solidariedade

Filha doa dinheiro de 'vaquinha' de pai que morreu com câncer para criança com a doença

A quantia, mais de R$ 8 mil, foi destinada à pequena Luma César Fernandes, de quatro anos, que também luta contra a doença.

A comerciante Carina Aparecida Borges da Silva, de 35 anos, perdeu o pai para o câncer há cerca de 20 dias. Mas, ela resolveu transformar a dor em uma boa ação, e doou todo o dinheiro arrecadado em uma campanha virtual que fez para o tratamento de Carlos Silva, de 63 anos. A quantia, mais de R$ 8 mil, foi destinada à pequena Luma César Fernandes, de quatro anos, que também luta contra a doença, em Santos, no litoral paulista.

Carina conta que Silva descobriu que estava com câncer, já em estado avançado, em novembro de 2019. “Meu pai tinha câncer no fígado, que deu metástase para os ossos, e tinha um câncer na cabeça”, explica. Como o pai não tinha plano de saúde, a filha arcou com todos os exames que ele precisou fazer após descobrir a doença.

Porém, o médico que o atendeu disse que o câncer já estava em um estado muito avançado, e que não tinha mais o que fazer. Com isso, a família começou uma corrida contra o tempo para garantir um tratamento ao idoso, no intuito de que ele ganhasse mais dias de vida.

“Meu pai começou a perder a visão, ficou cego de vez, foi se debilitando e tinha muitas dores. Começou tratamento com morfina e foi emagrecendo cada vez mais. Mas, ele tinha muita fé, vontade de viver, não se entregava, e isso que nos movia a correr atrás das coisas para ele”, conta a filha.

No Dia dos Pais deste ano, Silva pediu para que a filha fizesse uma campanha de arrecadação para ele, com o intuito de arcar com o custo da quimioterapia e radioterapia, porque a família não tinha condições financeiras. Foram arrecadados R$ 8.815,33, mas ele não resistiu a tempo de fazer o tratamento e morreu no dia 15 de outubro.

“Foi muito doloroso perder ele assim. Mas, hoje, estou com a alma lavada por ter feito essa doação para a Luma. Como pedi o dinheiro para a finalidade de ajudar meu pai com o tratamento do câncer, achei que seria errado usar para qualquer outro fim, como pagar o enterro, e pensei que o certo seria doar para outra pessoa que estivesse em tratamento da mesma doença. Se não deu certo para o meu pai, pode dar certo para outra pessoa, e sei que ele gostaria que eu fizesse isso”, diz a filha.

No dia do sepultamento de Silva, uma amiga contou para Carina a história de Luma, e ela resolveu fazer a doação à criança. “Tenho certeza que meu pai está orgulhoso da minha atitude, onde quer que esteja. Escolhi uma criança porque ela tem tanto o que viver na vida, e a Luma tem só 4 aninhos, e já passou por muita coisa. Eu olhei para ela e pensei: ‘e se fosse um filho meu?’. Lutei tanto para que o meu pai tivesse um tempo a mais de vida, e já que ele não teve, eu espero que ela tenha. Eu queria poder fazer mais por outras pessoas, também, porque isso é amor, e o mundo precisa disso. Eu sei que meu pai faria igual”, finaliza.

A luta de Luma contra o câncer

Luma foi diagnosticada com um câncer na cabeça depois de diversas idas a hospitais da rede pública de Santos. De acordo com a mãe, ela sempre foi uma criança saudável e nunca havia apresentado nenhum sintoma que a fizesse desconfiar da doença. Em junho de 2019, Luma começou a reclamar de uma forte dor de cabeça e passou a vomitar com frequência.

A mãe relata que a criança foi diagnosticada diversas vezes com virose, e que os médicos a liberavam das consultas. Depois de idas e vindas a diversos hospitais, a menina foi levada pela mãe ao Pronto Socorro da Zona Leste, onde um pediatra viu a seriedade do assunto e correu atrás da internação de Luma, que foi encaminhada ao Pronto Socorro Silvério Fontes.

No dia 5 de julho, Luma fez a tomografia que constatou um tumor cerebelar meduloblastoma nível 4, um dos mais agressivos. Desde então, faz tratamento contra a doença.

A mãe da criança, Jéssica César Fernandes, de 27 anos, e o pai estão desempregados desde então, e cuidam em tempo integral de Luma e de seus outros dois filhos, um de 2 anos e outro de 6 meses. A criança continua tendo acompanhamento semanal em São Paulo e faz avaliação para saber o próximo passo do tratamento. “A princípio, subimos duas vezes por semana, porque ela está com as plaquetas muito baixas. A gente vai se virando como pode”, diz Jéssica.

Além dos gastos de ir semanalmente para São Paulo, a família precisa arcar com o dinheiro da alimentação quando passa o dia no hospital, e ainda tem as contas de casa para manter em dia.

“Já aconteceu de passarmos o dia sem comer, por só ter o dinheiro para ir e voltar. Esse dinheiro vai nos ajudar muito. A Luma está tomando vários remédios, que às vezes não tem no hospital e nos postos de saúde. Agora, ela está usando sonda, então, está sendo preciso gastar com suplemento. E ainda vai dar uma aliviada em algumas contas, senão ficaríamos sem luz, sem água”, conta a mãe.

A família também mantém plano de saúde para Luma. “Quando ela me procurou para fazer a doação, nem acreditei. Fiquei muito feliz. Antes de ela nos procurar, eu e meu marido já não sabíamos como fazer para arcar com tudo. Ficamos muito gratos e emocionados em sabermos que ainda existe gente boa assim. Foi muito lindo o gesto dela”, finaliza Jéssica.

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: G1