PRAZER NA QUARENTENA

A cada notícia do governo atual, eu vou lá me masturbar - Por Carol Ito

Conversamos com quatro mulheres para entender como o isolamento interferiu no prazer e o que pensam sobre temas como pornografia, sexting e crushs virtuais

Para quem está de quarentena, a siririca pode ser uma aliada, tanto para amenizar o estresse de viver em meio a uma pandemia quanto para descobrir novas formas de sentir prazer. É o que defende Carolina Ambrogini, ginecologista e coordenadora do Projeto Afrodite, da Unifesp, que oferece atividades gratuitas sobre sexualidade feminina. “A masturbação é sempre boa. Além de liberar endorfinas, ajudar a relaxar, a dormir melhor e facilita o processo de criar fantasias eróticas”, diz ela.

A importância de criar essas fantasias está justamente em conquistar maior autonomia em relação aos próprios desejos e experiências sexuais, especialmente no caso das mulheres. “No geral, ainda vejo uma postura passiva em relação à sexualidade. Muitas não têm o hábito de fantasiar, se erotizar, buscar aquilo que gera libido. Elas vão vivendo, às vezes, na temperatura do desejo do parceiro. No consultório, é comum eu perguntar se a mulher se masturba e ela responder que não porque é casada, por exemplo”, reflete Carolina.

Acessar pornografia na internet é um caminho conhecido na busca pelo autoprazer, mas isso pode não funcionar para todas as mulheres por uma série de construções sociais. “A pornografia, em geral, é muito genitalista. Tem mulher que gosta, mas, para outras, pode parecer muito agressivo”, explica a ginecologista. Para ajudar na hora de se tocar, existem conteúdos que também podem ser estimulantes, como contos, podcasts eróticos e até mesmo filmes fora do universo pornô. O importante é deixar fluir: “É normal fantasiar com outras pessoas. O desejo precisa ser livre, até para ele poder existir. Eu desejo aquilo que eu não tenho. Se eu tenho tudo na palma da minha mão, eu deixo de desejar e é por isso que a libido diminui”.

Conversamos com quatro mulheres de diferentes perfis para entender o que mudou em relação à masturbação na quarentena e como lidam com assuntos como pornografia, sexting (troca de conteúdos sexuais pela internet) e crushs virtuais.

Camila Padilha

23 anos, storyboarder de um estúdio de animação e quadrinista, bissexual e solteira

“Fiquei solteira no começo de fevereiro, depois de um relacionamento aberto de três anos. Como eu vinha passando por uma fase de transar com bastante gente, não estava me masturbando muito, não sentia necessidade. Mas, depois de um mês de quarentena, comecei a ficar excitada por tudo que aparecia na minha frente, até desenhos eróticos. Isso não é comum pra mim, imagens não eram gatilhos para masturbação.

“Depois de um mês de quarentena, comecei a ficar excitada por tudo que aparecia na minha frente, até desenhos eróticos”

Camila Padilha, quadrinista

Pornô não me excita, acho misógino. Eu costumava fechar os olhos e pensar em qualquer coisa. Agora, descobri que gosto de me masturbar pensando em casais que eu gosto em filmes e séries. Eu tenho visto muitas séries de comédia romântica e isso virou meu pornô, faço fanfics [histórias criadas por fãs, com os mesmos personagens de uma obra que já existe] dos casais na minha cabeça. Já rolou bastante assistindo à série How I Met Your Mother, por exemplo. Assistir shows da banda The Strokes na internet também é gatilho.

O lance do sexting, para mim, é uma parada que não funciona, acho meio decepcionante. A Camila adolescente fazia muito isso, mas a Camila adulta se cansou. Eu gosto da parada real, do contato. Eu tô muito carente e isso vai além da questão sexual, sinto falta de ter uma companhia. Mas o jeito é ficar me masturbando vendo comédia romântica.

Eu tenho vibrador, lubrificantes, várias coisinhas de sex shop, mas o que eu mais gosto, mesmo, é a mãozinha. Chego a me masturbar umas cinco vezes por semana. Me faz super bem, porque é garantia de que eu vou gozar, muito melhor do que quando saio com contatos do Tinder.”

A artista paraense Tainá Maneschy retrata a sexualidade com naturalidade e busca representatividade feminina no mundo da arte eróticaCrédito: Tainá Maneschy

Julia*

26 anos, jornalista, heterossexual, está em um relacionamento

“Eu tô namorando e, entre idas e vindas, estamos juntos há 4 anos. Eu moro sozinha e optamos por não nos ver durante a pandemia, porque ambos precisam sair de casa para trabalhar. Tá sendo bem complicado.

