O IMPACTO DA INTERNET: Quem fechará primeiro O Correio da Paraíba ou o Jornal da Paraíba ?

Um celular na mão é um repórter em ação. O “furo” não é mais privilégio dos profissionais da mídia. A instantaneidade da divulgação dos fatos matou a notícia. Plantões da TV e do Rádio, chegam com a informação atrasada. Extinguiram o “departamento de redação”. O comunicador do horário (Rádio) faz o programa acessando os sites, o twitter e blogs. O “vazamento” de subsídios privilegiados pela Polícia, políticos; Justiça deixa a televisão como perspectiva da confirmação ou chancela dos fatos. Ninguém espera mais pelo jornal do dia seguinte.

 

FIN DO JORNAL

AVANÇO IMPREVISTO

Por Junior Gurgel

Do portal apalavraonline.com.br

No último dia do ano de 2014 os jornais diários da cidade de Mossoró (RN), Gazeta do Oeste e O Mossoroense, divulgaram nota em sua primeira página comunicando o encerramento de suas atividades, se despedindo naquela última edição histórica. O Mossoroense era centenário, jornal mais antigo do Rio Grande do Norte. A Gazeta do Oeste tinha quarenta e cinco anos de fundação. No Rio Grande do Norte, há dez anos, circulavam cinco matutinos e um vespertino, hoje restam apenas dois matutinos e apenas um com circulação estadual: Tribuna do Norte. Dezenas de revistas e semanários simplesmente desapareceram na última década.

Na Paraíba, dos que restam, não se sabe ainda quem primeiro fechará suas portas: se O Correio da Paraíba ou o Jornal da Paraíba. Pernambuco e Ceará o destino da mídia impressa é o mesmo. Dois veículos que ainda se mantém abertos, com pouquíssimos assinantes e despidos de publicidades. Editados em dois cadernos de doze páginas, e um encarte onde veiculam editais, (publicações obrigatórias), convite missa e classificados.

Ninguém imaginava que a internet tivesse um avanço tão rápido, a ponto de tirar de circulação, e em tão pouco tempo, periódicos como jornais e revistas. O impacto desta mudança tão brusca mexerá com toda uma cadeia produtiva, formadora de opinião, parturiente de talentos e reveladora de valores latentes, considerado porta de entrada para literatura e meios acadêmicos. Como será preenchida esta lacuna? O fenômeno não acontece apenas no Brasil. Atinge todo ocidente. The Financial Times já anunciou que encerrará as atividades de seu moderníssimo parque gráfico, no final deste ano de 2016. Continuará editando suas matérias virtualmente. Entretanto, no Oriente – principalmente Japão, China e Coreia – jornais diários atingem tiragens acima de 15 milhões de exemplares. Os maiores são do Japão, cuja população é inferior ao Brasil.

Doravante, onde serão editadas as criticas do cinema, da música; teatro; crônica esportiva; policial; política… E os alunos das centenas de cursos de jornalismo das Universidades Púbicas e Privadas? O MEC deixará de ofertar estes cursos? Mercado de trabalho há décadas que vem se extinguindo, e agora é em definitivo. Lembro que o saudoso tribuno Vital do Rego me falando sobre época de estudante de Direito em Recife (anos quarenta do século passado) trabalhou no Diário de Pernambuco como redator do obituário: “nota de falecimento”.

Quando o televisor se tornou um eletrodoméstico barato, de custo acessível ao consumidor brasileiro, a previsão era que o rádio perderia sua importância e desapareceria rapidamente. Principalmente as antigas AM, que hoje estão todas mudando para FM. Os jornais sobreviveriam, pela força da formação de opinião. Ledo engano… Os brasileiros nunca tiveram apetite por leitura.

Na Paraíba, são incontáveis os sites, portais de notícias e blogs. Todos os 223 municípios do estado, por menor que seja, tem no mínimo dois blogueiros. Um a favor e outro contra a Prefeitura, que os mantêm. Sem levarem-se em consideração os que estão voltados para o colunismo social, já que os poucos fotógrafos cerimoniais que ainda restam também tem seu blog. O “face” e seus grupos, o twitter; o insistente whatsapp;  os grupos dos blogs; das categorias profissionais; dos estudantes… Estão todos interligados pela pulverização da informação.

Mas, como avaliar a qualidade desta informação? Quais seus efeitos educativos sobre uma população de 210 milhões de habitantes, onde ainda tem mais de 12% que desconhecem o alfabeto – que não leem nem escrevem – e 72% que sabem ler e escrever são “analfabetos funcionais”: não interpretam um texto de vinte linhas. Neste último exame do ENEM (2015), dezenas de milhares de estudantes secundaristas “zeraram” a prova de redação. Uns não escreveram absolutamente nada. Outros, que tentaram escrever, formaram orações ou frases com palavras ininteligíveis. Todavia, todos tem um telefone com os aplicativos de Watspa, face; twitter. Acessam blogs, e participam dos grupos. Os erros ortográficos são gritantes. O corretivo mesmo insistindo que a palavra está errada, o teimoso digitador escreve como pronuncia. É algo impressionante…

A cada ano, os índices de audiências da televisão aberta vêm despencando rapidamente. Pesquisas qualitativas, marketing e cientistas da área, não sabem mais o que fazerem para recuperarem o prestígio destes veículos. Os custos de produção do entretenimento – como as novelas – estão inviabilizando as obras de épocas, cujo roteiro tem origem na literatura brasileira, em clássicos dos autores imortais como Jorge Amado, Graciliano Ramos; José de Alencar ou Machado de Assis. Os atuais “dramalhões” são puro merchandising de perfumes, roupas; calçados; automóveis; bancos e o turismo do Rio de Janeiro, ou São Paulo.  Não existe mais um “horário nobre”. O telespectador prefere os canais “fechados”, ou as redes sociais.

Um celular na mão é um repórter em ação. O “furo” não é mais privilégio dos profissionais da mídia. A instantaneidade da divulgação dos fatos matou a notícia. Plantões da TV e do Rádio, chegam com a informação atrasada. Extinguiram o “departamento de redação”. O comunicador do horário (Rádio) faz o programa acessando os sites, o twitter e blogs. O “vazamento” de subsídios privilegiados pela Polícia, políticos; Justiça deixa a televisão como perspectiva da confirmação ou chancela dos fatos. Ninguém espera mais pelo jornal do dia seguinte.

Conversando recentemente com um ex-diretor da sucursal do Jornal Folha de São Paulo em Brasília – hoje consultor na área de mídia virtual – perguntamos quando a internet iria também entrar na TV. Ele respondeu, invertendo a pergunta: até quando a TV irá resistir fora da internet?