ENEM 2020

Comissão do Enem sugeriu 'não utilizar' 66 questões do banco de itens e alterar 'ditadura' por 'regime militar'

Na edição do Enem 2020, duas questões tiveram o gabarito alterado após críticas de que as respostas consideradas corretas incitavam o racismo.

 

Criada em 2019, a comissão que avalia o conteúdo das questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) sugeriu “não utilizar” 66 questões do Banco Nacional de Itens (BNI). Entre elas, 18 eram itens pré-testados e 48 eram itens novos.

De acordo com os avaliadores, essas perguntas apresentavam “leitura direcionada da história”, “leitura direcionada do contexto geopolítico”, e “polêmica desnecessária”. Em um dos itens, foi sugerido alterar o termo “ditadura” por “regime militar”.

O teor do parecer da comissão consta em uma resposta do Ministério da Educação (MEC) enviada à Câmara dos Deputados a partir de uma requisição feita por oito parlamentares.

O parecer não apresenta o conteúdo das questões, apenas os resultados das análises.

Em 2018, o presidente Jair Bolsonaro criticou uma questão de linguagens do Enem que falava sobre o pajubá, um conjunto de expressões associadas aos gays e travestis e disse que iria “tomar conhecimento da prova antes”.

A comissão foi criada em março de 2019. Na época, o Inep informou que nenhuma questão seria descartada, já que o processo de elaboração é “longo e oneroso”. Ainda de acordo com o Inep, as questões consideradas “dissonantes” seriam “separadas para posterior adequação, testagem e utilização, se for o caso”. O Inep nunca havia divulgado o resultado dessas análises.

Na edição do Enem 2020, duas questões tiveram o gabarito alterado após críticas de que as respostas consideradas corretas incitavam o racismo. Uma delas apontava como correta uma alternativa que dizia que a mulher negra que não quer alisar seu cabelo tem argumentos “imaturos”. Outra afirmava que o Google associava nomes de pessoas negras a fichas criminais por causa da “linguagem”, não do “preconceito”.

Banco Nacional de Itens
Segundo o Inep, a elaboração de uma única questão do Enem passa por um processo com dez etapas diferentes, que pode levar mais de um ano. Essas etapas incluem:

  • A contratação e capacitação de professores para elaborarem as questões
  • Pelo menos duas revisões da questão por especialistas
  • O “pré-teste” das questões em uma amostra de estudantes com o perfil dos candidatos do Enem
  • Uma análise pedagógica para definir se a questão pode finalmente ser incluída no Banco Nacional de Itens (BNI)

Uma vez no BNI, a questão fica à disposição para ser usada em alguma edição do Enem. Na hora da montagem da prova, a pequena equipe de servidores do Inep que faz o trabalho de seleção das questões precisa escolher 45 itens de cada prova objetiva seguindo um equilíbrio entre a pedagogia – já que a prova precisa avaliar uma grande quantidade de conhecimentos – e a estatística – na medida em que o exame também precisa ter um número similar de questões fáceis, médias e difíceis para poder selecionar adequadamente os candidatos.

Todos os anos, uma equipe de servidores do Inep monta três versões das quatro provas objetivas: duas delas são aplicadas todos os anos, na edição regular e no Enem PPL, para pessoas privadas de liberdade. Uma terceira fica como “reserva”, para o caso de algum imprevisto ou emergência.

Na edição de 2020, teve uma versão extra, a do Enem digital.

Fonte: G1
Créditos: Polêmica Paraíba