Polêmica

CONDUTA IMORAL: Wal do Açaí contradiz Bolsonaro e reforça atuação como sua funcionária fantasma

Advogados que assinam a ação de improbidade movida contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) alegam que praticou conduta “imoral e manifestamente ilícita” durante 15 anos, período em que manteve Walderice Santos da Conceição, conhecida como Wal do Açaí formalmente como secretário de seu gabinete parlamentar.

A conclusão do Ministério Público é que Wal era um funcionário fantasma, como revelado por Folha em janeiro de 2018.

“Tal conduta, absolutamente imoral e manifestamente ilícita, foi praticada repetidamente durante mais de 15 anos, tendo apenas cessado devido à repercussão negativa, após divulgação pela imprensa, durante a última campanha eleitoral”, escreve o Ministério Público.

Apesar da ação ter sido assinada por oito procuradores federais, a investigação foi conduzida pelo procurador João Gabriel Morais de Queiroz.

No depoimento prestado durante as investigações, Walderice não apresenta quase nenhum indício de que realmente tenha exercido alguma atividade legislativa para Bolsonaro, confirmando que nunca foi a Brasília. Ela mora na pequena Aldeia Histórica de Mambucaba, em Angra dos Reis (RJ), na mesma rua que Bolsonaro ter uma casa de verão.

Wal também fez declarações que contradizem as declarações públicas do Presidente da República em relação ao caso.

Entre outros, Wal diz que sempre falou com Bolsonaro e praticamente só com ele. A atual presidente, por sua vez, disse que o contato dela era com outros assessores, não com ele. Wal também diz que escondeu dos moradores de Mambucaba que era secretária parlamentar de Bolsonaro. O então deputado disse que o papel do assessor era trazer para ele demandas de moradores da localidade.

De acordo com vários moradores da região entrevistados pelo Folha em 2018, Wal prestou serviços particulares na casa de Bolsonaro. Ainda segundo eles, seu marido, Edenilson, era o zelador do presidente.

“Mambucaba fica a mais de 50 km do centro de Angra dos Reis e, segundo Walderice e Edenilson, o número de moradores não chega a 300, sendo a maioria parentes de Walderice”, diz o MPF.

Os procuradores prosseguem: “Não há como justificar a manutenção de uma secretária parlamentar, com jornada de 40 horas, exclusivamente para receber as demandas de seus habitantes, principalmente quando o próprio Bolsonaro declarou não ter interesse, nem era representante dos eleitores. daquele país. região”.

De acordo com a peça do MPF, embora seja admitido que Wal tenha recebido demandas de cerca de 300 moradores e as repassasse esporadicamente ao deputado, “tal atividade não justifica, por si só, sua manutenção no cargo de secretário parlamentar por mais de 15 anos . ”

Leia trechos do depoimento de Walderice ao Ministério Público:

Além desta associação de moradores, existiam outras associações com as quais você mantinha contato? Não não. Nosso lugar é muito pequeno. Nosso bairro é muito pequeno.

Antes de conhecê-lo (Bolsonaro), como você trabalhava? Teve alguma atividade profissional? Eu tinha uma banca de jornal.

E esse era o único trabalho antes de ser assessor parlamentar? Ou teve outras atividades? Não. Trabalho, sempre trabalhei.

O que você fez? Homestay e, mais tarde, com a banca de jornais. Tive a oportunidade de montar uma banca de jornal. Havia uma banca de jornal ali.

E você trabalhava em uma casa de família na Vila? sim.

E era diarista ou tinha um emprego fixo? Não, nenhum emprego fixo.

Como é o seu dia a dia lá na Vila de Mambucaba? Como é sua rotina diária? O que você faz normalmente? Olha, é tranquilo. Eu… acordo… cedo, ando, ando pelas ruas. Quando não há nada para fazer… geralmente, não há muito o que fazer aqui. Agora, por exemplo, a gente estava conversando muito com o deputado, antes… antes de eu pedir demissão Folha, sobre a segurança da Vila. Aqui nunca tivemos assalto, roubo, nada, e foi muito. Então, estávamos conversando muito sobre isso. Os moradores estavam reclamando disso, para ver o que ele podia fazer.

Você tem telefone fixo em sua casa? Não.

Qual é a sua educação? Tenho até a 4ª série.

Você estudou até a 4ª série. Você fez algum curso técnico? Não.

E alguém controlou essa jornada? Houve algum controle ou não? Você só se reportou ao deputado? Entrei em contato com o deputado.

Com outros servidores do gabinete, você manteve contato também? Não não.

E com que frequência foi esse contato com o deputado? Olha, depende muito.

Mas, em média, você poderia dar um…? Uma vez por mês.

Você ligou para ele (Bolsonaro) e relatou o que estava acontecendo? Este.

Quantos habitantes há na aldeia? Na Aldeia Histórica? Fixo? Fixo deve ter uns 300 (trezentos) e tal.

Você assumiu o cargo aqui em Brasília? Como foi sua posse? Olha, como te disse, trabalho na Aldeia Histórica. Eu nunca estive em Brasília.

Foi secretário, assessor ou assistente parlamentar? Houve uma diferença, você pode dizer? Conselheiro, não sei se há alguma diferença de uma posição para outra.

Existe um escritório lá? Como funciona? Não. Eu não tenho um escritório. Até porque, se ele (Bolsonaro) colocasse um escritório em todos os lugares que ele tem, não teria como colocar um escritório. O que eu faço é ir às reuniões da associação de moradores, ver o que o bairro precisa, e eu falo para ele por telefone.

