Liberdade de Fala

Sou jornalista e “Eu não me calo”! - Por Francisco Airton

“Em um momento no qual a imprensa brasileira vem sofrendo diversos ataques durante a cobertura da pandemia do coronavírus, com agressões verbais e até mesmo físicas, o ex-senador e empresário do Sistema Correio, Roberto Cavalcanti, durante programa na Rádio 98 FM, sugere que jornalistas e radialistas que noticiam as mortes pela COVID-19 deveriam ser apedrejados na rua”.

“Em um momento no qual a imprensa brasileira vem sofrendo diversos ataques durante a cobertura da pandemia do coronavírus, com agressões verbais e até mesmo físicas, o ex-senador e empresário do Sistema Correio, Roberto Cavalcanti, durante programa na Rádio 98 FM, sugere que jornalistas e radialistas que noticiam as mortes pela COVID-19 deveriam ser apedrejados na rua”.

Sem dúvidas o Brasil começa a viver momentos sombrios de muito ódio e violência – sobretudo os jornalistas – que na linha de frente, no compromisso de divulgar os fatos e trazer a informação precisa para a sociedade, vem, nos últimos dias recebendo toda sorte de ataques (verbais e até físicos), sem que seja esboçada qualquer reação mais efetiva de apoio e de proteção – que não sejam notinhas de repúdio e desagravo – por parte dos poderes constituídos. Pelo menos do Legislativo Nacional e Justiça, já que não dá para pensar no governo brasileiro, por que, parte justamente de lá, as maiores agressões!

Começa a ficar muito perigoso o terreno para a imprensa a partir do momento em que as pessoas – notadamente de direita, seguidoras de uma nova ordem construída para massacrar minorias e enaltecer uma elite privilegiada – se sentem no direito de agredir física, moral e até fisicamente, profissionais de imprensa que tem a obrigação de relatar com lisura os fatos e que, nem sempre agrada a determinados setores da sociedade!

Eu ainda era muito jovem quando vivi situações parecidas em que o medo era uma constante na vida de pessoas de luta, jornalistas, artistas e intelectuais que ousavam bater de frente com a ditadura que amordaçava o país impunemente! No meu caso, felizmente, sem sofrer a violência física do regime, pois tive a sorte de protestar e lutar sem, contudo, cair nas armadilhas que vez por outra faziam vítimas bem próximas! Foram anos sombrios para o Brasil e infelizmente, após 35 anos podendo ver esse país respirar um pouco de liberdade, volto a ver e ouvir criaturas desavisadas, pessoas descerebradas ou sem leitura suficiente, pedir a volta do famigerado AI-5, o fechamento do Congresso Nacional e a volta dos militares para comandar o nosso presente! Quem traz esse desejo e faz movimentos em sua defesa, ou não tem o menor conhecimento da recente história do Brasil, é um completo ignorante ou é alguém realmente movido por muita maldade! E aí acho que já é uma questão que envolve tratamento médico!

E é nesse clima de medo e de angustia que vejo a ameaça pairando sobre nossas cabeças, onde um presidente agride a tudo e a todos, manda jornalistas calarem a boca (e vai ficando por isso mesmo), desafia as instituições, invade o STF como se fosse a cozinha da sua casa – sob o olhar perplexo do presidente Toffoly e sem a devida autorização transmite toda a desmoralização da mais alta Corte através das redes sociais! Quem é esse senhor que sub julga os outros poderes, tem um presidente da Câmara dos Deputados e ao que parece, também, do Senado Federal, em suas mãos, um STF que parece emudecer diante das suas investidas e que segue impune destratando, gritando palavrões… que espreme como um bago da laranja, o homem que já chegou a ser uma das mais altas personalidades do Brasil, com respaldo até no exterior – o juiz todo-poderoso-da-Lava-Jato-Sergio Moro –  conseguindo derruba-lo do seu pedestal, passando-o tranquilamente pelo seu amaciador de carnes particular? Quem é essa figura, afinal?

Ouvir o presidente Bolsonaro mandar colegas jornalistas calarem a sua boca, desafiar impérios jornalísticos – a exemplo da Folha de São Paulo a quem chamou de jornaleco e outros baixos adjetivos – sem sofrer um arranhão sequer, começo a desconfiar de onde esteja vindo!

