casos de ataques

Em nove meses, Bolsonaro cometeu 299 ataques ao jornalismo, diz Fenaj

Nos últimos nove meses, casos de ataques a jornalistas e veículos de comunicação cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro chegaram a 299, revela o relatório "Monitoramento de discursos, entrevistas e postagens em redes sociais" realizado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) entre janeiro e setembro deste ano, divulgado nesta quarta-feira. 

Nos últimos nove meses, casos de ataques a jornalistas e veículos de comunicação cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro chegaram a 299, revela o relatório “Monitoramento de discursos, entrevistas e postagens em redes sociais” realizado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) entre janeiro e setembro deste ano, divulgado nesta quarta-feira.

Segundo a pesquisa,  as agressões correspondem a 33 casos por mês neste período, em média um por dia. De acordo com a Fenaj, a maioria, 259, é classificada como descredibilização da imprensa. Trinta e oito casos foram registrados como “ataque ao profissional jornalista”. E outros dois casos são classificados como ataque à organização sindical.

O relatório cita a ameaça feita por Bolsonaro a um jornalista de O GLOBO enquanto o profissional questionava sobre cheques no valor total de R$ 89 mil que teriam sido depositados entre 2011 e 2016 pelo ex-assessor Fabrício Queiroz e pela esposa dele, Márcia Aguiar, na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro: ’Vontade de encher sua boca na porrada… seu safado”, disse o presidente.

A pesquisa cita também a descredibilização feita por Bolsonaro à imprensa durante seu discurso na abertura da 75ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU): “Como aconteceu em grande parte do mundo, parcela da imprensa brasileira também politizou o vírus, disseminando o pânico entre a população. Sob o lema “fique em casa” e “a economia a gente vê depois”, quase trouxeram o caos social ao país”, completou.

Para a presidente da Fenaj, Maria José Braga, os Poderes Legislativo e Judiciário são coniventes com os ataques feitos por Bolsonaro.

— Bolsonaro não possui respeito pelo trabalho da imprensa, como uma das instituições necessárias à democracia. A elite política do país, inclusive as instituições como os Poderes Legislativo e Judiciário, aceitam a prática autoritária do presidente, seu desrespeito às liberdades de expressão, de imprensa e sua violência contra os jornalistas — afirmou Maria José, complementando: — O presidente busca a descredibilização da imprensa com o objetivo de manter fiel seus apoiadores e assim garantir seu capital político, mas acredito que grande parte da sociedade brasileira acredita no jornalismo e em seus profissionais.

Procurada pelo GLOBO, a assessoria do Palácio do Planalto não retornou os questionamentos sobre a pesquisa.

Veja alguns ataques do presidente contra jornalistas:

16 DE JANEIRO

Em entrevista na saída do Alvorada, Bolsonaro atacou diretamente um repórter da “Folha da S.Paulo”:

“Você é da Folha de São Paulo? Eu quero ver quando a Folha de S. Paulo vai desfazer a covardia que vocês fizeram com a Wal do açai, de Angra dos Reis (RJ). Quando vocês falaram que ela tava trabalhando no açaí, ela tava de férias, conforme boletim efeito da Câmara. Então A Folha de São Paulo não tem crédito pra acusar ninguém, não tem credibilidade. Lamentavelmente, uma péssima imprensa que faz a Folha de São Paulo (…) Você acabou. A Folha de São Paulo acabou. Sai fora, Folha de São Paulo, você não tem moral de perguntar nada”.

[…] “Você é da Folha, Folha fora, não quero conversa com a Folha de S. Paulo. Quando vocês vão desfazer a covardia que fizeram com uma mulher pobre lá em Angra dos Reis? Com a Folha de S. Paulo não quero conversa, outra pergunta”.

[…] “A gente lamenta que a Globo não faça um trabalho contra o prefeito, faz contra o povo brasileiro, igual a Folha, não faz um trabalho contra mim, faz contra o Brasil”.

