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BEBÊS REBORN: Terapia ou Polêmica? Encontro de mulheres gera debate sobre o fenômeno; veja vídeo

Arte: Marcelo Júnior / Polêmica Paraíba
Arte: Marcelo Júnior / Polêmica Paraíba

Os bebês reborn, bonecos ultrarrealistas feitos à mão para se parecerem com recém-nascidos, têm gerado cada vez mais debates no Brasil e no mundo. Criados com detalhes impressionantes, como pele com veias e manchas típicas de bebês, cabelos implantados fio a fio e até cheiros que imitam o aroma de um recém-nascido, esses bonecos têm encontrado uma variedade de usos.

Alguns os colecionam pela arte envolvida, outros os utilizam como uma forma de terapia, especialmente em contextos como luto ou solidão, enquanto alguns os tratam como brinquedos ou expressões artísticas. No entanto, o uso dos bebês reborn não tem sido isento de polêmicas, especialmente com a crescente exposição nas redes sociais e o recente movimento de fãs que se reuniram no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, em 3 de maio. Confira vídeo abaixo.

A POLÊMICA E OS LIMITES DA RELIGIÃO E DA LEI

A popularidade dos bebês reborn também gerou controvérsias em outros campos, como a religião. A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, localizada no Pelourinho, Salvador, foi forçada a esclarecer publicamente que não realiza batismos de bonecas reborn, reforçando que os sacramentos são destinados a pessoas reais. Além disso, projetos de lei no Brasil têm buscado restringir o uso desses bonecos em determinados serviços públicos, como atendimentos prioritários, levantando questões sobre o limite entre o simbólico e a realidade.

A VISÃO DA PSICOLOGIA: CONFORTO OU RISCO?

De acordo com a psicóloga clínica, Karla Azevêdo, o fenômeno dos bebês reborn oferece uma perspectiva psicológica complexa. Eles podem ser usados como ferramentas terapêuticas em contextos de luto perinatal, proporcionando conforto a pessoas que estão lidando com a perda de um filho ou outras situações traumáticas. “Esses bonecos podem servir como objetos de conforto, auxiliando na elaboração da perda e na regulação de emoções difíceis”, explica Karla Azevêdo.

No entanto, ela também alerta para os potenciais riscos dessa prática. “Em alguns casos, os bebês reborn podem se tornar objetos fetichizados, impedindo a elaboração de perdas e frustrações, o que pode ser prejudicial ao processo de cura emocional”, afirma a psicóloga.

A humanização excessiva de um boneco pode refletir carências afetivas profundas ou frustrações relacionadas à maternidade, como dificuldades para engravidar, e, em casos mais graves, pode ser sintoma de transtornos psiquiátricos, como transtorno de personalidade ou esquizofrenia.

Além disso, o apego excessivo a esses bonecos pode ser uma forma de idealizar a maternidade, proporcionando um controle absoluto sobre o “bebê”, que não cresce, não adoece e não traz os desafios de um filho real. Isso pode ser uma defesa contra as frustrações inerentes à parentalidade verdadeira e ao enfrentamento das relações humanas complexas.

Impacto das redes sociais: a idealização da maternidade

Outro ponto importante levantado pela psicóloga é o impacto das redes sociais na popularização desse fenômeno. A exposição constante a imagens idealizadas reforça padrões irreais e distorce a visão da maternidade, tornando-a inatingível. A psicologia social aponta que a exposição midiática afeta como as pessoas se veem e se relacionam com os outros.

A necessidade de acompanhamento profissional

Embora profissionais possam considerar o uso terapêutico dos bebês reborn em situações específicas, Karla Azevêdo destaca que psicólogos devem acompanhar esses casos de forma profissional. Especialistas devem avaliar a prática com cuidado, pois nem todos se beneficiam e ela exige contexto terapêutico supervisionado. A psicologia sugere uma abordagem empática e contextualizada, reconhecendo que, por trás desse fenômeno, podem estar profundas necessidades emocionais e psíquicas que merecem atenção.

Um fenômeno complexo e multifacetado

O fenômeno dos bebês reborn é, sem dúvida, multifacetado. Embora muitos vejam os bebês reborn como itens de coleção ou terapia, o uso excessivo e idealizado levanta questões emocionais e psicológicas sérias. O apego a esses bonecos exige avaliação cuidadosa, pois pode afetar a saúde mental e o contato com a realidade.

Num mundo moldado por redes sociais e perfeição, os bebês reborn refletem a busca por controle e conforto simbólico. A psicologia oferece uma visão crítica e ampla sobre o tema, destacando seus usos terapêuticos e os possíveis riscos.