Mas é por essa passividade das instituições, do comprometimento de empresas jornalísticas que, novamente flertam com o fascismo no poder, que profissionais de imprensa em todo o Brasil voltam a sofrer ataques, desmoralizações e ameaças de toda espécie! E vou tentar ir um pouco mais além com esse comentário. O jornalismo é formado de profissionais (homens e mulheres) em sua maioria de caráter irretocável, profissionais comprometidos apenas com a informação precisa e que não se vendem nunca! Então por que abaixar a cabeça? O que realmente está ocorrendo com esses cidadãos probos para que não reajam as pressões? Medo? Então é verdade mesmo? O medo está de volta?

Essa submissão da maioria dos jornalistas é que tem permitido que pessoas de diferentes níveis sociais, se achem no direito de agredir moral e fisicamente aos profissionais de imprensa. Ontem fomos surpreendidos com as declarações de um empresário paraibano – para decepção maior – do setor da comunicação, exaltar-se e sugerir o apedrejamento de jornalistas e radialistas em plena via pública, a todos que venham falar em pandemia e morte pelo Covid-19! Estou falando do empresário e ex-senador pela Paraíba, Roberto Cavalcanti proprietário do Sistema Correio de Comunicação! Então, em rápidas palavras, isso significa dizer que os profissionais que prestam serviço em suas empresas passam a ter uma mordaça, sob pena de serem apedrejados com as bênçãos do senhor?

Quem tem bom senso e não aceita tal comportamento, ficou estarrecido com o “desabafo” do Dr. Roberto! É muito perigoso o que sugere o empresário pois fica agora, também em suas mãos, a responsabilidade por todo o apedrejamento social que qualquer jornalista ou radialista (sobretudo da Paraíba) possa a vir a sofrer daqui para frente, não é mesmo? Em sua infeliz entrevista na Rádio 98 FM, ele tentou ainda justificar o seu “desabafo” e, até, pediu desculpas, mas aí já era muito tarde! Já diz a máxima que “pancadas dadas e palavras ditas, nem Deus tira”! O que foi dito e publicizado, já foi! O que expressado ali é o que infelizmente está dentro dele! O mais triste, ainda, é saber que tem profissional que concorda com isso, pois ao final do áudio pode-se ouvir o agradecimento do jornalista/radialista que ainda parabeniza o entrevistado pela coragem!

Mas após a repercussão da entrevista, as notinhas de apoio a categoria (pelo menos isso) imediatamente começaram a ser emitidas. Em uma NOTA DE REPÚDIO, “O Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Paraíba, filiado à FENAJ, vem a público repudiar as declarações do ex-senador e empresário do Sistema Correio, Roberto Cavalcanti, durante programa na Rádio 98 FM, que faz parte do conglomerado de comunicação.

A declaração além de chocante, diz a nota, causa repulsa na categoria, que foi considerada como serviço essencial durante a pandemia e continua trabalhando em seus postos normalmente. Nem mesmo as funções com possibilidade de trabalho remoto foram liberadas para tal. Outro agravante é a falta de equipamentos de proteção individual como máscaras em diversos desses locais do Sistema Correio, onde os trabalhadores estão expostos e, com isso, já foram identificadas pelo menos cinco infecções pelo vírus, continua a nota.

Agrega-se a essa situação que por si só já define o pensamento do Sr. Roberto Cavalcanti acerca dos trabalhadores que emprega o fato de ter extinguido, em plena pandemia, o jornal impresso Correio da Paraíba, deixando 38 jornalistas desempregados e sem perspectiva”.

Então é só isso? E depois? Na saída do Palácio do Planalto, no cercadinho construído para o gado ruminante, jornalistas são obrigados pelos seus chefes de redação e proprietários das empresas para quem trabalham, a se submeterem a todas as humilhações impostas pelo presidente! Falta determinação, caráter em muitos, coragem para tomar uma atitude e dar um basta a toda essa farra para com a imprensa. Afinal, quando o Capitão vomita impropérios e tripudia em cima dos jornalistas ali plantados, quem se sente humilhados somos nós, é a categoria que naquele momento não tem como revidar a humilhação!

Portanto, chega de “notinhas de desagravos” e de repúdio. Precisamos, em caráter de urgência, urgentíssima, que as entidades representativas dos jornalistas em todas as suas ramificações adotem posturas mais contundentes para com qualquer um que venha a agredir moral ou fisicamente ao profissional de imprensa que tantos serviços tem prestado a esse país! Que se faça agora, antes que seja tarde demais!

Enquanto esperamos algo mais consistente em prol da defesa da nossa classe, uma tomada de posição por parte dos poderes constituídos, vai aqui um recado ao Presidente da República, ao empresariado incomodado com a verdade e demais insatisfeitos com a informação verdadeira, fornecida por profissionais verdadeiros, vocês não vão conseguir nos calar!

Sou jornalista e “Eu não me calo”!

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Francisco Airton