizmente, assim como no outro caso, para o parto foi permitida a presença de um acompanhante – o seu marido. “Tinha muito receio de não poder ter um acompanhante devido a pandemia. Mas ocorreu tudo bem, ele pode participar e deu tudo certo”, contou.

Segundo Rita, mais difícil foi o pós-parto, já que ela ficou em um quarto com muitas pessoas, de inúmeros casos e cirurgias. “Me deixou receosa”, relatou. As outras filhas de Rita são adolescentes e tiveram que deixar a casa da mãe neste momento de quarentena, para que o isolamento social possa ser cumprido à risca.

Mães que tiveram partos na pandemia reforçam importância do uso de máscara

Algumas mulheres que deram à luz durante uma pandemia do novo coronavírus estão reforçando nas redes sociais para que as pessoas usem máscaras e mantenham o distanciamento social. O objetivo é frear o número de contágio. Elas argumentam que, como conseguiram usar o item durante o parto, não é difícil fazer o mesmo ao ir para o supermercado ou restaurante.

A radialista Jai ​​Kershner, que tem asma, deu à luz seu primeiro filho, Mak, no dia 18 de junho. “Se eu posso usar uma máscara durante 38 horas, entre uma cesariana e recuperação … Você pode fazê-lo por uma hora enquanto corre para o supermercado e / ou outras atividades.” Se eu puder usar uma máscara durante 38 horas de trabalho de parto, uma cesariana e recuperação. . . Você pode fazer isso por uma hora enquanto corre para o supermercado e / ou outras tarefas. #WearADamnMask

Jai Kershner disse o que a #WearADamnMask a inspirou para escrever a respeito em suas redes sociais: “Eu cheguei em casa [do hospital] e continuava vendo pessoas reclamar sobre isso como ‘se você não se sente confortável em estar perto de pessoas que não usam máscaras, então não saia ‘”. E completou: “Uma máscara é um inconveniente. Não é o fim do mundo. As pessoas que reclamam de ir ao supermercado, você pode usar uma máscara por 20 ou 30 minutos. Tudo bem”.

Julia Kite-Laidlaw teve uma reação semelhante às manifestações contra o uso, depois de dar à luz os gêmeos Daphne e Francis em maio, na cidade de Nova York. Ela precisou usar a proteção facial durante o período que permaneceu internada no hospital e também nas duas semanas seguintes quando ia visitar seus recém-nascidos. “Há tanta coisa que não sabemos sobre o coronavírus, se você poderia salvar uma vida apenas colocando uma máscara, por que não?”.

Em seu relato na rede social, ela escreveu: “Passei por um trabalho de parto enquanto usava máscara, mas há homens crescidos neste país que não conseguir lidar com o pedido de amarrar um trapo no rosto para ir ao supermercado? Nunca mais me considerarei uma fracote”, disse Julia Kite-Laidlaw.

Foto: Larissa Freitas e Luís Antônio

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba