Ódio na veia
Por Lúcio Vilar*
O analfabetismo funcional e político fez a farra no último domingo no parque de bizarrices e anacronismos da classe média branca, alienada e endinheirada. Desfilaram, sem vergonha, saudades da ditadura militar e dos assassinatos políticos que macularam a história contemporânea do Brasil e de países latino-americanos que passaram por igual pesadelo. Não precisamos de uma tese para entender esse filme de terror.
Uma onda de ódio injetado em grande parte pela mídia – que agora recua, mas o ‘monstrengo’ já está solto nas ruas… – contamina e se espalha impunemente. Desrespeitam personalidades, instituições e até (pasmem!) a própria mídia (vide episódios sofridos pela âncora da Globo News, Cristiana Lobo, e sua equipe, solenemente insultados no domingo por manifestantes… de direita). Pra completar, duas páginas no Facebook incitam abertamente o macabro desejo de morte.
“Morte a Dilma” e “Morre Lula” são duas comunidades: na primeira, a sutileza sobre o conteúdo da página é assustador em uma única frase: “Matem essa mulher”. Na outra: “Esta é uma página de todos os que odeiam o Lula”.
Uma das imagens resume o dantesco quadro: no estilo cartaz de cinema, um Bolsonaro ‘rambo’ aparece empunhando uma arma; logo atrás, banner da campanha de Dilma onde um cão faz xixi na foto, além de escombros do Congresso Nacional e bandeira do PT rasgada. “Em uma nação tomada pela doença, ele será a cura. Eu sou o Mito”, diz ‘eloquente’ texto.
E assim caminha o Brasil ‘em transe’, entre o delírio golpista e a lucidez da manutenção da ordem democrática que esteve nas ruas nesta quinta.
(*) Texto transcrito da coluna Caleidoscópio Midiático (CORREIO da Paraíba,).