opinião

Bolsonaro percorre o país em campanha e só a Justiça não vê - Por Ricardo Noblat

É por covardia, instinto de sobrevivência ou cálculo político que o Supremo Tribunal Federal (STF) faz de conta não ver o presidente Jair Bolsonaro em campanha escancarada à reeleição país afora, quando a essa altura isso é terminantemente proibido por lei?

É por covardia, instinto de sobrevivência ou cálculo político que o Supremo Tribunal Federal (STF) faz de conta não ver o presidente Jair Bolsonaro em campanha escancarada à reeleição país afora, quando a essa altura isso é terminantemente proibido por lei?

De acordo com a legislação eleitoral, está sujeito a punição quem declarar candidatura antes da hora ou fizer qualquer pedido de voto de forma explícita ou implícita. Agrava-se o crime se acontecer em um evento do governo custeado com verba pública.

Aconteceu na viagem de Bolsonaro ao Nordeste a pretexto de fiscalizar obras do projeto de transposição das águas do rio São Francisco. Ao seu lado, em um palanque em Jardim de Piranhas, no Rio Grande do Norte, o ex-senador Magno Malta discursou:

“Precisamos reconduzir esse homem ao poder, à reeleição. E depois outro conservador, e outro conservador”.

O comício, porque de outra coisa não se tratou, foi transmitido pela TV Brasil, emissora do governo federal. Os ministros Fábio Faria, das Comunicações, e Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, também defenderam a reeleição de Bolsonaro.

Faria e Marinho são candidatos às próximas eleições. Faria defendeu a eleição do colega ao Senado. As obras da transposição do São Francisco começaram em 2006, no governo de Lula. Se não faltar dinheiro, deverão ficar prontas apenas em 2024.

A rejeição a Bolsonaro no Nordeste é de 60%. Significa: 6 de cada 10 eleitores nordestinos dizem que não votarão nele de jeito nenhum. No ano passado, Bolsonaro viajou ao Nordeste 9 vezes. Este ano, duas. Aproveitou para atacar seus antecessores.

Não citou nomes, mas referiu-se aos governos de Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma e Michel Temer. Disse:

“Após as eleições [de 2018], estávamos conversando sobre o que estava acontecendo com o governo anterior. Descobrimos que a Funai tinha um contrato de R$ 50 milhões para ensinar o índio a mexer com Bitcoin. Ah, vá para a puta que pariu, porra”.

Bateu forte nos governos do PT:

“Tem gente que tem saudades desses canalhas, não é só o povo nordestino que sofre. […] Querem botar o fala mansa lá? Botem. Quem vai pagar a conta? Vocês”.

Outra vez mentiu ao atribuir ao STF uma decisão que ele não tomou:

“Não errei durante a pandemia, fui atacado covardemente o tempo todo, mas a decisão de conduzir a questão da pandemia, segundo decisão do STF, foi para governadores e prefeitos”.

A Justiça deve ser cega para julgar com imparcialidade, mas não para não ver o que está ao alcance de todos.

Fonte: Metrópoles
Créditos: Polêmica Paraíba