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As mensagens de WhatsApp que a PF achou contra Renato Cariani

Mensagens de WhatsApp anexadas ao inquérito que embasou a denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP) contra o influenciador fitness Renato Cariani, por tráfico de drogas, indicam que o empresário usou “nomes de crianças” para fraudar a compra de hormônios de crescimento e sugerem que ele tinha “amigos policiais” que poderiam protegê-lo de investigações.

Foto: Reprodução

Mensagens de WhatsApp anexadas ao inquérito que embasou a denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP) contra o influenciador fitness Renato Cariani, por tráfico de drogas, indicam que o empresário usou “nomes de crianças” para fraudar a compra de hormônios de crescimento e sugerem que ele tinha “amigos policiais” que poderiam protegê-lo de investigações.

Renato Cariani, Roseli Dorth, Fabio Spinola Mota, Andreia Domingues Ferreira e Rodrigo Gomes Pereira viraram réus na Justiça paulista, na última semana, denunciados por tráfico de drogas, associação ao tráfico e lavagem de dinheiro. Segundo o MPSP, eles fizeram 60 transações dissimuladas de produtos químicos para a produção de até 15 toneladas de cocaína e crack prontos para consumo.

Os diálogos (veja abaixo) foram obtidos pela Polícia Federal (PF). Um deles é utilizado pelos investigadores para comprovar a relação antiga entre Cariani e Fabio Mota, apontado como o elo do grupo com traficantes e como o responsável por criar o e-mail utilizado pelo influencer para justificar as negociações com a AstraZeneca, que negou ter feito qualquer transação com a empresa de Cariani e denunciou o caso à PF.

As mensagens mostram que Cariani e a esposa viajaram juntos Mota e a mulher dele e mais um casal para Cancun, no México, em novembro de 2015. “A viagem internacional entre os casais indica proximidade entre essas pessoas, sendo possível afirmar que possuem certo nível de intimidade e que esta proximidade é de longa data”, diz a PF.

“Nomes de crianças”

Em um diálogo destacado pela PF, ocorrido em julho de 2017, Cariani pede ajuda para uma parceira de negócios para conseguir receitas médicas para comprar Norditropin, mais conhecido como “GH”, que é um hormônio de crescimento, com desconto. “Amiga, consegue dois nomes de crianças com os dados dos pais para mim, por favor. Preciso comprar mais daquele medicamento”, escreve Cariani. “Consigo, sim”, responde a interlocutora.

Segundo a PF, em ocasiões posteriores, Cariani envia receitas médicas para sua colega, que realiza o cadastro delas junto a empresas farmacêuticas, com a finalidade de emissão de vouchers de descontos para a compra do medicamento, que seria o “GH”. Para a PF, diante do contexto das conversas, “levanta-se a suspeita de que as receitas enviadas” por Cariani “poderiam ter uma finalidade diversa a de tratamento hormonal infantil”, com “indícios de falsidade dessas receitas”.

“Amigos policiais”

Em outro diálogo, Cariani é alertado pela parceira, em novembro de 2016, sobre uma operação da PF que prendeu empresário suspeito de desvio de produtos químicos para o tráfico de drogas, em Ribeirão Preto, no interior paulista.

A interlocutora fala do receio de a operação “respingar” na Anidrol, a empresa de Cariani, e diz que os policiais da operação haviam pedido as notas de quem vendeu a matéria-prima. Cariani responde: “Se eu for me preocupar com isso então não posso vender pra revenda nunca pois o que tem de tranbiqueiro [sic]”.

Menos de dois anos depois, em conversa com a mesma pessoa pelo WhatsApp, Cariani é avisado sobre uma vistoria da Polícia Civil em outra empresa química. A parceira de negócios o informa sobre os documentos que precisará apresentar sobre a empresa, como alvará e autorizações da Polícia Federal e Civil. O influencer a tranquiliza: “Não se preocupe que tenho amigos lá”.

Meses depois ela volta a escrever para Cariani dizendo que “seus amigos policiais” estiveram no local fazendo “vistoria” e que ela tinha sido “tranquila”. “Quem bom que são meus amigos querida”, respondeu Cariani. Para a PF, “a conversa causa estranheza”, pois a preocupação da interlocutora “dá a entender que a empresa não estaria funcionando regularmente” e “a fala final de Renato [Cariani] reforça essa suspeita”.

Origem da investigação

Como mostrou o Metrópoles, depósitos de R$ 212 mil em dinheiro vivo, em nome da AstraZeneca, deram origem a toda a investigação que levou a buscas e apreensões na mansão do influenciador fitness, em dezembro de 2023.

O laboratório não reconheceu como seus os repasses em espécie à Anidrol — empresa que fica em Diadema, na Grande São Paulo, da qual o fisiculturista é sócio — e, por isso, fez uma denúncia à PF.

Segundo as investigações, o esquema do qual o influencer faria parte desviou, em seis anos, uma quantidade de substâncias químicas capaz de produzir 15 toneladas de crack e cocaína.

O influencer e outras três pessoas tiveram a prisão preventiva solicitada pela PF na Operação Hinsberg, deflagrada em dezembro. O pedido, no entanto, foi negado pela Justiça. Ao todo, 18 mandados de busca e apreensão foram cumpridos, em endereços em São Paulo, no Paraná e em Minas Gerais.

Influencer de sucesso

Com mais de 7 milhões de seguidores no Instagram e 6 milhões no YouTube, Renato Cariani é um dos mais conhecidos influenciadores fitness do país.

Ele ganhou as redes sociais ao dar dicas de emagrecimento e fazer projetos fitness com atletas e personalidades da televisão brasileira, como Danilo Gentilli e MC Daniel.

O que diz Renato Cariani

Logo após ser indiciado pela PF, em dezembro, Renato Cariani compartilhou vídeos nas redes sociais nos quais nega envolvimento nos crimes, atribuindo-os a terceiros. Ele disse que ficou “aliviado” e “tranquilo” depois de prestar depoimento e que não tem relação com as suspeitas levantadas pela investigação.

“Pude fazer meu depoimento, [tive a] oportunidade de fazer ele [por] escrito e gravado. Eu quis porque [ao deixar] gravado tenho tudo na íntegra, afinal de contas não tenho absolutamente nada com isso”, disse em dezembro.

Fonte: Metrópoles
Créditos: Polêmica Paraíba