Nada de golpe

"É mentiroso. Não dei a declaração", garante ministro Braga Netto sobre relato de ameaça à democracia destinada a Arthur Lira

"Eu não mando recados. Eu não tenho interlocutor. Isso é mentiroso"

Após reportagem do jornal O Estado de São Paulo afirmar que o ministro da Defesa, Walter Souza Braga Netto, havia mandado um recado em tom golpista ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o ministro respondeu e disse na manhã desta quinta-feira (22) que o relato é “mentiroso”. Segundo o Estadão, o conteúdo da fala era uma ameaça de bloquear as eleições de 2022 caso o Congresso não aprove o voto auditável em urnas eletrônicas.

Braga Netto teria enviado “um duro recado” ao presidente da Câmara no último dia 8 de julho, “por meio de um importante interlocutor político”. Ainda de acordo com o jornal, “o general pediu para comunicar, a quem interessasse, que não haveria eleições em 2022, se não houvesse voto impresso e auditável. Ao dar o aviso, o ministro estava acompanhado de chefes militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica”.

No entanto, Braga Netto respondeu as informações do jornal de forma incisiva: “Eu não mando recados. Eu não tenho interlocutor. Isso é mentiroso”, disse ao Poder360.

Arthur Lira também respondeu e disse que o episódio é “mentiroso”: “Mentira. Absurdo. Você acha que tem cabimento algo assim? Acha que pode haver golpe? Isso não existe. E chama a atenção que essa história vem no dia seguinte ao anúncio do Ciro Nogueira indo para Casa Civil, com o governo caminhando para a política. Não existe essa história de golpe”.

Numa rede social, Lira disse que o brasileiro “vai julgar seus representantes em outubro do ano que através do voto popular, secreto e soberano”, voltando a acenar contra a abertura de um processo de impeachment.

Braga Netto foi perguntado se ele poderia explicar as recentes declarações do presidente Jair Bolsonaro, dizendo que o voto impresso auditável seria uma condição fundamental para haver eleições em 2022. O ministro respondeu que não comenta o que diz o presidente. Sobre haver ou não o voto impresso acoplado às urnas eletrônicas, o ministro disse: “Isso é uma decisão do Congresso”. E foi questionado: “Mas e se o Congresso não aprovar o voto impresso de verificação auditável?”.

“Será uma decisão do Congresso. [Se não for aprovado] o presidente pode pensar se tem como recorrer. Isso não é problema da Defesa. A Defesa tem ferramentas para auxiliar, para testar a urna, se precisar, mas desde que isso seja solicitado. Essa é uma decisão política, se querem uma eleição transparente. Isso já foi até aprovado anteriormente e não entendo por que há essa discussão toda”, disse Braga Netto.

Ao final da conversa, o ministro voltou a negar que tenha feito ameaça ou mandado recado para Arthur Lira por meio de um interlocutor: “Não dei a declaração. Não mandei recado. Não fiz nada disso”.

Procurado, o Ministério da Defesa também afirmou que “não existe e nunca existiu” desejo de golpe. “O mundo de hoje não comporta esse tipo de ação que a imprensa quer imputar ao governo”, disse uma pessoa do ministério. “Nem se os ministros ou o presidente quisessem, aconteceria. Não moramos em um país africano longe da fiscalização de todo o mundo”.

No mesmo dia em que o Estadão afirma que Braga Netto teria enviado recado à Lira, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) falou algo semelhante em público: “Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições”, disse Bolsonaro em 8 de julho.

O presidente voltou a dizer que o Brasil poderia não ter eleições em 2022 no dia seguinte. As falas aconteceram na mesma semana em que o Ministério da Defesa e os comandantes das Forças emitiram uma nota repudiando falas do senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pandemia no Senado.

Depois desses episódios, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) fez um pronunciamento em defesa da democracia. Lira não se pronunciou na ocasião.

Fonte: Poder360
Créditos: Polêmica Paraíba