
Uma cena da novela O Outro Lado do Paraíso, exibida na noite de terça-feira 27, gerou uma forte reação de sociedades médicas e de enfermagem, por considerarem que houve disseminação de informações incorretas e perigosas sobre amamentação.
No capítulo, o médico Samuel (interpretado por Eriberto Leão) diz à personagem Karina (Malu Rodrigues), após seu parto, que ela não tem leite suficiente. Ele então afirma que sua mulher, a enfermeira Suzy (Ellen Rocche), pode amamentar o bebê em seu lugar.
Muito comum no passado, a prática, chamada amamentação cruzada, é contraindicada pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) devido ao risco de transmissão de doenças infectocontagiosas como o HIV.
Entidades como a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), além de profissionais de saúde e grupos de apoio ao aleitamento, criticaram a cena por meio de notas de esclarecimento e posts em redes sociais.
Procurada, a Rede Globo afirmou que enviaria uma resposta, que ainda não havia chegado até o fechamento deste texto. “A amamentação cruzada acontecia muito e ainda acontece entre comadres, vizinhas e parentes. Com a propagação da aids e a descoberta de que a doença é transmitida pelo leite materno, as orientações mudaram. Pode parecer um ato de amor e solidariedade, mas é perigoso e não é recomendado”, afirma Elsa Giugliani, presidente do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Segundo a pediatra, mesmo mulheres que passaram por exames recentemente não devem amamentar os bebês de outras mulheres, já que existe um período de janela imunológica – quando o vírus ainda não aparece nos testes comuns. “Nunca dá para ter certeza. E, numa dessas, uma criança pode acabar contraindo uma doença grave”, afirma.
Os especialistas afirmam que um bebê pode receber o leite de outra mulher, desde que ele tenha passado por um processo de controle de qualidade e pasteurização, algo que só acontece nos bancos de leite.