Polêmicas

RC cria uma Paraíba só pra ele

Rubens Nóbrega

O governador Ricardo Coutinho reuniu ontem a cúpula da Segurança Pública do Estado para novas avaliações de desempenho no setor e novos anúncios de dados que apontam para reduções drásticas nos índices de violência da Nova Paraíba.

Torço para que sejam verdadeiros os números, mas a minha torcida não é suficiente para superar a desconfiança que me impõe o confronto entre aquilo que o governante propagandeia e o que a gente vê no cotidiano da velha Paraíba de guerra.

Daí, começo a desconfiar também que o governador criou uma Paraíba só para ele e deixou a outra para os mortais, onde o cidadão enfrenta uma rotina de insegurança que nenhum policiamento de exibição ou malabarismo estatístico consegue esconder.

Na Paraíba real, assistimos diariamente a explosões de caixas eletrônicos, de assaltos a bancos, a pessoas no meio da rua, dentro de ônibus, dentro de casa, de empresas, igrejas, postos fiscais, escolas e até de escritórios do Sebrae.

Na Paraíba sem ilusões ou fantasias, já tem prefeito interditando rua onde funciona banco que é pra dificultar – porque é impossível impedir – invasões e ataques de bandidos armados que agem na certeza da Polícia pouca ou inexistente.

Na Paraíba paradisíaca de Ricardo, não. Lá, índices de violência tendem ao zero absoluto porque assim o dizem as estratégias de governo e confirmariam as excelentes condições de trabalho que o governador garante proporcionar aos policiais.

Na Paraíba verdadeira, ao contrário, policiais discutem até mesmo se vale a pena continuar a fazer plantões extras, vendendo folga para ganhar uns trocados a mais porque o ganho é muito pouco para um trabalho tão estressante quanto perigoso.

Tanto na educação como na saúde
Na Paraíba de Ricardo, a educação pública ofertada pelo Estado já é de Primeiro Mundo porque o governo oferece penduricalhos salariais de incentivo que por sorte ou sortilégio dão qualidade e consistência a um projeto político pedagógico fictício.

Na Paraíba sem truques, o governo fecha escolas, dispersa manifestações estudantis com spray de pimenta, demite diretores eleitos, congela gratificações dos professores e transforma em teto o piso nacional do magistério.

Na Paraíba de Ricardo, deve ser mentira notícia de que quando um colégio não fecha corre o risco de despejo porque o prédio é alugado e o governo não paga aluguel, como se noticiou sobre escola estadual em São José de Piranhas.

Na Paraíba de Ricardo, na saúde pública a resolutividade nos atendimentos e procedimentos resulta da lucratividade de hospitais terceirizados a grupos privados travestidos de organizações sociais contratadas a peso de ouro pelo Governo do Estado.

Na Paraíba da saúde pública cada vez mais precária e terceirizada, continua e em alguns casos até aumenta o sofrimento de quem pra viver depende dos medicamentos excepcionais que ordinariamente faltam na distribuição obrigatória pelo Estado.

Sedentos, famintos, desassistidos
Na Paraíba sem maquiagem midiática, pelo menos metade da população passa fome e sede de tudo, inclusive de água e comida, e a outra metade sofre com a má qualidade dos serviços prestados pelo Estado, do posto de saúde ao posto policial, da sala de aula à sala de espera dos gabinetes mais poderosos.

Já na Paraíba de Ricardo parece não existir a miséria que acomete mais de um milhão de paraibanos, muito menos a seca que há quase um ano castiga sem piedade outro tanto de gente sem que o governo lhe dê uma ajuda minimamente suficiente.

Ainda na Paraíba exclusiva do governador tudo é lindo e maravilhoso, os serviços públicos funcionam com excelência e os servidores trabalham com muito gosto e aplicação, satisfeitíssimos porque exemplarmente bem remunerados e qualificados.

Temos, enfim, duas Paraíba. Uma que passa no horário comercial mais nobre e mais caro da televisão, na boca dos bajuladores, no microfone dos mistificadores ou no teclado dos enganadores oficiais e oficiosos da imprensa a serviço do governador.

A outra Paraíba passa e ronca nos estômagos vazios dos mais de 2 milhões de viventes e sobreviventes da Paraíba de verdade que apenas em sonho ou por mágica teriam acesso à Paraíba ilusória inventada por Ricardo Coutinho.
Professor sai em defesa dos HUs
Antes mesmo que o Conselho Universitário da UFCG decidisse – como decidiu na última segunda-feira (29 de outubro) – pela não adesão do Hospital Universitário Alcides Carneiro (HUAC) à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), o Professor Arael Costa já saudava com entusiasmo a reação da comunidade universitária da instituição ao que chama de “mais esse atentado que o Governo Federal perpetra contra a educação e a saúde”.

Refere-se ele à “transformação dos hospitais universitários, institucionalmente unidades de apoio ao ensino médico, em empresas vinculadas ao SUS e ao empresariado, que muitas vezes, como bem temos visto, explora a miséria popular para encher suas burras”. Ele teme, agora, que a UFPB não siga o exemplo campinense e entregue o Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW) “à voracidade empresarial”, algo que segundo ele “bem merece o opróbrio da sociedade”.