Os três deputados do PT que integram o Conselho de Ética votarão a favor da continuidade das investigações contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A decisão foi anunciada pelos deputados nesta quarta-feira, depois de reunião da bancada do PT na Casa, em que a maioria dos deputados se posicionou a favor do voto neste sentido. A votação sobre a abertura do processo no Conselho de Ética foi adiada mais uma vez e remarcada para a próxima terça-feira, por causa da votação da meta fiscal de 2015.
Os três deputados — Zé Geraldo (PA), Valmir Prascidelli (SP) e Léo de Brito (AC) — deram entrevista agora há pouco reafirmando que adotaram no conselho a posição da bancada. Os três tinham um ar aliviado, que muito contrastava com a postura da noite de terça-feira na sessão do Conselho.
— A bancada tirou uma posição pela admissibilidade do processo. Vamos votar unidos, expressando a posição da bancada. Nós cobramos uma decisão, e eles nos ajudaram — disse Zé Geraldo.
Indagado se o governo — que teme o enfrentamento com Cunha porque ele tem a prerrogativa para abrir um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT) — foi avisado, ele afirmou que sim.
O petista, que havia dito que Cunha está com a “metralhadora” do impeachment nas mãos, hoje afirmou acreditar que o presidente da Câmara vai repensar a eventual abertura de um processo de impedimento. Caso contrário, admitiria que está chantageando o governo:
— O impeachment é uma faca de dois gumes, porque, se envereda por esse caminho, ele (Cunha) dá uma prova de que está chantageando. Acredito que ele vai repensar, até porque isso ainda não é uma condenação. Ele terá um longo tempo para se defender – disse Zé Geraldo.
O deputado Leo de Brito admitiu que a pressão interna do PT foi “fundamental” para que se posicionassem publicamente. Ontem, o presidente do partido, Rui Falcão, pressionou em sua conta do Twitter para que os petistas votassem pela abertura do processo: “Confio em que nossos deputados, no Conselho de Ética, votem pela admissibilidade”, disse Rui Falcão.
— Foi fundamental (a posição do PT), porque não podemos estar no meio de posições contraditórias — disse o parlamentar, que já havia se posicionado a favor da abertura do processo contra Cunha. Ele afirmou ainda não acreditar em retaliações por parte da tropa de choque do presidente da Câmara.
Mais cedo, o petista José Mentor (SP) ligou para Eduardo Cunha para deixá-lo ciente de que a pressão do PT estava muito pesada e que era provável que a bancada petista se posicionasse pela admissibilidade do processo no Conselho de Ética, como de fato ocorreu.
O deputado Sibá Machado (AC), líder do PT na Câmara, disse que, por conta de “pressões externas”, a decisão não pode mais ser adiada. Ele disse ainda que a bancada já caminhava para esse posicionamento, e que foram impulsionados pela carta assinada pela maioria da bancada do PT na Câmara e pela fala de Rui Falcão:
— É um clamor do petista, e isso influenciou o pensamento da nossa bancada — disse o líder.
Sobre o impeachment, o petista disse que, caso o procedimento seja aberto, a bancada e o governo “terão que conviver com ela”.
— Essa é uma situação da conjuntura política e vamos ter que conviver com ela. O PT estará atento a isso. Da nossa parte, vamos buscar que isso não interfira, esse procedimento (no Conselho) já esta posto, e essa situação do impeachment é uma situação eminentemente política.
Perguntado se haveria retaliação por parte do governo, que trabalhava para que os parlamentares não enfrentassem Cunha, Sibá disse que “Dilma não tem nada a ver com isso”:
— A presidenta Dilma não tem nada a ver com isso, isso é um assunto nosso —afirmou, pregando a independência do PT em relação ao governo:
— Não temos esse tipo de relacionamento.
O Globo