Opinião

A reunião ministerial e os enlouquecidos da República - por Rui Leitão

Um espetáculo cinematográfico em que se recomendaria tirar as crianças da sala de exibição.

Se aquele vídeo da reunião ministerial que assistimos ontem fosse um filme e precisássemos dar título a ele, certamente seria OS ENLOUQUECIDOS INIMIGOS DA REPÚBLICA. Sim, porque ali não aconteceu outra coisa a não ser atacar a democracia, enodoando a nossa história republicana. Pior ainda quando se verifica que foi uma pornochanchada, em razão do festival de pornografia que foi produzido por autoridades que formam o mais alto staff do governo federal. Seria cômico, se não fosse trágico. Um espetáculo cinematográfico em que se recomendaria tirar as crianças da sala de exibição.

A insanidade preponderou em todos os diálogos, se é que assim podemos chamar as intervenções verbais de cada um dos que usaram da palavra. Não eram pronunciamentos feitos num clima de civilidade e educação, eram discursos raivosos. Com impropérios impublicáveis, ataques destemperados direcionados aos quatro cantos. Quem não reza pela cartilha autoritária deles é considerado inimigo e, portanto, passa a ser alvo de grosserias e agressões de baixo nível. Vocabulário de ambientes não recomendáveis para pessoas que têm noção de respeito institucional e da liturgia dos cargos que ocupam.

Um show de ameaças à democracia. Se viu de tudo. Desde ofensas às instituições democráticas, quanto à pregação da luta armada em favor dessa empreitada intervencionista. Defenderam a prisão de todos os que divergem de suas intenções totalitárias. Explicitamente se apresentam como inimigos da república. Desdenham abertamente dos preceitos constitucionais, julgando-se acima das leis.

Pelo que deu para perceber não havia uma pauta pre-estabelecida. Cada um falava o que bem quisesse. Esperava-se que aquela seria uma ótima oportunidade para se debater formas de enfrentamento da pandemia do coronavirus que já nos atacava. Nada, nenhuma colocação com esse objetivo. Pelo contrário, críticas veladas aos governadores e prefeitos que, corajosamente, estão assumindo os encargos que deveriam ser comandados pelo poder central. O ministro do meio ambiente declarou que este seria o momento para flexibilizar as normativas de proteção ecológica em nosso país, aproveitando-se do fato de que a mídia nacional estava focada em dar repercussão ao surto epidêmico do coronavírus. Inacreditável.

O principal ator da tragicomédia e seus coadjuvantes se revezavam nas propostas absurdas de afronta à democracia. Como diria o marechal Castelo Branco, primeiro dos ditadores militares, agiam como “vivandeiras alvoroçadas” conspirando contra a república, incentivando a ruptura institucional, como chegou a escrever em carta à nação, o general Heleno, e procurando enxovalhar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. O que mais impressiona é ver representantes das Forças Armadas fazendo parte dessa cena deprimente, submetendo-se às vontades inconsequentes do presidente da república e chancelando esse comportamento tão desonroso para as altas funções que exercem.

A revelação do vídeo, ainda que provoque na grande maioria dos brasileiros, um sentimento de indignação e perplexidade, serviu para que conhecêssemos as estratégias impatrióticas articuladas nos bastidores do governo. Não diria que a nação foi pega de surpresa. Prefiro dizer que ela foi impactada pela ultrajante forma como estão conspirando contra a república brasileira. Imagino que deva haver reação. É necessário que se estabeleçam as condições de salvaguardar a nossa democracia, exigindo respeito à Constituição Cidadã de 1988.

Rui Leitão

Fonte: Rui Leitão
Créditos: Rui Leitão