No começo da quarentena eu estava com muito fogo. A gente trocava nudes o dia inteiro, rolava umas dirty talks [conversas picantes]. Com o tempo, a libido foi caindo. Quando não estou trabalhando que nem uma louca, estou fazendo faxina, não é nada sexy. Vou mandar um nude enquanto lavo a privada, com a pia cheia de louça? Não dá.

Nunca fui muito de me masturbar, mas, na pandemia, comecei a procurar alguns estímulos na internet, insistir um pouco, até porque meu namorado não podia me mandar nudes sempre que eu queria e ele não curte videochamada. Também nunca fui uma pessoa de ver pornografia. Essa coisa do movimento feminista sempre me deixou muito inibida, fico pensando na exploração do corpo das mulheres, acho violento. Só que chega uma hora que você tá subindo pelas paredes e só precisa aliviar aquilo. É aquela coisa: uma mão lá embaixo e a outra na consciência. Sem contar que tive uma criação religiosa, então demorou muito para eu ser mais aberta em relação à sexualidade.

Comecei entrando em sites mais populares, como o Xvideos, mas depois passei a procurar pornografia feita por e para mulheres. Gosto muito do site Bellesa, acho que os atores são melhores, você acredita que aquele sexo é real. Sendo mais verossímil, penso que dá pra tentar reproduzir algo depois com meu namorado. Mas confesso que fico envergonhada de contar para ele, não sei se vou querer dividir isso. Também não sei se, quando a rotina voltar a normal, vou continuar consumindo pornografia para me masturbar.”

Amanda Lordello

28 anos, garçonete, bissexual, está em um relacionamento

“Na quarentena, optei por morar junto com um parceiro com quem eu tenho um relacionamento aberto, porque na minha casa tenho familiares no grupo de risco. A gente está em uma situação bem confortável, cada um tem um quarto, então rola bastante privacidade.

Eu tô mais me masturbando do que transando com meu parceiro. Agora casados, nos vendo o tempo todo, perdemos um pouco do tesão. Também não estamos com muita cabeça para criar, inovar, tá todo mundo ansioso com essa situação. Mas a siririca tá salvando.

Nessa quarentena eu comprei vários de brinquedos, incluindo um plug anal que vibra, um dildo e um vibrador clitoriano. Tenho me masturbado com frequência, umas duas ou três vezes por dia. Cada crise de ansiedade, cada notícia do governo atual, eu vou lá me masturbar. É um lance de alívio.

“Eu tô mais me masturbando do que transando com meu parceiro”

Amanda Lordello, garçonete

O bom desse período é ter um tempo de se conhecer melhor, se tocar, tentar outras formas de masturbação. Por exemplo, comprei um plug anal porque gosto muito de “dp” [dupla penetração]. Claro que vem o tabu e você pensa: será que é muito bizarro fazer isso sozinha? Mas consegui e foi maravilhoso. O importante é descobrir o que você gosta, se permitir, pensar se poderia ser legal fazer com o outro.

Eu não gosto muito de ver vídeos pornôs, prefiro contos e gifs eróticos. Eu acho a pornografia em geral bastante degradante, porque eu não sei em quais circunstâncias aquilo foi gravado. Prefiro os contos eróticos, acho mais divertido criar algo na minha cabeça do que ver. Eu gosto bastante de ler textos da Hilda Hilst e procuro outros contos soltos na internet.”

Gabriela*

36 anos, engenheira civil, lésbica, solteira

“Nesse período da quarentena, a masturbação continua fazendo parte da minha rotina. Esse negócio de trabalhar em casa é bom também, porque, se der vontade, você corre lá. Não sei se é porque estou algum tempo sem me relacionar com alguma garota com quem eu tenha relações sexuais frequentes, mas já estou mais acostumada.

Quando você conhece seu corpo e seu ciclo menstrual, percebe os momentos em que a libido fica maior ou menor. Em geral, quando estou ovulando, minha libido está mais em cima. Nos outros dias, confesso que está meio broxado, acredito que por conta de tudo o que está acontecendo. Mas tô lidando numa boa, não está sendo um drama.

Se eu tô com aquela energia e preciso descarregar, acesso o Xvideos, pego meu  estimulador de clitóris e, em 15 minutinhos, tá tudo resolvido. Eu não tenho nenhum problema em consumir pornografia, não me sinto culpada. Eu gosto de assistir de tudo, homem com homem, mulher com mulher, o que tiver com vontade na hora.

Eu estava conversando com uma garota no Tinder um pouco antes da quarentena e a gente achou melhor se encontrar depois. Depois de algumas conversas, ela veio com a proposta do sexting. Eu nunca fiz sexo virtual depois que comecei a vida sexual, só na adolescência, em salas de bate-papo. A ideia não me agradou muito, talvez eu tenha um pouquinho de tabu, timidez, até por não conhecer a pessoa direito.”

 

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Polêmica Paraíba

Fonte: Revista Trip – UOL
Créditos: Revista Trip – UOL