análise

O ODE, João e decisões acima da lei

"Quem está atento deve ter percebido que nos últimos meses estamos sendo surpreendidos por decisões judiciais altamente questionadas"

Quem está atento deve ter percebido que nos últimos meses estamos sendo surpreendidos por decisões judiciais altamente questionadas. O Brasil vive um fenômeno de bagunça institucional o que acabou dando ao Judiciário superpoderes. Isso é perigoso, porque rege a nossa Constituição que os Poderes devem ser independentes, porém harmônicos. Um Poder não deve, por exemplo, ingerir sobre a prerrogativa do outro. Porém isso é o que mais tem acontecido.

Aqui mesmo na Paraíba já vimos o Ministério Público Federal e um juiz querer decidir pelo Estado o momento de por fim ao racionamento de água em Campina Grande, mesmo os órgãos gestores autorizando o fim do abastecimento controlado.

Além do atropelo de prerrogativas de Poderes, estamos assistindo também juízes fugirem da sua obrigação de fazer cumprir a lei e se colocarem acima dela, ou seja, decidir fora da lei, levando em consideração outros fatores, muitas vezes mal explicados.

A última aqui na terrinha foi a do juiz Carlos Beltrão do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba, que proibiu o secretário de Infraestrutura do Estado, João Azevedo, de participar das audiências do Orçamento Democrático Estadual e vetou o governador Ricardo Coutinho de citar o secretário nas plenárias.

É ou não um caso de decidir fora da lei? Se a legislação permite os ocupantes de cargos públicos que vão disputar as eleições exercerem suas funções com todas as suas prerrogativas até seis meses antes do pleito, o que este ano significar o dia 7 de abril, qualquer decisão que encurte esse prazo como foi o caso, é decidir fora lei. É se colocar acima da lei.

Se ampliarmos o foco ainda mais, a decisão perde ainda mais sentido, uma vez que o Orçamento Democrático é um programa do Governo que foi instituído desde o primeiro ano da atual gestão, o que rechaça por completo o uso político para promover João. Se estivéssemos falando de um programa criado agora para evidenciar somente ao secretário de Infraestrutura, poderia se procurar uma lógica para o enunciado. Acontece que o ODE ocorreu em todos os últimos 8 anos, da mesma forma, no mesmo formato. Eu não vou nem falar na mudança de relação que o Orçamento Democrático estabeleceu entre sociedade e governo.

A Justiça tem todo direito, aliás, tem a obrigação de fazer cumprir a lei, e quem tentar burlá-la deve ser punido. Serio o caso então de fiscalizar as audiências do ODE e se ficasse constatado que o secretário estaria infringindo a lei eleitoral, que fosse punido por isso, dentro do manda a lei. Proibi-lo de participar das audiências é puni-lo antecipadamente por uma irregularidade que ele poderia cometer. É censura-lo.

Do ponto de vista político não houve prejuízo algum, muito pelo contrário, a cadeira vazia de João Azevedo ontem no ODE em Campina Grande, fez muito barulho do que todas as sua outras participações nos últimos oito anos.

Fonte: Blog do Marcos Wéric
Créditos: Marcos Wéric