Política

Oposição se afasta de Cunha em processo no Conselho de Ética

Levantamento do GLOBO mostra que petistas poderão decidir abertura da ação

Oposição se afasta de Cunha em processo no Conselho de Ética

 

BRASÍLIA — Após dez meses de batalhas permanentes com o PT e o governo, o destino do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), poderá ficar nas mãos de dois deputados petistas. O GLOBO ouviu segunda e terça-feira 16 dos 21 integrantes do Conselho de Ética e oito deles disseram que as declarações de Cunha à imprensa no fim de semana reforçam a necessidade levar adiante as investigação por quebra de decoro: quatro deputados da oposição (PSDB, DEM e PPS), um do PSB, um do PDT e um do PT, além do presidente do Conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA), que só votará em caso de empate. Caso o relator da representação, Fausto Pinato (PRB-SP), confirme a sinalização de que dará seguimento ao processo contra Cunha, faltariam dois votos para obter a maioria. Além de Zé Geraldo (PT-PA), que disse que votará pela abertura, o PT tem mais dois integrantes no Conselho: Valmir Prascidelli (SP) e Leo de Brito (AC).

O GLOBO ouviu Prascidelli, que disse que irá aguardar o relatório de Pinato para se pronunciar, mas sinalizou que, com base no que veio à tona até agora, há indícios suficientes para dar andamento ao processo. Brito não atendeu às ligações do jornal. Zé Geraldo, no entanto, disse que sua posição será de defender a continuidade do processo. Ele diz que não houve qualquer pressão do PT ou do governo e que, em relação à admissibilidade, não adiantarão apelos para que mude de posição.

— Eu defenderei a continuidade, ainda mais agora, depois da defesa que ele apresentou na imprensa. Não dá para brincar com a inteligência do povo brasileiro. O PT não falou nada e nem acho que vá falar, mas nessa coisa aí não adianta apelo — disse Zé Geraldo.

Na terça-feira, o PSDB reuniu à noite sua bancada e, por unanimidade, decidiu romper com Cunha. Os tucanos prometem, a partir de agora, discursar em plenário pedindo a saída do presidente, o que agrava a situação do deputado na Câmara. Ao longo do dia, reforçando a posição da oposição no Conselho de Ética, os líderes do PSDB, Carlos Sampaio (SP), e do DEM, Mendonça Filho (PE), fizeram declarações contra Cunha.

— Nunca contei com o PSDB pra nada. Aliás, o candidato do PSDB foi o Júlio Delgado, investigado na Lava-jato.

Os tucanos Betinho Gomes (PE) e Nelson Marchezan Júnior (RS) também afirmaram que não há como evitar o andamento do processo. Marchezan disse que a sociedade não “perdoaria o parlamento” caso o Conselho arquivasse sumariamente o processo contra Cunha. Betinho Gomes reforça o entendimento:

— Há elementos suficientes para dar seguimento ao processo no Conselho. Seria um escândalo nacional arquivar sumariamente.

— O que foi apresentado contra o presidente Eduardo Cunha é sério e grave, e, até agora, a defesa que ele apresentou é confusa e deficiente. Mesmo sabendo que há uma causa maior, que é o impeachment, o PSDB jamais vai transigir com a ética — disse Sampaio.

— O que levou a oposição a se posicionar foi o embaraço do presidente em sair com entrevistas à imprensa achando que ia cessar os questionamentos. Ao meu ver, ele aumentou os questionamentos. A defesa tem furos e evidentemente a imprensa, a sociedade e o próprio parlamento irão questionar isso em busca dos esclarecimento às graves denúncias. Eu sempre disse que não ia blindá-lo e nem prejulgá-lo. O tempo só complica ainda mais o cenário — acrescentou Mendonça Filho.

A oposição pressiona Cunha pela abertura do impeachment contra a presidente Dilma e vinha dando declarações pouco efetivas contra o presidente da Câmara. Cunha, por sua vez, vinha usando sua prerrogativa de decidir sobre os pedidos para equilibrar-se entre o apoio do governo e da oposição. Na terça-feira, em mais um movimento para não perder de vez o apoio dos oposicionistas, Cunha sinalizou a líderes que pode assinar o pedido de impeachment até o dia 24, data prevista para a votação do relatório no Conselho de Ética.

Todos os deputados da oposição tomam cuidado de não entrar no mérito da representação feita pelo PSOL e pela Rede contra o presidente da Casa, para evitar acusação de prejulgamento, mas afirmam que existem evidências que obrigam o conselho a aprofundar as investigações.

— É até importante que se dê continuidade para que o presidente possa se defender. O foro adequado é o conselho. O processo deve andar — afirmou o deputado do DEM, Paulo Azi (BA).

Mesmo entre os deputados mais próximos de Cunha no Conselho, muitos preferem não declarar voto e dizem querer aguardar o relatório de Pinato para se posicionar. É o caso dos deputados Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), Cacá Leão (PP-BA), Ricardo Barros, Washington Reis (PMDB-RJ) e Wellington Roberto (PB). O único a defender abertamente o arquivamento imediato da ação é Paulinho da Força (SD-SP).

Fonte: OGlobo.com