Análise

Bolsonaro misturou Plano Cohen com grávida de Taubaté - Por Octavio Guedes

"Para o Brasil de Bolsonaro chegar ao nível de uma República de Bananas, precisará melhorar muito"

Por Octavio Guedes – G1

A live que o presidente Jair Bolsonaro promoveu para provar fraudes nas urnas eletrônicas foi uma mistura de Plano Cohen com grávida de Taubaté. Só para lembrar:

Em 1937, Getúlio Vargas usou um falso plano comunista para melar as eleições presidenciais marcadas para o ano seguinte. Getúlio mandou ministros militares divulgarem um documento conhecido como Plano Cohen, com supostas instruções de Moscou para promover um levante no Brasil. Ocorre que o documento era mais falso que a cura de Covid por cloroquina. O capitão Olympio Mourão Filho, chefe do serviço secreto da Ação Integralista Brasileira (AIB), entidade que reunia os fascistas brasileiros, foi apontado como o responsável pelo plano forjado. Ele, por sua vez, acusava o general Góes Monteiro, chefe do Estado-Maior, de ser o mandante. Depois da descoberta da fraude, ninguém quis ser o pai da criança…

Na época não havia live, mas já existia no rádio a Hora do Brasil. Coube justamente a Góes Monteiro anunciar a descoberta do plano, segundo ele, arquitetado pelos membros do PCB e por organizações comunistas internacionais. O falso plano foi divulgado em setembro de 1937. Com medo da ameaça comunista, o Congresso aprovou estado de guerra e abriu caminho para Getúlio dar o golpe e instaurar a ditadura do Estado Novo em novembro de 1937. Adeus, eleições.

Já a grávida de Taubaté foi um dos primeiros memes da internet. Em janeiro de 2012, uma mulher simulou uma gravidez de quadrigêmeos. A barriga era mais falsa que o Plano Cohen: um mistura de silicone com enchimento. Mas a imagem do barrigão é até hoje um símbolo de mentira nas redes sociais. Voltemos à live de Bolsonaro.

O presidente havia prometido mostrar provas de fraudes nas urnas eletrônicas, mas admitiu não ter provas. Mesmo assim, não deixou de apresentar seu arremedo de Plano Cohen. O tom adotado por Bolsonaro foi de discurso antecipado de derrota para Lula, provável candidato do PT. O presidente discorreu longo tempo sobre o “perigo vermelho” representado por uma possível vitória do petista.

Falou do alinhamento do PT com o regime de Cuba e o fim iminente das liberdades. Se trocar PT por PCB e Cuba por Moscou, a retórica de Bolsonaro fica igualzinha a dos golpistas de 37. Ah, sim, ainda tem os militares. Bolsonaro citou a emoção do general Heleno ao ver o país sendo tomado por manifestantes bolsonaristas vestidos de verde e amarelo. A volta do vermelho deixaria o general muito triste. Assim como os generais de 37, que apoiaram o golpe do Estado Novo para não ver o Brasil tomado pelo vermelho de Moscou.

Mas, se a história se repete como farsa, no bolsonarismo ela ainda ganha um toque tosco de “grávida de Taubaté”. Pelo menos em 37, o militar que sustentou a farsa na rádio era conhecido e prestigiado. Ontem, ninguém sabia ao certo quem era o tal Eduardo, um suposto analista de inteligência, que estava ao lado de Bolsonaro. Eduardo chamava com tom grave vídeos de Whatsapp para provar a suposta vulnerabilidade das urnas eletrônicas. Cada um mais tosco que o outro. E todos já desmentidos. Soube-se mais tarde que o tal Eduardo é um coronel da reserva do Exército. Faltou, na opinião da blog, um vídeo com a grávida de Taubaté confessando que ela e seus quatros filhos apertaram 17 na urna, mas os votos foram para Haddad. Porque, para o Brasil de Bolsonaro chegar ao nível de uma República de Bananas, precisará melhorar muito.

Fonte: Octavio Guedes
Créditos: Octavio Guedes – G1