Rubens Nóbrega
O que o Governo do Estado está fazendo com o dinheiro do Funesbom?
A pergunta tem cabimento total e faz todo o sentido do mundo quando a gente vê, ouve ou lê informações como aquelas divulgadas esta semana pelo Ministério da Justiça mostrando que o Corpo de Bombeiros da Paraíba sofre graves deficiências materiais e gravíssimas insuficiências humanas.
Antes de prosseguir, vamos logo deixar claro que as informações sobre o aparente desmantelo e sucateamento do CB remetem a 2011, ou seja, ao primeiro ano da corrente gestão estadual. Mas os problemas detectados representam o acúmulo do desprestígio e falta de investimentos a que a gloriosa e venerada instituição militar vem sendo relegada por sucessivos governos. De qualquer modo, temos que cobrar soluções e reposições para os bombeiros a quem está à frente do Estado.
Devemos cobrar, portanto, do governador Ricardo Coutinho. Cobremos que a sua excelsa pessoa ou quem ele determinar venha a público explicar onde estão sendo gastos os recursos do Fundo Especial dos Bombeiros, o Funesbom, para o qual praticamente todos os cidadãos contribuem, em especial aqueles que todo ano são obrigados a fazer ou renovar o licenciamento de seu carro junto ao Detran.
Até pelo tanto de gente potencialmente interessada, o Governo do Estado tem, portanto, que esclarecer urgentemente ao contribuinte – tintin-por-tintin, com todas as letras e números, principalmente cifras – o que faz com o dinheiro de uma fonte de arrecadação que garantiria aos cofres estaduais uma receita anual superior a R$ 5 milhões. Convenhamos: não é pouca coisa, não.
Fazendo milagre
A cobrança por informações e esclarecimentos ao governo impõe-se com mais força ainda quando a gente percebe que a colheita do Funesbom daria para abastecer os nossos bombeiros de todos os equipamentos, utensílios e insumos necessários à nobre missão que compete a esses valorosos soldados. Daria para comprar tudo do bom e do melhor pra eles, igual ao que a Casa Civil faz para abastecer a despensa da Granja Santana.
Com R$ 5 milhões ou mais por ano, não justificaria de forma alguma o velho CB de guerra dispor de apenas 119 capacetes, 147 botas, 179 luvas, 14 óculos, 53 pares de pé de pato, 6 máscaras de mergulho com canudo e apenas 20 conjuntos completos de mergulho autônomo. É muito pouco, pouquíssimo, quase nada, se lembrarmos que a corporação tem 1.262 integrantes, conforme destacou ontem o investigativo e instigante jornalista Clilson Júnior em matéria publicada em seu blog no portal ClickPB.
“Caso necessite enfrentar um incêndio florestal, o efetivo tem que improvisar, pois não existem nenhum conjunto de calça e camisa ou macacão, botas, capacete ou pares de luvas disponíveis para este tipo de combate”, observa Clilson, depois de debulhar as tabelas com os dados do Ministério da Justiça sobre o nosso Corpo de Bombeiros. Por essas e outras, não à toa os bombeiros são chamados de heróis. Ou santos, porque obram verdadeiros milagres para tentar salvar tantas vidas humanas, enfrentando, além do perigo, tão precárias condições de trabalho.
Distância atrapalha
Outra coisa que me chamou a atenção na matéria de Clilson: quer dizer que no CB temos pouco mais de 1.200 homens e mulheres para atender a todas as demandas do Estado? Pode até ser que na proporção população versus bombeiro esse número seja compatível com as virtuais necessidades da Paraíba, mas na prática, seguramente, não tem como dar conta de 223 municípios. Inclusive porque a corporação só está presente fisicamente, administrativamente, em sete cidades.
São cinco batalhões e duas companhias sediados em núcleos urbanos polos das principais mesorregiões da Paraíba. Segundo tal distribuição, o CB teria capacidade para chegar a todos os municípios. Mas fica difícil acreditar na efetividade de tal cobertura quando um batalhão como o de Campina Grande, por exemplo, responde por 60 municípios, alguns dos quais distando 200 km da Vila Nova da Rainha.
Diante da triste realidade as revelações de ontem expõem, resta pedir a Deus que proteja a todos nós e, muito mais, a quem precisar do socorro dos bombeiros. Ah, e peço que acreditem: o apelo aqui dirige-se realmente a Deus. Ao Deus mesmo, o lá de cima. Nada a ver com quem aqui por baixo nos bota tanto pra baixo e ainda assim se acha. Se não o Criador, no mínimo o pipoco do trovão, como diria uma amiga de Ila, a minha caçula.
Quanto ao dinheiro…
Não estou aqui chamando seu ninguém de ladrão. Se faço aquela pergunta no título da coluna é porque a primeira coisa que me veio a cabeça, ao começar a escrever sobre a situação dos bombeiros, foi o comentário do amigo que compartilhou comigo a matéria de Clilson Júnior.
Além do link para acessar o material do Click, por i-meio esse amigo enviou as seguintes indagações: “Se está do jeito que o Ministério da Justiça diz, não seria o caso de perguntar se o gato comeu o dinheiro daquele fundo criado para equipar os bombeiros? Como é mesmo o nome? Funesbom, é? Bom pra quem, cara-pálida?”, provocou o camarada.