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A autonomia da UFPB deu entrada no HU em estado grave e -por ironia- escoltada por um cabo - Por Ednaldo Costa

Zelai pela vossa autonomia, isenta de subordinação política, só fiel à democracia nas suas relações e nos seus movimentos.

Zelai pela vossa autonomia, isenta de subordinação política, só fiel à democracia nas suas relações e nos seus movimentos.
(José Américo de Almeida, na solenidade de instalação da UFPB,1955).

Há quase 65 anos, em 02/12/1955, o Ministro José Américo de Almeida, em célebre discurso intitulado “O Selo da Perpetuidade”, por ocasião da instalação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), sentenciou que ele estava dando as raízes desta instituição e outros lhes dariam asas, frase que está esculpida em bronze no Hall da Reitoria. Era o sonho de fazer da UFPB a “Alma Máter da Pátria”, nas palavras dele, uma semeadora de doutores e de ciência para a vida.

Naquele momento, como que vislumbrando os dias de trevas que esta universidade poderia passar antes de alçar voos, mesmo não sendo um democrata, José Américo – que foi o primeiro Reitor da UFPB – já orientava a necessidade de “zelar pela autonomia, isenta de subordinação política e fiel à democracia”.

Foi uma aula magna, no sentido do latim “magnus”, que significa grande, e que permanece atual, pincipalmente quando, na noite deste 11 de novembro de 2020, essa autonomia da UFPB foi levada ao Hospital Universitário (HU) por um cabo, que acompanhou um professor derrotado nas urnas (último colocado), rejeitado pela vontade da comunidade universitária (onde não obteve um único voto dos Conselhos Superiores) e incluído em uma lista tríplice por força de liminar, mas, ao cabo (aqui não se fala do militar), preferido e nomeado pelo Presidente da República para ser Reitor, em um processo cuja constitucionalidade é questionada e alvo de Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 6565/2020) na Corte Suprema do Brasil, o STF.

A solenidade de posse ou transmissão do cargo de um Reitor da UFPB, que em tempos de normalidade democrática sempre é realizada em concorrida cerimônia pública, no auditório máster da Reitoria da instituição, com a presença de renomados cientistas, advogados, juízes, desembargadores, engenheiros, médicos, jornalistas, prefeitos, governador, reitores de outras instituições congêneres, entidades profissionais e da própria comunidade, foi levada às escondidas para o HU, na calada da noite, sob forte escolta, esvaziada e sob isolamento (até agentes da PF fizeram um corredor polonês na entrada), como que atestando a doença intervencionista que ali se instalava, cujo paciente agonizante é a própria autonomia da UFPB, o transmissor manuseou o poder da caneta contaminada pelo autoritarismo e o professor, que atende pelo nome de Valdiney Veloso Gouveia, é apenas o vírus de quem se serve o momento pandêmico, para ferir a autonomia universitária, e que ainda lá no HU, foi rapidamente apelidado de “virusney”.

Mesmo em uma operação blindada – quase secreta – típica de regimes de exceção, em um ambiente hospitalar que não permite manifestações, alguns estudantes e profissionais da área da saúde souberam da chegada do “virusney” e, dizem, tentaram medicá-lo com algumas doses de gemada, remédio à base de ovos de galinha e que a medicina tradicional de Itabaiana recomenda para a cura de diversas males. Até o caro look do cabelo da “conje” do nada magnífico foi tratado com ovos, gerando um comentário no vídeo postado nas redes sociais, sobre o desperdício de ovos…lamentável.

Só para não fugir do script destes tenebrosos tempos, em que o filho do presidente já ameaçou fechar o STF com um cabo e um soldado, o professor, furtivamente empossado, teve como ilustre convidado e como escolta particular um cabo, surgido na onda político-militarista e que em 2018 se elegeu deputado pelo PSL, coincidentemente o mesmo partido em que foi eleito o presidente e militar reformado Bolsonaro, já sinalizando a que bandeira o reitorado vai prestar continência na UFPB. Jocosamente já se comenta nos corredores que o soldado não veio por estar engraxando os coturnos para possivelmente tomar posse como pró-reitor. Haja pano para limpar tanta lama…

Ironicamente, em uma rápida “googlada” sobre a produção acadêmica do momentaneamente ocupante da cadeira de José Américo na UFPB, encontramos textos que são indicados como da lavra deste professor, cujos títulos falam em “Sentimento de Constrangimento”, “Valores Humanos”, “Preocupação com a Honra” e “Injustiça Social”, mas, chama especial atenção um trabalho recente, de 2020: “Faça o que eu digo, não o que eu faço?…”, que, não tardará a alguém lhe perguntar se ainda vale o escrito ou se já é para esquecer o que ele escreveu.

Que os Conselhos Superiores – onde ainda reina a democracia – jamais permitam que a placa que orna a entrada da Reitoria da UFPB e ostenta a frase de José Américo sobre as raízes, asas e perpetuidade, seja raivosamente substituída neste brevíssimo e rejeitado reitorado, por esta máxima do mau exemplo. Esta aula não serve à Paraíba.

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Ednaldo Costa