Você coordenou alguma atividade administrativa lá? Não.

Havia alguma equipe de servidores além de você lá? Não.

Você também, como não tinha outros servidores, também não tratou de nenhum assunto relacionado a contratação, demissão, assiduidade, férias? Não.

Veja, por estar listada no Ministério da Fazenda, existe uma empresa chamada Walderice Santos da Conceição, cadastrada no CNPJ sob o número 15810208000143, comércio varejista de produtos alimentícios em geral ou especializada em produtos alimentícios não especificados anteriormente, com atividades que eram iniciou em 29/06/2012 uma sociedade unipessoal em seu nome, você já abriu esta empresa? Não, nunca foi aberto.

Você desconhece esse fato aqui, informado pela Receita Federal? Esta loja nunca foi aberta.

Por que a loja se chama “Wal do Açaí” e não “Lu do Açaí”? Não se chama “Lu Açaí” porque a banca se chamava “Wal Açaí”. Sou muito conhecido na Aldeia Histórica e na região, porque joguei futebol. Assim ficou.

Quem comprou comida para esses cães? A ração, neste caso, quando precisei, meu marido comprou.

E como foi o pagamento disso aí? Quem pagou por esta ração? [Advogado interfere e responde ao fundo “O Bolsonaro.”]. [Walderice] Não entendi a pergunta.

Quem pagou a ração? Doutor, peço que não interfira, por favor. Quem pagou a ração? Olha, seu Jair.

Então como ele fez isso? Ele transferiu esse dinheiro para você? Como isso funcionou? Para o seu Edenilson? Meu marido comprou. Quando ele (Bolsonaro) chegou lá, ele tomou as providências certas.

Ele só fez o ajuste quando foi para a aldeia? sim.

Mas, você mesmo disse que ele (Bolsonaro) não ia lá? Mas, olha… olha, compra comida para o cachorro… a gente não ia deixar o cachorro sem comida.

Certo. Qual é a sua renda familiar? A senhora disse que está ganhando em torno de R$ 200, R$ 300. Agora sim. Agora sim.

Quanto seu Edenilson recebe na aposentadoria? Salário mínimo.

Você é secretária desde 2003, é isso? Assessor Parlamentar.

Conselheiro desde 2003. Nesse período, você poderia listar para nós os principais projetos que ele (Bolsonaro) apresentou para a região? Olha, como você deve saber, a maioria dos projetos do deputado nunca foram aceitos, certo? Projeto ele teve muitos, mas passaram…

Aliás, não conheço com profundidade a atuação parlamentar do deputado. Acho que você sabe muito mais do que eu. A senhora disse: “você deve saber”. Mas lá tem muitos deputados, são mais de quinhentos, eu realmente não conheço as ações de cada um, não acompanho. Por isso estou perguntando para a senhora, que trabalhou diretamente com ele. Por isso estou perguntando. E então, estou perguntando especificamente na região onde você trabalhou. O que posso te dizer é isso, projetos que ele tinha, mas não passou.

Ok, você poderia listar alguns desses projetos, mesmo que não tenham sido aprovados? Olha o momento. Agora você me pegou de…

Você não se lembra de nenhum? Não.

Você já escreveu cartas, correspondências para o deputado Bolsonaro? Não, era só para o, às vezes eu ligava para o gabinete e falava com aquele que morr3u*, o seu, o seu Jorge e com ele, mais, mais com o próprio deputado.

Você já cuidou de emitir passagens, reservar passagens aéreas para o deputado? Não.

Preparou projetos de matérias legislativas como propostas, pareceres, votações? Não.

Pronunciamento? Já preparou um pronunciamento para o deputado? Não.

Prestou assistência a algum parlamentar ou alguma autoridade em compromisso oficial lá na aldeia ou na região? Não

Você aconselhou o deputado Jair Bolsonaro em reuniões de comissões, audiências públicas, outros eventos em que ele participou? Aqui em Angra?

Em algum lugar, você já participou, já fez, prestou esse serviço? Não, aqui em Angra não, porque quando ele veio aqui foi de férias, né?! Então eu não tinha.

Você acompanhou alguma matéria legislativa, publicações oficiais no Diário de interesse do parlamentar? Não.

Você leu o Diário Oficial diariamente, publicações oficiais? Você fez esse acompanhamento? Não, eu seguia mais artigos de jornal.

Quais são os jornais que circulam na Vila de Mambucaba? O Globo, Dia, o Extra.

Esses jornais circulam todos os dias na aldeia? sim. Não que eu tenha comprado, mas meus amigos compraram e eu estava sempre lendo.

Você tratou de material de escritório, grampeadores, papel, algo assim relacionado à atividade parlamentar? Você cuidou disso aí? Não.

Você tem email? Não.

Você disse que não tem um computador, certo? Não.

Você sabe usar um computador? Muito mal.

Então você não operou nenhum programa de computador no escritório? Não.

Nem mantinha banco de dados, nem digitava textos? Não, o que eu fiz foi só isso, o que eu fiz foi só, fazer essa troca entre ele e a Vila Histórica pelo telefone, ou quando ele ia de férias eu passava as coisas pra ele.

Você tem carteira de motorista? Não.

Você tem algum documento que comprove que você o ajudou em sua atividade como parlamentar? Não. Até porque, o que eu estava falando para vocês, a nossa casa é muito pequena, então era assim, eu estava encarregado de ligar para ele e passar a informação.

Fonte: Polêmica Paraíba com Aracaju agora noticias
Créditos: Polêmica Paraíba