Alunos doam dinheiro da formatura para tratamento de filho de professora

Professora de artes visuais no colégio 14 de Fevereiro, em Pontes e Lacerda, a 443 quilômetros de Cuiabá, Lucilene conta que a surpresa aconteceu quando menos esperava. No vídeo compartilhado nas redes sociais, ela aparece corrigindo algumas atividades quando os alunos do terceiro ano do ensino médio se aproximam de sua mesa e contam sobre a doação. A professora não consegue segurar as lágrimas e se emociona. “É de coração”, diz um dos estudantes.

Para a docente, “foi uma mistura de sentimentos”. “Fiquei alegre por um gesto tão bonito em meio a tanta notícia de briga entre alunos e professores e tristeza porque eles queriam tanto a festinha de formatura com o dinheiro arrecadado ao longo do ano. Não desconfiei de nada. Levei até um susto”, lembra.

O filho de Lucilene, Enzo Gomes, começou a apresentar as doenças em agosto de 2018. Ele recebeu tratamento inicial em Cuiabá, porém, a família desejou levá-lo para um especialista em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo.

Com o dinheiro, a professora diz que, na semana passada, pôde consultar com o profissional, que mudou a medicação e cremes dermatológicos, gerando significativa melhoria no quadro de Enzo. A quantia era fruto da arrecadação ao longo do ano por meio de rifas promovidas pelos estudantes.

“Meu filho nem tem mais feridas no corpo, apenas as manchas e as plaquetas com nível elevado. Ele melhorou muito depois dessa iniciativa dos meus alunos. O Enzo ficou muito alegre, falando que a pele dele havia voltado ao normal. Isso não tem preço”, frisou a professora, que é casada e também tem uma filha, de 18 anos.

Turma ganha formatura

Com a repercussão do ato de solidariedade em Pontes e Lacerda, a turma de 28 anos responsável pela surpresa ganhou uma festa de formatura. Empresários da cidade se reuniram e resolveram bancar as festividades de encerramento da etapa estudantil dos adolescentes. Lucilene será a madrinha da turma. O evento será amanhã.

“Foi uma gentileza que gerou outra gentileza. Os comerciantes se juntaram e deram carne, local, bebida e outras coisas. Também foi uma surpresa ser a madrinha da turma. Eles sempre perguntavam como eu conseguia sorrir mesmo com o meu filho doente, mas jamais imaginei que seria madrinha”, disse.

Lucilene dá aulas há oito anos e atualmente leciona em duas escolas diferentes. Mesmo quase uma década convivendo com estudantes, ela destaca que não tinha noção da representação dela como professora para os alunos.

“Isso que aconteceu dá esperança em um mundo melhor porque vemos tanta coisa envolvendo adolescentes. Mas isso é minoria. Enquanto tem uma pequena parcela que desrespeita aos professores, o ato mostra que a maioria tem um bom coração. Foi o momento mais emocionante na minha carreira. Eu dava aula, mas não tinha noção do que representava para esses alunos”, comentou.