Polêmicas

Pâmela, uma primeira-dama diferente

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Nonato Guedes

Na história política recente da Paraíba, a opinião pública conviveu com primeiras-damas discretas e apolíticas, a exemplo de Mirtes Almeida, que foi casada com Ivan Bichara Sobreira, Glauce Burity, viúva do ex-governador Tarcísio Burity, Antonietta Sátyro, que foi esposa de Ernani Sátyro, Glória Cunha Lima, companheira do poeta Ronaldo, Sílvia, esposa de Cássio e a desembargadora Fátima Bezerra Cavalcanti, casada com o ex-governador José Maranhão. Mabel Mariz optou por ficar em segundo plano, participando das batalhas empreendidas pelo marido, Antônio Mariz. Lúcia Braga formou casal político com Wilson Braga, disputando e conquistando mandatos. Lauremília de Assis, casada com Cícero Lucena, foi vice-governadora na primeira gestão de Cássio Cunha Lima e sempre se envolveu em atividades de bairros na periferia da capital.

Nunca houve, porém, uma primeira-dama como Pâmela Bório, 29 anos, natural de Senhor do Bonfim, na Bahia, ex-modelo, olhos claros, esfuziante, como definiu Josie Jeronimo numa matéria na revista “Época”. Jornalista, Pâmela fisgou o atual governador Ricardo Coutinho em 2009 quando apresentava um programa especial sobre João Pessoa, na TV Tambaú, afiliada do SBT. Ricardo era prefeito da capital paraibana e ficou encantado com a baiana após ser entrevistado em seu programa. Daí para a paquera e namoro foi um salto. Na disputa ao governo do Estado em 2010, Pâmela estava grávida de um filho da união com Ricardo, o pequeno Henri Lorenzo. O casamento foi oficializado na Granja Santana pelo arcebispo Dom Aldo Pagotto, juntamente com a cerimônia de batismo da criança. Ricardo havia assumido o Palácio da Redenção, e poucos foram os convidados para a cerimônia que selou a aliança com Pâmela.

Em janeiro deste ano, a primeira-dama foi destaque na mídia nacional, de jornais a portais noticiosos, com denúncias sobre gastos na Granja Santana com toneladas de carnes, peixes e frutos do mar, além de despesas com o enxoval de Henri. A insinuação de uso indevido de dinheiro público partiu depois de auditoria nas contas da residência oficial do governador, feita pelo Tribunal de Contas do Estado. O órgão teria apontado exagero de gastos. O governador fez questão de responder oficialmente, acusando as matérias divulgadas de ferirem a honra da família, fazendo ilações mentirosas. Deixou claro que os balancetes apresentados são transparentes e negou que a primeira-dama tivesse adquirido itens para a residência oficial em nome do governo. Também frisou que ela não dispõe de cartão corporativo nem recebe recursos da administração, vivendo do salário oriundo de seu trabalho na TV Tambaú. Pâmela perdeu o pai quando tinha quatro anos de idade. Estudou em colégio de freiras e participou de concursos de beleza como o Miss Brasil Globo, de 2008, só não saindo vencedora por questões políticas, na versão da tia Maria Eudalice, externada à imprensa sulista.

Nos depoimentos que emite sobre sua vida, Pâmela Bório narra que sempre foi uma criança estudiosa e comportada, filha de mãe baiana e pai carioca, que se separaram, vindo ele a falecer de complicações orgânicas cinco após o litígio com a esposa. Enfrentando uma vida difícil, mas educada no princípio de que a família é um valor fundamental e que para vencer é preciso apostar nos próprios méritos, Pâmela Bório contou que aos 18 anos apresentou reportagem numa emissora de TV em Senhor do Bonfim. Trabalhou como estagiária de afiliadas da Rede Globo na Bahia, Fortaleza e Recife, até que foi contratada para apresentar uma revista eletrônica na TV Tambaú, em João Pessoa, o programa “Feminíssima”. Acabou se familiarizando com a Paraíba e aqui permaneceu. Perfeccionista, metódica, Pâmela revela que sempre gostou de escrever. Isto explica a desenvoltura com que utilizou redes sociais, inclusive, para exibir uma coleção de lingeries.

Quando foi alvo de reportagens sensacionalistas, ela própria se defendeu, em tom de desabafo, afirmando: “Ao contrário de muitos profissionais da mídia e veículos ‘prostituídos’, desenvolvo um jornalismo consciente e independente. Nunca trabalhei com assessoria ou com gestão pública, mas tenho noção do que é uma administração correta voltada para as necessidades da população”. Também foi enfática, ao aludir à condição passageira das coisas: “Estou primeira-dama, mas sou e sempre serei jornalista. Amo minha profissão e sou bem resolvida sobre a minha exposição, seja como esposa de líder político ou como apresentadora de TV. Me orgulho do meu ofício e de quaisquer atividades que tenha desenvolvido na minha história de vida, como desfiles, atuações em peças teatrais, ensaios fotográficos”. A exposição da imagem de Pâmela é inevitável, até pelos traços exóticos de que se reveste o seu perfil. Na recente visita da presidente Dilma Rousseff, Pâmela foi alvo preferencial de fotógrafos e cinegrafistas da própria presidência da República, que a mostraram na companhia do governador Ricardo Coutinho. Mas ela coordena o Programa do Artesanato Paraibano, que oferece capacitação e estimula a produção de fundo de quintal, presidindo, igualmente, a ONG Cendac, focada na profissionalização em detrimento do assistencialismo. “Por esses trabalhos não recebo qualquer compensação financeira. Minha única recompensa é o reconhecimento pelo povo da minha contribuição no crescimento da Paraíba”, pontuou. E concluiu: “Tenho plena consciência de que não me reduzo a uma jovem bonita que se veste com esmero e gosta de luxo e badalações. Sou muito maior do que qualquer julgamento pré-concebido”.