16 DE JANEIRO

Na saída do Alvorada, no fim da tarde, Bolsonaro foi questionado sobre as denúncias de que o chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Fabio Wajngarten, recebeu, por meio de uma empresa da qual é sócio, dinheiro de emissoras de TV e de agências de publicidade contratadas pela própria secretaria, ministérios e estatais do governo Jair Bolsonaro, responde a repórter da Folha:

“Você tá falando da tua mãe?”

16 DE JANEIRO

Em discurso oficial durante Solenidade de Passagem de Comando da Operação Acolhida no Palácio do Planalto, Bolsonaro atacou os jornalistas presentes:

“E como a história bem diz, a nossa imprensa tem medo da verdade, deturpam o tempo todo, e quando não conseguem deturpar, mentem descaradamente. Esse é o livro dessa japonesa que não sei o que faz no Brasil, o que faz agora contra o governo. São aqueles que o tempo todo trabalham contra a democracia, contra a liberdade, estão a soldo do que não presta em nosso Brasil.”

[…] “Essa imprensa que está aqui agora, me olhando, estou sob suas lentes, comecem a produzir verdade, porque só a verdade pode nos libertar. A essa imprensa: não tomarei nenhuma medida para censurá-los, mas tomem vergonha na cara, deixem o nosso governo em paz para poder levar paz, tranquilidade e harmonia ao nosso povo. “Se tenho coragem de falar isso agora é porque eu tenho consciência do que acontece no governo. Nos encontros que tenho, nas minhas viagens internacionais, as conversas, o que nós podemos fazer para o bem do Brasil. Há pouco a imprensa falou barbaridades sobre a possível taxação do aço e do alumínio. Resolveu-se o problema. Nenhuma linha, por parte deles, sobre esse feito. Há pouco a grande imprensa também nos atacou por ter a Argentina, há poucas semanas, ter prioridade para a OCDE. Não temos uma briga contra a Argentina. O comércio mundial não tem amizades. Conseguimos mudar a situação. Essa nossa imprensa também não diz nada

05 DE FEVEREIRO

Em entrevista na saída do Palácio do Alvorada, Bolsonaro voltou a ser questionado sobre as denúncias envolvendo Wajngarten e atacou, de novo, o repórter da “Folha”.

“Você deve ser da Folha de São Paulo né. Muda o disco, tá há um mês batendo no Wajngarten. Muda o disco, pô! Tá ok? O Wajngarten continua mais firme do que nunca”

“O objetivo é botar você pra raciocinar! Outra pergunta aí”.

13 DE FEVEREIRO

Na saída do Alvorada, Bolsonaro criticou o jornal “Valor Econômico” e os repórteres:

“Se tivesse conversado com vocês nos últimos dias, é tudo complicado, rebuliço, porque tudo é deturpado, inventado, lamentavelmente vocês sabem como é. Não são vocês, são os editores.”

[…] “Cara chato pra caramba. Qual tua imprensa? Qual tua imprensa? Jornalista: Valor Econômico Vocês fizeram duas matérias da minha campanha me esculhambando, dizendo que a minha política econômica é igual da Dilma. Tô aguardando vocês falarem que se equivocaram, tô aguardando.”

18 DE FEVEREIRO

Bolsonaro ataca jornalistas do jornal Folha de S.Paulo”:

“Interpretação de vocês, tá certo? Vocês estudaram pra isso, pra interpretar texto. Quem não interpretar texto, tem que voltar pra faculdade. Tem que voltar de novo pra faculdade, quem não sabe interpretar texto”

[…] “E olha a jornalista da Folha de S. Paulo, tem mais um vídeo dela aí. Não vou falar aqui que tem senhora aqui do lado, ela fala ‘Eu sou tototo-tatata do PT’. E o depoimento do River, Hans River, final de 2018 para o Ministério Público, ele diz do assédio da jornalista em cima dele. Ela queria um furo, ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim. Lá em 2018 ele já dizia, que ele chegava perguntando, ‘O Bolsonaro pagou pra você, divulgar né, pelo whatsapp informações’”.

Fonte: O Globo
Créditos: Polêmica Paraíba